A Fundação Maurício Grabois, do PCdoB, realizou um debate com o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, vice-presidente do PDT, e os economistas Maryse Farhi, José Luís Oreiro e José Carlos de Souza Braga sobre como “reorientar a economia financeirizada para uma economia produtiva”.
O evento, organizado pela cátedra Cláudio Campos, aconteceu na tarde do sábado (22) pela internet.
A sétima mesa do seminário, sob o tema “Reorientar a economia financeirizada para uma economia produtiva” foi mediada pelo economista da Fundação Maurício Grabois, Aloisio Sergio Barroso, e trouxe ainda os professores de economia José Carlos de Souza Braga (Unicamp); José Luís Oreiro (UnB), e Maryse Farhi (Unicamp).
Para Ciro, “nossa tarefa é construir um projeto para o país” e derrotar Bolsonaro, que ele avalia já rejeitado pela população brasileira. O ex-governador e ex-ministro ponderou como viável a formação de uma Frente Ampla para superar o atual governo e o desmonte do Estado brasileiro.
Ciro Gomes disse que a base para a reorientação da economia financeirizada para a economia produtiva deve ser a atuação do Estado. Ao contrário do que pregam os “intelectuais” neoliberais, Ciro disse que o Estado nacional deve ser “forte e energizado, com alta taxa de investimentos”.
“Nunca aconteceu infraestrutura em país nenhum sem investimento do Estado”, enfatizou o ex-governador. Ciro afirmou que o principal entrave para que o Estado tenha esse papel é, hoje, o teto de gastos aprovado no governo de Michel Temer.
“As interdições fiscais de uma pseudo-austeridade se mostraram uma mentira”, afirmou.
Ciro classificou as famigeradas “reformas” (Previdência, trabalhista) como um “assalto patrimonialista, que transformam o Estado brasileiro numa ferramenta de transferência de renda do setor produtivo para alguns rentistas”.
Segundo ele, mesmo os “governos de Lula e Dilma” não tiveram características desenvolvimentistas, porque praticaram os maiores juros do mundo, o que favorece diretamente o setor financeiro, e deixaram a taxa de câmbio em um nível que favorece o consumo de produtos estrangeiros, asfixiando, assim, a indústria nacional.
“Quando fica mais barato ir à Miami, que a Salvador, você destrói sua estrutura produtiva interna. Tudo dolarizado vem de fora”.
Ciro destacou, ainda, que é impossível pensar na reindustrialização do país sem tocar na questão do atraso tecnológico brasileiro. No período desenvolvimentista do século XX, esse problema era de menor relevância porque o próprio maquinário envolvido na produção era de menor complexidade.
Gomes defendeu que é fundamental que os partidos saibam envolver o povo na discussão econômica e mobilizá-lo para que possa defender os interesses nacionais, diferente do que aconteceu nas últimas décadas.
A economista Maryse Farhi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), concentrou sua f em um dos mecanismos para evitar a financeirização da economia: o controle de capitais.
Um dos exemplos dado foi o controle do câmbio, que não é praticado na lógica neoliberal. Atualmente, a cotação da moeda, no caso brasileiro, o Real, varia de acordo com lógicas de especulação e que atendem aos interesses do setor financeiro, e não com o objetivo de desenvolver o país.
De acordo com Maryse, o país está, hoje, sujeito até mesmo à fuga imediata de capitais por conta da falta de controle, o que prejudica o planejamento.
José Luis Oreiro, que é professor da Universidade de Brasília (UnB), também destacou a importância do Estado no desenvolvimento nacional.
Para Oreiro, é fundamental buscar o aumento da produtividade, através da modernização do maquinário, nas indústrias brasileiras, porque isso gera aumento nos salários, o que, por sua vez, gera aumento no consumo, o que retorna para a produção e permite novos investimentos. Oreiro acrescentou que para aumentar o perfil de renda da população brasileira é necessário aumentar o perfil do emprego.
O economista trouxe para o debate o conceito de complexidade econômica, que mede o nível de diversificação e sofistificação econômica. A partir do uso deste conceito, pode-se observar que a diversificação e a modernização da produção são importantes para o crescimento da economia.
O titular da cátedra Cláudio Campos, o economista Nilson Araújo de Souza, fez uma intervenção no debate enfatizando que o projeto nacional de desenvolvimento deve dar prioridade para a produção voltada para o mercado interno, ao invés da produção voltada para exportação. Para ele, a exportação deve ser apenas complementar.
A par do seminário, a editora Anita Garibaldi com a Fundação Maurício Grabois lançaram, no último dia 12, o livro “Pensamento Nacional-Desenvolvimentista”, coletânea de 31 textos de autores como Getúlio Vargas, Miguel Arraes, Roberto Simonsen, Álvaro Vieira Pinto, Nelson Werneck Sodré, Guerreiro Ramos, Haroldo Lima, Anízio Teixeira, Cláudio Campos, Nilson Araújo de Souza.