A pedido dos Sindicatos dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Botucatu e Araraquara, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado Federal realizou na última segunda-feira, 2, uma audiência pública para debater os impactos da possível venda da Embraer para a empresa norte-americana Boeing.
Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Herbert Claros, “o que está em jogo é a soberania do país e o emprego dos trabalhadores de toda cadeia aeronáutica do país”. Os sindicalistas presentes na audiência apontaram que, embora o fato de estar havendo negociações tenha sido divulgado, elas estão sendo feitas sob sigilo, sem que a sociedade ou os trabalhadores possam se manifestar.
O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Botucatu (SP), Fabiano Roque, também presente na audiência, reforçou que tanto os funcionários como a sociedade precisam saber mais sobre a possível compra da Embraer. “Os empregados estão inseguros porque não sabem nada sobre essa negociação”, salientou.
Há, no entanto, informações extra-oficiais de que a empresa pode ser vendida por 6 bilhões de dólares. Para os trabalhadores, a informação é revoltante por diversos motivos. A Embraer foi criada em 1969 pelo governo brasileiro, mas foi privatizada em 1994: ainda assim, o governo ficou com uma ação de classe especial chamada “golden share” (Ação de ouro, em inglês), fazendo com que qualquer decisão importante, como troca de controle e criação ou alteração de projetos militares, precise de aprovação do governo.
Além disso, por meio de financiamentos do BNDES, medidas de isenção de folha de pagamento e outros incentivos, o governo brasileiro contribuiu com cerca de US$ 24 bilhões com a Embraer apenas nos últimos oito anos, o que garantiu a continuidade da produção de novas aeronaves, pesquisas, etc. “Não faz sentido querer vender por US$ 6 bilhões. Temos todos os motivos para dizer que essa empresa tem que ser brasileira”, declarou Herbert.
Os três sindicatos publicaram um manifesto contra a venda da empresa, explicando que ela nasceu “em 1969 no interior do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), em São José dos Campos (SP), e hoje a Embraer detém tecnologia para desenvolvimento e produção de aviões comerciais, executivos, agrícolas e militares, além de peças aeroespaciais, satélites e monitoramento de fronteira. É, portanto, estratégica para o Brasil. Sua entrega, total ou parcial, representa risco à soberania nacional”.
Herbert também ressaltou que não faz parte da prática das grandes empresas privadas, em especial as americanas, investir em tecnologia das empresas compradas, o que resultaria no fechamento da Embraer em alguns anos: “Fabricar aviões não é simples. A vida útil do avião é de muito tempo, mas o tempo de venda não é tão grande. A venda dessas aeronaves podem ser potencializadas com a Boeing num primeiro momento, mas daqui a 15 anos, o E2 [atual modelo da empresa] não venderá como hoje. A empresa só sobreviverá se houver um novo projeto e não acreditamos que os americanos, com uma empresa protecionista como a Boeing, investirão em novos projetos para o Brasil. Especialistas afirmam, com o tempo, não haverá nem avião e nem empregos no setor no Brasil. No máximo, seremos fabricantes de peças”, disse.
Como exemplo, o sindicato fala da McDonnell Douglas Corporation, empresa norte-americana que já foi a terceira maior fabricante de aviões comerciais e militares do mundo, mas foi fechada após ser comprada pela Boeing, em 1996. O sindicato chegou a mandar, no dia 21 de dezembro, uma carta à presidência da Embraer pedindo explicações sobre as negociações com a Boeing, sem resposta.
“O interesse da Boeing pela Embraer mostra que a privatização da empresa brasileira foi um erro e que esse processo precisa ser revertido com urgência. A reestatização é essencial para preservar a soberania nacional e o emprego dos trabalhadores brasileiros e barrar o acelerado processo de desnacionalização da empresa”, reivindica o manifesto dos sindicatos.
Essa audiência fez parte das ações da campanha dos Sindicatos dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Botucatu e Araraquara em defesa dos empregos e da soberania do país.
Representações dos Ministérios da Defesa, da Casa Civil e da Ciência e Tecnologia foram convidados a participar da Audiência, bem como representantes da empresa, mas ninguém compareceu. “Este é um tema de grande aspecto social, mas que não tem a devida atenção do Executivo e Legislativo. É um crime o que está acontecendo. Quero fazer um desafio ao presidente da Embraer: que ele venha a público explicar e comprovar que a venda da Embraer não ameaça os empregos e a soberania nacional”, afirmou Herbert, durante a audiência.
Absurdo, não tem ninguém no Congresso para protestar e trabalhar contra essa venda?!!
Não podemos permitir isso, é um patrimônio nacional.