Após o massacre perpetrado por soldados israelenses, obedecendo ordens do Estado Maior, dispondo 100 atiradores que abriram fogo sobre uma multidão de 50 mil palestinos que se dirigiram em marcha pacífica à fronteira da Faixa de Gaza com Israel, dia 30 de março (o que resltou em 17 mortos e 1.500 feridos em um dia), o governo israelense declara que não aceita a investigação “independente e transparente” solicitada pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres .
Ao invés disso, o premiê Bibi Netanyahu, saudou os perpretadores do massacre: “Respeito os soldados que guardaram as nossas fronteiras e permitiram que os israelenses celebrassem o feriado em paz”.
A Marcha do Grande Retorno foi convocada em conjunto por diversas organizações e partidos palestinos inclusive os principais, Fatah e Hamas, e tem por objetivo demonstrar que os palestinos não abrem mão de sua nacionalidade, soberania e do direito de retorno aos lares e aldeias de onde foram expulsos na Nakba, a Catástrofe, como chamam a limpeza étnica planificada, que levou a campos de refugiados cerca de 800 mil palestinos quando da implantação do Estado de Israel, em 1948.
70% dos dois milhões de palestinos que vivem hoje na Faixa de Gaza são pessoas que foram expulsas de seus lares em 1948, ou seus descentes.
As manifestações que começaram no Dia da Terra, data, em que, em 1976, foram mortos 6 jovens que participavam dos protestos pelo tratamento dado por Israel aos árabes que vivem em seu território: seguem tomando-lhes terras, dificultando-lhes a construção de moradias, restringindo-lhes direitos através de uma série de leis e normas discriminatórias.
Os atos previstos devem seguir até o dia 14 de maio quando foi instalado o Estado de Israel.
Antes das demonstrações o chefe do Estado Maior general Gadi Eizenkot, deu orientação aos soldados de abrirem fogo e declarou publicamente: “As instruções são para o uso de muita força”.
Os organizadores da marcha alertaram os manifestantes a que permanecessem não violentos. Dezenas de cartazes foram dispostos ao longo da fronteira em árabe, inglês e hebraico com dizeres: ‘Nós não estamos aqui para um confronto, estamos marchando para retornar a nossas terras’”.
Mas é exatamente isso que Israel, de maioria judaica artificial e imposta por leis, assassinatos e prisões em massa de caráter racista, não quer permitir.
Os palestinos estão elevando o nível massivo das manifestações também por que este 14 de maio, o governo norte-americano, decide transferir sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém e o faz, passando por cima de um consenso mundial de não reconhecer Jerusalém como capital de Israel enquanto o setor árabe da cidade, seguir ocupado, como ocorre desde 1967 e enquanto o Estado da Palestina, já reconhecido pela ONU, não for legitimado por negociações de paz, a libertação dos os mais de 6 mil presos políticos, a desocupação da Cisjordânia e Gaza, e o desmonte dos assentamentos judaicos ilegais, construídos ao longo destes 50 anos em terras assaltadas aos palestinos.
A Autoridade Nacional Palestina declarou o sábado, dia 31 de março, “Dia de luto pela alma dos mártires”.
SECRETARIA-GERAL DA ONU PEDE INVESTIGAÇÃO
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu “uma investigação independente e transparente sobre o uso desproporcional e massivo de força letal” durante o massacre ocorrido em Gaza no dia 30 de março.
A ONU chamou Israel a se pautar “de acordo com os direitos humanos e as leis e normas internacionais que tratam com a discordância”.
No sábado, os funerais dos palestinos mortos reuniram milhares de parentes e pessoas solidárias aos mártires daquela que os palestinos estão chamando de Sexta-Feira Sangrenta. Atendendo ao chamado da Autoridade Nacional Palestina, na Cisjordânia foi observado um Dia Nacional de Luto. Lojas, órgãos de governo, escolas e universidades suspenderam atividades.
A manifestação, acontece no momento em que são completados 10 anos de bloqueio a Gaza, e duas agressões, causando, além da falta de água potável, apagões generalizados, mais de dez mil casas destruídas e milhares de palestinos mortos nos dois bombardeios.
O Conselho de Segurança da ONU, convocado a pedido do Kuwait, Egito e Jordânia, não tirou resolução condenando o massacre devido ao veto interposto pelo governo americano. A representante dos EUA, Nick Halley, declarou, que “Israel tem o direito de se defender”.
O embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, condenou “o fato do CS da ONU haver se negado a um posicionamento depois do massacre hediondo de manifestantes pacíficos”. “O Conselho de Segurança deveria estar à altura de sua responsabilidade e agir para enfrentar esta situação que é uma clara ameaça à paz e à segurança internacionais”, declarou o palestino.
Egito e Jordânia, denunciaram o “uso desproporcional de força usado por Isael contra os manifestantes desarmados” e a Rússia declarou seu repúdio “ao uso indiscriminado de força contra civis”. A França pediu que Israel se contenha na repressão às manifestações e o presidente turco, Tayep Erdogan, declarou que Netanyahu é “terrorista” e “invasor”.
O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon (o mesmo que foi recusado pelo governo brasileiro como embaixador devido a sua posição de chefe da organização que articula o assalto de terras palestinas para assentamentos judaicos), declarou que os palestinos é que estão “enganando a comunidade internacional” e chamou a manifestação de “encontro terrorista violento”, apesar de não haver nenhum ferido do lado israelense e da multidão de perdas entre os manifestantes.
Ao justificar o massacre, o governo de Israel publicou fotos com 10 dos palestinos mortos dizendo que eram “terroristas”. Mas as mentiras não se sustentam, não é por acaso que o governo israelense nega-se a levar a cabo a investigação solicitada pela Secretaria-Geral da ONU.
O caso mais gritante dentre as mentiras foi o do jovem, Abdul Fattah Abdul Nabi, que consta entre os ‘terroristas’ apontados por Israel, de 18 anos, que em vídeo é visto correndo da cerca e atingido na cabeça morrendo instantaneamente.
Em declarações reproduzidas pelo Washington Post, os familiares informam que ele trabalhava na loja de falafel de familiares e que nas sextas-feiras ajudava na cozinha. Na tenda montada para velar Nabi, não há nenhuma insígnia ou bandeira de partido palestino e não há fotos de Nabi com uniforme militar, o que caracterizaria pertinência a braço armado do Hamas.
O vídeo com Nabi, atingido pela bala israelense, está no link
https://www.washingtonpost.com/world/israel-threatens-to-expand-response-if-gaza-violence-continues/2018/03/31/aab4d494-3464-11e8-b6bd-0084a1666987_story.html?utm_term=.5e0c1b58f966
NATHANIEL BRAIA