Nove pessoas foram mortas – oito no sábado (24) e uma nesta segunda-feira (26), durante duas operações da Polícia Militar na comunidade da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro. A ação desta segunda-feira foi realizada pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) e matou um homem, suspeito de envolvimento com o tráfico, segundo a PM.
De acordo com informações da PM, policiais do Bope faziam patrulhamento pela localidade conhecida como 199 quando “entraram em confronto com criminosos armados”. No confronto, um homem foi ferido a bala e levado ainda com vida para o Hospital Miguel Couto, mas morreu ao dar entrada na unidade hospitalar. Segundo a PM, o homem portava um fuzil, que foi apreendido.
Segundo contaram moradores, na madrugada de sábado, policiais do Batalhão de Choque chegaram atirando em um baile funk que acontecia em localidade conhecida como Roupa Suja. Oito pessoas morreram.
Em versão oficial, policiais militares alegam que revidaram disparos de criminosos armados e que “houve confronto”. Apresentaram, ainda, um fuzil, seis pistolas e três granadas que teriam sido apreendidos no local.
Os moradores relataram que as vítimas tinham se rendido, mas ainda assim, foram mortas. “A polícia chegou quebrando tudo. Atiraram na direção de quem estava na festa do (DJ) LC e também em quem correu quando ouviu os tiros”, relatou uma moradora.
Um dos oito mortos na chacina foi o dançarino Matheus Duarte de Oliveira, de 19 anos. Depois de se apresentar, em São Gonçalo, com o grupo do projeto “Valsa Noite de Encantos” (que há mais de 20 anos proporciona aulas de dança para jovens carentes da favela), foi assassinado.
“Mais um negro e favelado nas estatísticas dessa cidade. É muito fácil dizer, sem provar, que o Matheus era bandido. Não era! Ele dançava em troca de um cachê, enquanto não arranjava um emprego fixo. Tinha acabado de tirar a carteira de trabalho. Antes de ser assassinado, tinha se apresentado”, disse o professor do projeto Alexandre Izaías.
A crise da violência não se limita a capital fluminense, em Maricá, na região metropolitana do Rio, cinco jovens foram mortos a tiros. Os corpos foram encontrados, na madrugada de domingo (25), no conjunto habitacional Carlos Marighella, do programa Minha Casa, Minha Vida, em Itaipuaçu. Todos foram executados com tiros na cabeça por dois homens armados que estavam em uma moto.
Os crimes estão sendo investigados pela Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), que periciou o local em busca de evidências e está à procura de testemunhas.
Em meio à intervenção federal, com uso das Forças Armadas na segurança pública, o Rio de Janeiro continua vendo seu povo morrer e não registra mudanças nas áreas dominadas pelo tráfico de drogas e milícias. Um levantamento do número de mortes e de feridos, realizado pelo Correio do Povo revelou por meio do aplicativo Fogo Cruzado, que monitora em tempo real os atos de violência, os dados do primeiro mês de intervenção.
As tropas das Forças Armadas chegaram ao Rio em 17 de fevereiro — 24 horas após o presidente Michel Temer assinar o decreto de intervenção. Até 17 de março, ou seja, no período de um mês, 150 pessoas foram assassinadas na região metropolitana da capital. Já nos 30 dias anteriores à intervenção, entre 16 de janeiro e 16 de fevereiro, o número de homicídios fechou em 126, ou seja, ou aumento de 19% nas mortes.
ESTADO
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirmou em entrevista ao jornal “O Globo” que “Uma solução exclusivamente militar não irá resolver” a crise da segurança no estado. Embora tenha assegurado todo o apoio do Exército à intervenção, o general disse que é preocupante a frequência com que as operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) vêm ocorrendo e pediu “ação de governo efetiva”.
“A experiência tem demonstrado que, após a saída das tropas, o crime organizado retorna às suas atividades e recupera o controle tácito local. É fundamental uma ação de governo efetiva nas esferas econômica e psicossocial, além de medidas que abordem questões importantes como uma eventual reforma na legislação criminal e no processo penal, a necessidade de melhoria no sistema prisional, dentre outras”, disse o General.
Protesto condena morte de policiais
Policiais civis, militares e bombeiros do Rio de Janeiro, protestaram, no último domingo (25), em Copacabana, contra alto índice de mortes na profissão. O ato também homenageou Marechal, morador da Rocinha que foi morto em tiroteio semana passada.
O ato, que reuniu mais de mil pessoas, caminhou na Praia de Copacabana, para chamar a atenção de autoridades e da sociedade sobre o alto índice de mortes de policiais e denunciar a falta de estrutura de trabalho dos profissionais da segurança pública. Somente este ano foram 28 policiais mortos em serviço. Os manifestantes, incluindo familiares de policiais vítimas da violência do Rio, usaram faixas e cartazes como forma de protesto.
A mãe do soldado Felipe Santos de Mesquita, morto na última quarta-feira (21), durante uma troca de tiros entre PMs e bandidos, Ana Cissa, clamou por mais valorização do poder público aos policiais. “Preciso que haja Justiça, para que outras mães não passem pelo que eu estou passando agora. Só quem perde um filho sabe a dor. Enquanto os políticos defendem os bandidos, meu filho estava defendendo a pátria e a cidade dele. Agradeço a deus por tudo que ensinei ao filho. Ele dizia que se fosse para morrer, que fosse defendendo meu país e minha cidade”, desabafou.