O líder do partido Yamina, Nafatali Bennett, anunciou na noite deste domingo (30), que fechou o acordo com o dirigente do partido Yesh Atid, Yair Lapid, para formar uma ampla coalizão com correntes de esquerda, centro e direita para chegar a um governo com o afastamento de Benjamin Netanyahu (tratado em Israel pela alcunha de Bibi) do cargo de primeiro-ministro.
A declaração de Bennett veio após negociações prolongadas dirigidas por Lapid que teve a paciência e determinação de discutir com um amplo conjunto de partidos insistindo que esta é a única saída viável ao destrutivo impasse criado pela aliança dos seguidores de Netanyahu com a ultra-direita e submetidos aos partidos religiosos, uma formação que não consegue chegar a 48 das 61 necessárias para atingir a maioria dos 120 deputados do parlamento israelense o Knesset.
Do outro lado, Lapid está conversando para anunciar sete acordos em torno do novo governo nos próximos dias entre o Yesh Atid – encarregado pelo presidente Reuven Rivlin de formar o governo – com o Meretz (esquerda), Avodá (trabalhistas), Kahol Lavan (centro), Israel Beiteinu (centro), Nova Esperança (direita), Yamina (direita, dirigido por Bennett) e a Lista Árabe Unida. Tais entendimentos levariam Lapid a formar um governo de “unidade” com o apoio de 65 deputados e oito formações políticas. As sete cadeiras restante seriam da aliança denominada Lista Conjunta, de composição predominantemente árabe com comunistas (Hadash) mais o Balad (próximo dos ideais nasseristas) e Taal (de concepção nacionalista árabe). A Lista Conjunta pode votar contra o novo governo ou se abster, mas não apoiaria um governo dirigido por Netanyahu em hipótese alguma.
Essa correlação de forças prestes a se constituir em governo mostra um isolamento de um dos únicos governantes que apoiam Bolsonaro (que já perdeu o amigo na Casa Branca, Donald Trump, que chegou a receitar injeção de detergente para conter o coronavírus).
Tal isolamento torna realmente próxima e factível a formação deste governo com base em um bloco amplo “anti-Netanyahu”. O jornal israelense Haaretz abre uma das suas matérias de análise da situação criada após o anúncio do entendimento Lapid-Bennett, dizendo que “a formação de um governo sem Netanyahu nunca esteve tão perto”.
Além disso, a formação deste governo superaria um impasse do qual Israel não consegue sair há dois anos e quatro eleições e depois de 12 anos de governo de Bibi. Sem essa formação os israelenses iriam para uma nova e desgastante eleição sem a possibilidade, inclusive, de aprovação de orçamento até que se estabilize um governo com 4 anos e 6 meses de mandato.
Isso foi traduzido pela declaração de Naftali Bennett: “As eleições já demonstraram que não existe a possibilidade um governo de direita sob Netanyahu. É a unidade ou a quinta eleição”.
O governo que agora pode emergir destas negociações seria de rotação com Bennett na posição de primeiro-ministro por dois anos e três meses e Lapid como premiê no restante do mandato. De imediato, Lapid assumiria a posição de ministro do Exterior. A previsão é de um governo de 27 ministérios com a composição de 7 indicados pela esquerda, 13 pelos centristas e 7 pela direita. A Lista Árabe Unida, deve indicar a direção de algumas comissões do parlamento e conquistar aumento de participação no orçamento principalmente para a educação e a segurança nas cidades e aldeias predominantemente árabes, assim como a condição de supervisionar as locações orçamentárias.
“VERGONHA”
Netanyahu apareceu na televisão, minutos após a declaração de Bennetr, mostrando-se gravemente descompensado e chamando o acordo Lapid-Bennett de “vergonha do século” e denominando o governo que dele surgiria de “governo da traição, da desconfiança e da instabilidade” e afirmando que somente com um “governo de direita para todos os cidadãos”, obviamente encabeçado por ele, “Israel poderá ter segurança”.
Isto dito por um político que está cada dia mais isolado, que desavergonhadamente atuou para elevar a tensão entre palestinos e israelenses levando a um confronto com quase 300 mortos a maioria de palestinos e a atritos nunca havidos antes entre habitantes árabes e judeus em todas as cidades mistas, um elemento que está indiciado em quatro processos por corrupção, envolvendo receptação de suborno, fraude e quebra de confiança – segundo afirmam a polícia e o Ministério Público – mostra uma figura em alto grau de decrepitude e delírio.
Depois de difamar abertamente antigos parceiros (Gideon Saar, do Nova Esperança e Bennett, do Yamina) lhes ofereceu um governo com o mandato dividido em três períodos com cada um como premiê para formar um governo com ele “ao invés de um governo de esquerda”.
“Podemos antever um governo de sucesso garantido, de direita”, prosseguiu.
Quanto à rotação prometida a Saar e Bennett, admitiu vê-la como “muito inaceitável, não usual, enviesada…, mas melhor do que um governo de esquerda”.
Logo após essa sua fala, manifestantes direitistas ocuparam a frente das casas dos deputados ligados a Bennett, com faixas dizendo “Não a um governo de esquerda” e “Bennett traidor”. Os deputados têm informado de ameaças a sua integridade desde que as negociações pela formação de um governo de unidade tiveram início.
Os próximos dias são de expectativa em torno de qual jogada Netanyahu pode apelar para se manter à frente do país, o recente bombardeio à Faixa de Gaza, mostra um desequilibrado capaz de qualquer coisa, à frente de uma turba direitista e um exército com poder nuclear. A questão, portanto, colocada aos israelenses é contê-lo.