“O Futuro Pertence à Jovem Guarda”, disse ele, repetindo o revolucionário de 1917. “Estou decepcionado com egoísmo, preconceito, intolerância. Mas eu continuo acreditando no ser humano”, afirmou Erasmo, ao completar seus 80 anos
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o cantor e compositor, que completou 80 anos neste sábado (5), falou do momento grave e triste pelo qual o Brasil está passando. Ao comentar as denúncias de omissões e do negacionismo das autoridades, reveladas pela CPI da Covid, ele não perdoou. “É um circo. É inacreditável, eu não sei como tem gente tão sem noção. Fico bestificado de ver tanta desinformação. A cada dia sou surpreendido por mais blablablá, isso me deixa muito triste”, disse ele, diante de tanto sofrimento e de quase meio milhão de brasileiros mortos.
“Há um ano e quatro meses eu e minha mulher estamos dentro de casa. A gente não sai, não vai a lugar nenhum. Cumpri bem todas as regras. A gente foi se adaptando, sentindo falta de algumas coisas. Estava com um trabalho novo pronto para gravar, chamado ‘O Futuro Pertence à Jovem Guarda’. É uma frase do Lênin, dela é que foi tirado o nome Jovem Guarda, pelo Carlito Maia”, contou Erasmo, dizendo que estava voltando ao tema quando foi pego de surpresa pelo início da pandemia.
Pronto para entrar em estúdio e já com datas marcadas de shows no Rio e em São Paulo para lançar o disco, Erasmo adiou o projeto e se concentrou em outras atividades. “Comecei a fazer playlist. Meu novo xodó é isso. Com as músicas que eu mais gosto na minha vida inteira. Tem mais de 700. Passei a ver mais séries de televisão, muita notícia e futebol, quando dá. Fiquei mais caseiro. Desenvolvi comidinhas, umas experimentações gastronômicas.”
Em sua simplicidade, uma marca de Erasmo, ele contou o que sempre gostou de fazer. “Eu adoro compor, mas estou doido para ir ao estúdio. Discutir com os músicos, fazer arranjos, se não gostar fazer de novo. E ali já fico pensando na estrada.” Ao falar sobre turnês, a lembrança imediata nem é estar no palco. “Na estrada é maravilhoso! A convivência com a banda, conhecer outros lugares, outras pessoas. Tem a churrascaria na beira da estrada, queijo coalho, caldo de cana, pastel, essas maravilhas.”
O cantor e compositor que marcou época na MPB confessou que gosta de colaborações, e fez muitas parcerias em projetos de artistas mais jovens. “Eu me sinto bem. Quando surgi, eu ensinei. Agora, aprendo com eles. Mas não é com todos os jovens, tem alguns que eu desaprendo se fizer algo em parceria”, afirma com uma risada solta. “Mas é sempre moçada boa que aparece na minha vida. São os jovens que mudam as coisas.”
Ao falar dele próprio como uma pessoa que está completando 80 anos, ele reverenciou o amor, a honestidade e a dignidade e desancou os governantes se dizendo bestificado com o egoísmo e a corrupção. “Eu amo o homem que eu sou hoje, bicho. Tenho boa fé, sem inveja das pessoas, tenho um amor grande para distribuir às pessoas, tenho minha profissão honesta, digna. E fico bestificado com quem não é assim, essa gente corrupta que governa. Não admito alguém usar uma pandemia em proveito próprio.”
Ele encerrou a entrevista misturando tristeza e esperança. “Tinha tudo para ser super feliz, mas por dentro não sou totalmente feliz por causa dessa corja. Estou decepcionado com egoísmo, preconceito, intolerância. Mas eu continuo acreditando no ser humano, acredito na utopia, nos meus sonhos. A utopia é impossível, mas é sonhável.” Vale conferir a integra na Folha.
sem o Tremendão como elevador, o “monarca”(rc)arrogante, jamais chegaria onde chegou. Parabéns Erasmo Carlos, o legítimo rei da Jovem Guarda.