A infectologista Luana Araújo reafirmou que a insistência sobre o uso da cloroquina no combate à Covid-19 é “anacrônica e sem cabimento” e defendeu a testagem, rastreio de contatos e isolamento dos casos confirmados.
A médica explicou que a “testagem agressiva” pode ajudar a simplificar o combate ao coronavírus, uma vez que as autoridades saberão especificamente onde os casos estão acontecendo e poderão isolar populações menores.
Em entrevista à CNN, Luana Araújo disse que acredita ser “muito estranho” que seu nome tenha sido vetado por Bolsonaro por conta de seu posicionamento contrário ao uso da cloroquina em pacientes com Covid.
“Eu não costumo me posicionar contra governos específicos. Eu trabalho com governos, eu me posiciono contra políticas públicas que considero que não sejam apropriadas”.
“Acho que tenho o direito e o dever, como cidadã brasileira, pesquisadora, epidemiologista, também de me posicionar com relação às políticas de saúde pública do meu próprio país”, continuou.
Araújo disse que a autonomia médica “não é carta branca” e os medicamentos prescritos devem ser amparados por evidências e pesquisas científicas, ao contrário do caso da cloroquina.
A infectologista relatou que pôde trabalhar com liberdade nos seus dez dias no Ministério da Saúde, mas sentiu que tinha algo errado quando sua nomeação não aconteceu na data combinada.
“Houve, ao final do dia, esse encontro e essa conversa com a notícia. Eu entendi que a coisa estava um pouco estranha a partir do momento que existia uma data para essa nomeação. A gente sente as coisas, achei que havia alguma coisa estranha”.
Luana Araújo disse que a “nossa situação atual é sensível. A gente passou por um pico terrível”, quando o número de mortes diárias passou de 3 mil, e hoje esse número é superior a 2 mil. Segundo ela, “existem bolsões de recrudescência no número de casos, e isso é perigoso”.
Ela afirmou que como a vacinação no Brasil ainda é restrita, com 10% da população tendo recebido as duas doses da vacina, “a gente não consegue contar com o fato de que as vacinas vão reduzir a gravidade dos casos. Até esse momento, quanto mais caso eu tenho, maior a chance de ir para moderado ou grave e de sobrecarregar o sistema de saúde”.