A farmacêutica chinesa informou estar buscando um representante local “de perfil mais profissional e confiável”. Empresa de Maringá tinha apoio dos bolsonaristas Hang e Wizard. Seu dono participou das gestões de Ricardo Barros no Paraná. Contrato era de R$ 5 bilhões
O laboratório chinês, CanSino Biologics anunciou que rescindiu unilateralmente com o representante da CanSino no país, a Belcher Farmacêutica do Brasil, que tem sede Maringá, no interior do Paraná. O rompimento se deu logo após o governo brasileiro ter anunciado uma carta de intenção de compra de 60 milhões de doses da vacina batizada de Convidecia.
A CanSino informou estar buscando um representante local “de perfil mais profissional e confiável”, que tenha autorização plena da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para atividades de farmacovigilância. Na última terça-feira (22), em documento encaminhado à Anvisa, a Belcher oficializou o rompimento do contrato com os chineses e admitiu ter ficado “surpresa” com a decisão.
O contrato da Belcher com o Ministério da Saúde é de R$ 5 bilhões e a unidade da vacina custaria US$ 17, sendo que o imunizante precisa de apenas uma dose para garantir a proteção contra o coronavírus. Um dos sócios da Belcher Farmacêutica é Daniel Moleirinho Feio Ribeiro, filho do empresário e dono da Pneumar Chiquinho Ribeiro que, na gestão de Ricardo Barros como prefeito da cidade, ocupou o cargo de presidente da Urbamar, empresa de urbanização de Maringá.
No dia 6 de janeiro de 2021, há poucos meses, portanto, foi aberta em Maringá a empresa Rcy Brasil & Belcher Spe Ltda, com atividade principal de “Comércio atacadista de medicamentos e drogas de uso humano”. No quadro de sócios e administradores da novíssima firma consta a Belcher e a Ribetech Participações Sociais LTDA, pessoa jurídica com capital social de mil reais representada pela pessoa física de Francisco Feio Ribeiro Filho, Chiquinho Ribeiro, ligado a Ricardo Barros. A Rcy Brasil & Belcher funciona no mesmo endereço da Belcher em Maringá.
Quando Cida Borghetti, esposa de Ricardo Barros, tornou-se governadora do Paraná, em 2018, Chiquinho Ribeiro foi parar na direção da Companhia de Saneamento do estado (Sanepar). Ricardo Barros foi citado por Bolsonaro na reunião com os irmãos Miranda como operador do esquema de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin. O servidor de carreira do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, detectou tentativa de desvio de R$ 225 milhões do contrato da Covaxin para uma empresa de fachada com sede num paraíso fiscal. Bolsonaro teria dito: “isso é coisa do Ricardo Barros”.
A denúncia do envolvimento do líder do governo e do empenho de Bolsonaro em acelerar a compra da Covaxin – o presidente ligou pessoalmente para o Primeiro Ministro da Índia em favor da Covaxin – levantou suspeitas de que as irregularidades denunciadas pelo servidor do MS envolviam mais do que somente os interesses do líder. Flávio Bolsonaro, por exemplo, intermediou uma reunião do presidente do BNDES com o dono da Precisa, empresa envolvida no escândalo da Covaxin.
A Balcher, ligada à compra da vacina da CanSino, assim como a Precisa, tem ligações estreitas com Ricardo Barros. Ela também entrou na mira da CPI da Covid. A empresa foi alvo a operação “Falso Negativo” e é suspeita de fazer parte de um esquema que superfaturou testes de coronavírus adquiridos pelo Governo do Distrito Federal.
O que tem intrigado a CPI é a ligação de empresários bolsonaristas com a compra da vacina da CanSino. A Belcher Farmacêutica tem tido o apoio de empresários ligados a Bolsonaro como Luciano Hang, do Grupo Havan, e Carlos Wizard, do “gabinete das sombras”, para viabilizar a venda do imunizante. Em março, Hang, Wizard e um dos sócios da Belcher, Emanuel Catori, chegaram a fazer uma transmissão ao vivo juntos falando sobre a venda de vacina para o Brasil.