
A “motociata” (corrupção moral sempre acaba por corromper também a linguagem) de Bolsonaro em São Paulo expõe algumas velhas e fundamentais questões, que a humanidade conhece – e tem enfrentado – há muito.
O disfarce preferido do Demônio, dizem os teólogos, é fantasiar-se de Deus. Pois esta é a forma mais eficiente do Maligno fazer o seu serviço imundo.
Ou, para aqueles que não são religiosos, podemos formular o mesmo pensamento sob outra forma: o Mal sempre procura apresentar-se como o Bem, pois, caso contrário, não conseguiria fazer grande estrago entre os seres humanos.
Assim, a “motociata” (?!) de Bolsonaro apresentou-se com o nome de “Acelera para Cristo”.
Para que Jesus Cristo, o mestre da misericórdia, precisa que alguém “acelere” para ele?
O que Bolsonaro, esse troglodita que prega o assassinato (de pelo menos 30 mil pessoas em um golpe de Estado), a tortura, e, efetivamente, com sua política de tratar os seres humanos como um rebanho (aliás, pior que isso, porque os rebanhos são vacinados), é culpado pela perda da maior parte dos, até agora, meio milhão de brasileiros que morreram de Covid-19 – o que esse elemento criminoso tem a ver com Jesus Cristo?
O que Bolsonaro tem a ver com aquele que, segundo Mateus, o evangelista, “vendo as multidões, subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, dizendo:
“Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus.
“Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.
“Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.
“Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.
“Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.
“Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.
“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus” (cf. Evangelho Segundo Mateus, 5:1-10)?
O que Bolsonaro tem a ver com Jesus Cristo?
Nada.
Bolsonaro é, portanto, um parasita das crenças religiosas alheias, manipulando-as. Ele mesmo, é incapaz de acreditar em qualquer coisa decente ou sagrada. Apenas usa os ingênuos, ou, simplesmente, bobos.
Portanto, para ele, o único objetivo de “acelerar para Cristo” é o atropelamento de Jesus Cristo e do cristianismo.
Mas isso, ele não vai conseguir.
Seja como for, alguém sabe qual a religião de Bolsonaro?
SUBORNO
Mas Bolsonaro percebeu que disfarçar seu pé de bode dentro de uma bota, para subir numa motocicleta e passar por “cristão” ou “evangélico”, não era suficiente para lhe garantir a “motociata”.
Assim, como revelou um jornalista – por sinal, de credenciais direitistas impecáveis -, Bolsonaro prometeu a isenção, nos pedágios, para motocicletas. Para isso, pretende aumentar o pedágio dos carros e caminhões.
Esse é o grande motivo da mobilização dos moto-clubes em torno das “motociatas” de Bolsonaro. Os motociclistas, naturalmente, não querem pagar pedágio. Compreende-se.
Mas, da parte de Bolsonaro, essa promessa – que, no momento, tem a resistência de Guedes – é um suborno.
Pois é assim que ele vê a política: como um mercado de subornos. Seja nas emendas ilegais no Congresso, na isenção fiscal das seitas evangélicas ou na promessa de pedágio grátis para os motociclistas.
Ou na proteção a Salles ou aos membros de sua própria família.
Há poucos dias, ao anunciar sua aposentadoria, o economista Gil Castello Branco, fundador da organização Contas Abertas, declarou que “talvez nós estejamos vivendo a maior corrupção da história do Brasil”.
Não se trata de alguém que tenha conciliado ou ocultado a corrupção de governos anteriores. Por isso, sua avaliação é insuspeita.
Como escreveu o jornalista que acima citamos, ninguém faz nada de graça para Bolsonaro. Nem os motociclistas.
SOMBRA
Mas, qual o objetivo real da “motociata” de Bolsonaro?
É óbvio que ele está fazendo campanha para reeleição, o que é ilegal – mas o que não é tão óbvio é que isso serve mais para não ter eleição do que para a reeleição.
O presidente da República passar por cima das leis, juntando inimigos do governador de um Estado – e somente porque considera que esse governador é inimigo seu -, obrigando o Estado a gastar R$ 1,2 milhão em uma única manhã, com a mobilização de milhares de policiais e 600 viaturas para garantir a segurança do espetáculo, já seria algo muito grave.
Mais ainda, tanto Bolsonaro quanto seus seguidores na “motociata” estavam sem máscaras, outra vez contra a legislação e normas do Estado – e do próprio Ministério da Saúde, em sua fase atual.
