“Não aceito que a CPI vire chacota”, disse o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), ao dar voz de prisão a Dias. Ex-diretor do Ministério da Saúde foi exonerado do cargo em junho após denúncia de que teria solicitado acréscimo de US$ 1 por dose da vacina Covaxin em contrato
O ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias foi ouvido na CPI da Covid-19, nesta quarta-feira (7). Ele foi exonerado do cargo em junho após denúncia de que teria pedido propina de US$ 1 por dose de vacina da AstraZeneca em negociação. O ex-diretor nega a acusação.
Durante o depoimento, ele negou ter marcado um jantar no restaurante Vasto, em Brasília, com o coronel Marcelo Blanco e o revendedor de vacinas Luiz Paulo Dominghetti. Segundo ele, o encontro no restaurante era apenas com José Ricardo Santana, apontado por Dias como “um amigo”.
“O encontro foi marcado entre mim e meu amigo, marcado por telefone. Não combinei encontro com outras pessoas além dessa. Muito provavelmente o coronel Blanco soube por alguma mensagem ou ligação. Eu estava na mesa quando coronel Blanco chega e me apresenta Dominghetti, falamos sobre futebol, e ele então introduziu o assunto de vacina e, posteriormente, eu pedi a agenda formal no Ministério”, disse Roberto Dias.
Mas, segundo áudios obtidos pela CNN, e relatados pela senadora Senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) o encontro com Luiz Paulo Dominghetti, não teria sido acidental. No dia 23 de fevereiro, dois dias antes do suposto pedido de propina, Dominghetti envia um áudio a um interlocutor, Rafael, às 16h22.
“Rafael, tudo bem? A compra vai acontecer, tá? Estamos na fase burocrática. Em off, pra você saber, quem vai assinar é o Dias mesmo, tá? Caiu no colo do Dias… e a gente já se falou, né? E quinta-feira a gente tem uma reunião para finalizar com o Ministério”, diz Dominghetti. O dia do áudio, 23, é uma terça-feira. Quinta-feira, quando Dominghetti cita já ter uma reunião marcada para “finalizar com o Ministério” é exatamente o dia 25, quando houve o jantar em um bar em Brasília no qual Dias teria pedido propina.
Após questionamentos de senadores, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), pediu a prisão de Dias.
“Não aceito que a CPI vire chacota. Nós temos 527 mil mortos. E os caras brincando de negociar vacina. Por que que ele não teve esse empenho para comprar a Pfizer, que era de responsabilidade dele naquela época? Por quê?”, questionou Aziz.
“Ele está preso por mentir, por perjúrio. E, se eu estiver tendo abuso de autoridade, que a advogada dele ou qualquer outro senador me processe, mas ele vai estar detido agora pelo Brasil, porque nós estamos aqui pelo Brasil, pelos que morreram, pelas vítimas hoje sequeladas”, confirmou a prisão o presidente da CPI.
“Nós não estamos aqui para brincar, não, de ouvir historinha de servidor que pediu propina. Isso que está acontecendo não vai acontecer mais. E todo depoente que estiver aqui que achar que pode brincar terá o mesmo destino dele. Ele que recorra na Justiça, mas ele está preso e a reunião está encerrada. Pode levar”, concluiu Aziz, encerrando a reunião.
Áudios e mensagens registrados no celular do cabo da Polícia Militar, Luis Paulo Dominghetti, e que estão em poder da CPI colocam em xeque a versão do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, de que o encontro no qual o atravessador da Davati afirma ter recebido pedido de propina foi acidental.
Durante depoimento, ele disse que negou cargo a Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, que junto com o irmão, o deputado Luis Miranda (DEM-RJ), denunciou suspeitas de irregularidades na negociação do governo de Jair Bolsonaro para compra de vacinas contra o coronavírus.
O deputado do DEM acusou Ferreira Dias de mentir e de ser corrupto. O ex-diretor é acusado de ser o autor de algumas das pressões para agilizar a importação do imunizante indiano Covaxin.
ÉLCIO FRANCO
Por duas vezes, durante o depoimento, Dias confirmou que quem negociava aquisição de vacinas era o secretário-executivo da pasta, Élcio Franco. “Com quem o Ministério da Saúde negociava na Covaxin? Qual é a pessoa responsável pelo contrato?”, perguntou a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS).
Roberto Dias: “Senadora, o Ministério da Saúde, nas vacinas de Covid-19, todas as negociações foram conduzidas pelo secretário-executivo”, respondeu.
RETALIAÇÃO
“Confesso que neguei um pedido de cargo para seu irmão servidor. E por um momento pensei que pudesse ser uma retaliação. E confesso que sempre achei desproporcional demais. Mas agora, o que se deslinda, é a possibilidade de ter ocorrido uma frustração no campo econômico também”, afirmou Dias.
Luis Miranda atribuiu a fala do ex-funcionário da Saúde estratégia do governo. O parlamentar disse ao Estadão que o único pedido feito por ele a Dias foi para reservar 500 mil respiradores para Brasília.
“É o famoso comentário que segue a mesma estratégia de todos. Desconstruir a testemunha. Fazer ter uma dúvida para que a base bolsonarista faça um recortezinho”, afirmou Miranda.
“DENÚNCIAS DE ROLOS”
O deputado do DEM negou que o irmão tivesse qualquer pretensão de mudar de cargo. O servidor é chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, setor que era comandado por Dias.
“O que me recordo era que meu irmão queria sair desse departamento pela quantidade de denúncias de rolos, para não chamar de corrupção que esse departamento tem, o DLOG”, disse Miranda.
Na CPI, Roberto Dias também negou ter pedido vantagens a Luiz Paulo Dominghetti, policial militar que o acusou de pedir propina em negociações para compra da vacina AstraZeneca.
Dominghetti atuou como representante da Davati Medical Supply e, em depoimento à CPI da Covid-19, na semana passada, ele confirmou ter recebido um pedido de propina de US$ 1 por dose na compra de 400 milhões de doses da vacina.
M. V.