“O mundo começou a vacinação no dia 8 de dezembro. No final de dezembro, o mundo tinha aplicado um pouco mais de 4 milhões de doses; nós tínhamos, no Butantan, 5,5 milhões de doses prontas, mais 4 milhões em processamento, sem contato com o ministério”
Em sua primeira declaração à CPI da Covid no Senado, nesta quinta-feira (27), o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que fez a primeira oferta de doses da Coronavac ao Ministério da Saúde ainda em julho do ano passado, mas que não recebeu retorno.
“Mandei um ofício no dia 30 de julho de 2020, ressaltando a importância de tomar essa iniciativa num momento que não tinha a vacina. Ofertamos 60 milhões de doses que poderiam ser entregues no último trimestre de 2020”, declarou.
“Um pouquinho depois, como não houve uma resposta efetiva, nós reforçamos o ofício. Em agosto, além de reforçar o ofício, solicitamos apoio financeiro do ministério para apoiar o estudo clínico, com previsão de custo de R$ 100 milhões, e para reformar a fábrica”, afirmou.
Dimas Covas afirmou ainda que em 7 de outubro de 2020, o Instituto Butantan fez outra proposta ao Ministério da Saúde, desta vez com a oferta de 100 milhões de doses. O então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sinalizou favorável à proposta, mas foi desautorizado em seguida pelo presidente Jair Bolsonaro, como foi publicamente divulgado no final daquele mês.
“O mundo começou a vacinação no dia 8 de dezembro. No final de dezembro, o mundo tinha aplicado um pouco mais de 4 milhões de doses; nós tínhamos, no Butantan, 5,5 milhões de doses prontas, mais 4 milhões em processamento, sem contato com o ministério”, relatou.
“Poderíamos ter iniciado a vacinação antes do que começou? Nós já tínhamos as doses, estavam disponíveis, e eu, muitas vezes, declarei, de público, que o Brasil poderia ser o primeiro país do mundo a começar a vacinação, não fosse os percalços que nós tínhamos que enfrentar durante esse período, tanto do ponto de vista do contrato como do ponto de vista também regulatório”, esclareceu.
“Quer dizer, a regulamentação para uso emergencial das vacinas no Brasil saiu em dezembro pela Anvisa”, acrescentou.
ESCLARECIMENTOS QUE DEVEM SER FEITOS
O diretor deve esclarecer aos senadores sobre as tratativas do instituto com o Ministério da Saúde na compra da Coronavac, vacina contra Covid-19 produzida pelo Instituto em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.
No roteiro de perguntas dos senadores, deve estar o episódio de outubro do ano passado, quando o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o então ministro Eduardo Pazuello sobre a compra de 46 milhões de doses do imunizante.
À época, Bolsonaro declarou: “a vacina chinesa de João Doria, qualquer vacina antes de ser disponibilizada à população, deve ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. O povo brasileiro não será cobaia de ninguém. Minha decisão é a de não adquirir a referida vacina”.