Pesticidas vetados na União Europeia (UE) foram detectados em frutas vindas do Brasil em investigação realizada pela organização ambiental Greenpeace.
Mangas, mamões, melões, figos, limões verdes e outras amostras de frutas do Brasil comercializadas na Alemanha entre abril e maio foram analisadas por dois laboratórios independentes em busca de vestígios de agrotóxicos. Dois terços delas continham resíduos de mais de um pesticida, com o caso extremo de um mamão apresentando nove tipos diferentes. Em quatro casos os níveis ultrapassavam os limites permitidos.
O alarmante, mas previsível, resultado foi apresentado num relatório da organização ambiental Greenpeace nesta quarta-feira (19/05): de 70 vegetais testados, 59 acusaram a presença de 35 diferentes substâncias pesticidas, sendo 11 delas não permitidas na União Europeia.
“Em abril de 2021, 3.231 pesticidas eram aprovados no Brasil. O governo Bolsonaro emitiu o recorde de 1.172 autorizações em apenas 845 dias de governo, sendo responsável por 36% de todos os pesticidas que podem ser comercializados legalmente no Brasil”, diz o texto.
Entre as substâncias detectadas que não são permitidas na União Europeia estão os inseticidas Imidacloprid e Chlorfenapyr, fabricadas pelas alemãs Bayer e Basf. No total, a Bayer fabrica 12 dos agrotóxicos encontrados, e a Basf, sete.
“Também as gigantes alemãs da química prejudicam seres humanos, animais e a natureza no Brasil. Um ciclo tóxico, pois, por sua vez, os vegetais contaminados vão parar na nossa salada de frutas na Alemanha”, criticou Jürgen Knirsch, especialista em comércio da Greenpeace, citado pelo jornal Süddeutsche Zeitung.
Mais da metade das substâncias detectadas, 21 de 35, pertencem ao grupo dos pesticidas classificados como altamente perigosos para a saúde e o meio ambiente (HHP, na sigla em inglês).
O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo em números absolutos, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), e tem uma lista de 2.306 produtos formulados de agrotóxicos registrados para venda, de acordo com dados do sistema Agrofit, do Ministério da Agricultura.
Desde janeiro de 2019, quando Jair Bolsonaro assumiu a presidência da República, o processo de registro de novos agrotóxicos se acelerou. Somente em 2019, foram aprovados 474 novos agrotóxicos – entre eles, 42 banidos na UE.
A Basf vende no Brasil pelo menos 12 substâncias não permitidas na UE. Duas delas, cianamida e flufenoxurom, tiveram a licença explicitamente negada ao final do exame para o pedido de registro. Além disso, seis das substâncias estão na lista da PAN de agrotóxicos altamente perigosos.
Mas, como de depreende das informações expostas, o Brasil não faz isso sozinho. Depois do Reino Unido e da França, a Alemanha é a terceira maior exportadora do setor para a região: em 2020, cerca de 12% dos agrotóxicos permitidos no Brasil foram vendidos pela Bayer e a Basf. O Greenpeace condena a “dupla moral alemã”.
“Mais de dois terços das substâncias vendidas por firmas alemãs no Brasil são classificadas como pesticidas altamente perigosos”, diz Knirsch. Diversos deles estão proibidos na UE, “apesar disso, a Alemanha permite a exportação de pesticidas tóxicos para o Brasil, e os conglomerados químicos alemães lucram com isso”.
O denuncia coloca questionamentos ao acordo de livre comércio UE-Mercosul. Com ele, o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai pretendem obter melhores oportunidades para seus produtos agrários nos mercados da Europa, enquanto os Estados-membros da UE querem exportar mais pesticidas, automóveis e outras mercadorias.
O Greenpeace reivindica uma suspensão do acordo, sobre o qual os ministros europeus do Comércio deverão deliberar ainda na penúltima semana de maio, em Bruxelas.