O laboratório químico-farmacêutico brasileiro União Química iniciou nesta quinta-feira (20) em sua fábrica de São Paulo a produção nacional da vacina Sputnik V, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, da Rússia. Entretanto, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não aprovou o uso da Sputnik V no Brasil, as 100 mil doses doses do primeiro lote vão ser destinadas para exportação aos países da América Latina.
A apresentação do primeiro lote foi feita em entrevista à imprensa, na sede do laboratório em Guarulhos (SP) com a participação do vice-presidente de operações, José Luís Junqueira, de Paula Melo, vice-presidente de qualidade, assuntos regulatórios e inovação, e de Daniel Araújo, diretor de assuntos regulatórios da empresa. Como a Anvisa está protelando a aprovação da vacina no Brasil, os rótulos do primeiro lote estão em espanhol, já que serão exportadas para os países vizinhos.
A vacina que a empresa União Química começou a produzir em solo brasileiro e que não poderá ser usada nos brasileiros já foi aprovada para uso em 66 países. O imunizante ocupa a segunda posição mundial em aprovações de agências reguladoras estatais. A vacina tem eficácia de 97,6%, baseando-se na análise dos dados de 3,8 milhões de russos vacinados, sendo esta porcentagem mais alta do que a eficácia revelada antes na revista científica The Lancet (91,6%).
Além da Rússia e agora o Brasil, a vacina é produzida na Argentina, na Sérvia, no Egito e na Turquia.
Os desenvolvedores russos da vacina informaram do sucesso da produção brasileira. “O primeiro lote da Sputnik V foi produzido pela proeminente fabricante brasileira União Química. Após o controle de qualidade no Centro Gamaleya, a vacina produzida pela União Química será exportada para outros países da América Latina para combater a COVID-19”, escreveram os representantes da Sputnik V. A empresa produziu o lote-piloto do imunizante desenvolvido pelo Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya da Rússia, e depois enviou o lote-piloto a Moscou para certificação.
Fruto da sabotagem de Bolsonaro à luta contra a pandemia e à aquisição de vacinas, o Brasil é hoje o segundo país do mundo em número absoluto de mortes por Covid-19. A situação é surreal. O Brasil está atrasado em sua vacinação, tendo imunizado menos de 10% de sua população com as duas doses de vacina. Há falta de vacinas no país e a Anvisa protela a aprovação da vacina da União Química. O país já se aproxima de 16 milhões de infectados. Já são quase 450 mil o número de mortos, vítimas do coronavírus. Vários Estados tiveram que interromper a imunização de suas populações por falta de imunizantes.
No final de abril, a Anvisa rejeitou a aprovação dos pedidos de autorização excepcional e temporária para importação e distribuição da vacina russa no Brasil.
Além do pedido feito pela União Química de aprovação para uso emergencial da vacina no Brasil, governadores do Nordeste e do Norte do país também pediram autorização para importar 37 milhões de doses da Sputnik V da Rússia. Depois da recusa da Anvisa, alegando falta de segurança e de documentação, o Estado do Maranhão enviou ofícios à agência solicitando informações complementares e comunicando a existência de documentação comprobatória dos requisitos técnicos de eficácia, qualidade e segurança da vacina em análise.
Até agora, apesar da crise da falta de vacinas no país, a agência brasileira segue protelando a aprovação do uso emergencial da vacina. Fernando Marques, presidente da União Química, disse que a farmacêutica tem capacidade de produzir 8 milhões de doses por mês. Ele informou que, infelizmente, a Sputnik V produzida por sua empresa não será usada no Brasil até que seja aprovada. Entretanto, ele informou que países vizinhos da América Latina já aprovaram a vacina e estão solicitando entregas.