E todas as placas das motocicletas, inclusive a de Bolsonaro, estavam cobertas, com os números ocultos – o que é ilegal, pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Esse aspecto embuçado da “motociata” é bem característico do fascismo – e das conspirações maléficas, como veremos.
Nesse caso, não é principalmente porque essa gente tenha algo a esconder, que eles se escondem – mas porque se sentem melhor na sombra, na escuridão, longe da vista do povo, do que na claridade do dia, ao sol da manhã, visíveis para todos.
Sabe-se que, para os especialistas no assunto – por exemplo, poetas como Dante e Milton -, essa é uma das características do Diabo.
Porém, não é apenas uma imagem poética – até porque as melhores imagens poéticas expressam, em alguma medida, a realidade.
O que eram as fardas das SS de Hitler, senão uma ilustração (embora não somente uma ilustração) desse modus operandi das forças do mal?
Vejamos esse caso.
O que aconteceria, para os participantes, se eles não tivessem coberto as placas das motocicletas?
Provavelmente, nada.
A polícia – 6.300 policiais, segundo a PM – que foi deslocada em função da “motociata”, estava ali para garantir a segurança dos motociclistas, e não para multá-los por perturbar o trânsito.
Aliás, a declaração dos próprios organizadores foi clara: queriam o dispositivo policial para evitar que populares exaltados atirassem objetos ou pedras nos motociclistas.
Então, para que cobrir as placas?
Primeiro, para passar por cima da lei – é assim que age o fascismo, sempre indo além dos limites.
Segundo, para incutir nas pessoas um sentimento sinistro – isto é, medo. O desconhecido é sempre aquilo de que temos medo. Daí o uso, que fazem os fascistas, da sombra, dos capuzes, de tudo o que é embuçado. Inclusive das placas cobertas.
A propósito, pelo Código Penal, esta não é uma infração pequena. Cobrir placas de carros ou motos é um crime que pode condenar seu autor até a 6 anos de cadeia – mais multa.
Ou seja, o objetivo da “motociata” era a subversão das instituições e a baderna. Bolsonaro queria avançar nessa direção, depois da outra “motociata”, a do Rio, onde o lastimável Pazuello subiu no palanque.
MULTA
Muito justamente, o governo de São Paulo – tal, como, antes, fizera o governo do Maranhão – autuou Bolsonaro, seu filho Eduardo e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes, por infringir o decreto que determina o uso de máscara aos motociclistas, para prevenir a propagação do coronavírus.
Os três foram multados em R$ 552,71 cada um e o governo do Estado informou que o auto de infração foi entregue a eles.
No auto, as autoridades paulistas chamam atenção para a “necessidade da manutenção das medidas preventivas já conhecidas e preconizadas pelas autoridades sanitárias internacionais, como uso de máscara e distanciamento social”.
No final da “motociata”, Bolsonaro repetiu o seu discurso contra qualquer medida de combate à Covid-19, exceto aquela que não funciona (“tomei hidroxicloroquina. No dia seguinte, estava curado”).
Também disse que, se as estatísticas fossem falsificadas, o número de mortos por Covid-19 no Brasil seria um dos menores do mundo. Literalmente: “há indício robusto que houve, sim, supernotificações [de Covid-19]. E caso nós venhamos a comprovar isso, vamos ver que o Brasil passaria a ser um dos países que tem o menor índice de morte por habitante”.
Não há um único indício, no Brasil, de que hajam sido notificados mais casos de Covid-19 que aqueles que realmente aconteceram. Pelo contrário, todos os indícios são de que o número de casos é ainda maior.
Bolsonaro é, no entanto, um elemento que habita a mentira e se refugia na mentira. O que é outra forma da sombra, ou escuridão, a que nos referimos.
CARLOS LOPES
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O verdadeiro título dessa motociata seria acelera para morte, pois o mentiroso está imitando Benito Mussolini, ditador e defensor do fascismo, aqui ele utiliza-se do nome de Cristo para enganar os idiotas, mais será desmascarado. A verdade acima de tudo. Acorda Brasil.
qual será a régua moral das famílias desses vagabundos, apoiadores do genocida(bolsonaro), que veio a São Paulo para afrontar o governador João Dória, simplesmente porque o mesmo está dando uma aula de como se combate a covid19???
o ministério da agricultura adverte: se voce se misturar com bolsonalhas vai acabar comendo capim, dar coices e contrair raiva.