O executivo-chefe do laboratório de guerra química de Porton Down, Gary Aitkendhead, deixou o chanceler inglês Boris Johnson na situação do mentiroso pego em flagrante no caso do veneno usado contra os Skripal, ao afirmar que “não é nossa função dizer onde foi manufaturado” e que o que havia sido estabelecido “é que é desta família particular [Novichok] e de grau militar”. Então, não existe prova de que foi a Rússia e fica capenga toda a campanha histérica encabeçada por Londres a soldo dos EUA, que já levou a dezenas de expulsões mútuas de diplomatas.
Em entrevista à rádio estatal alemã Deutsche Welle, indagado sobre como conseguiu descobrir “tão rapidamente” que a fonte desse agente nervoso Novichok era “a Rússia”, o chanceler Boris Johnson asseverou que a confirmação havia sido feita pessoalmente a ele pelo pessoal de Porton Down “de forma absolutamente categórica” e “sem dúvida”.
O que levou o líder da oposição Jeremy Corbyn a dizer que ele devia explicações ao povo inglês e indagar onde iria esconder a cara. A ‘chanceler-sombra’ dos trabalhistas, deputada Diane Abbot, condenou Boris Johnson por “enganar o público” e acrescentou que as ações dele “mais uma vez mostram que é incapaz de representar responsavelmente a Grã-Bretanha no cenário mundial”.
Nas redes sociais, multiplicaram-se as chacotas sobre o bizarro ministro e os pedidos para que “renuncie”. A chancelaria inglesa às pressas deletou tweet com selo oficial reiterando que “foi a Rússia”.
O jornal Guardian – que tem sido o porta-voz oficioso da russofobia em Londres -, descreveu cinicamente a situação em que o governo May se meteu: “uma Rússia encorajada tentará na quinta-feira desacreditar a reputação internacional da Grã-Bretanha na ONU depois que uma série de erros de Boris Johnson e do Ministério das Relações Exteriores levou a acusações de que o Reino Unido havia exagerado o argumento de que a Rússia era responsável pelo ataque do ex-espião Sergei Skripal”.
Aliás, desde Tony Blair e sua mentira dos “45 minutos para ataque químico de Sadam” (usada para ‘justificar’ a guerra ao Iraque sob W. Bush), a reputação britânica é conhecidíssima. A reputação do laboratório inglês de guerra também: foi quem patenteou o gás VX e usou comprovadamente 360 seres humanos como cobaias em experimentos com gás sarin.
Na cúpula com a Turquia e o Irã em Istambul, o presidente Vladimir Putin cobrou uma investigação completa e isenta sobre o envenenamento dos Skripal, e declarou que “a velocidade com que a campanha antirrussa foi lançada causa perplexidade”. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, após o flagra na mentira de Johnson e o lava-mãos de Porton Down, disse que “a idiotice havia ido longe demais” e que os ingleses deviam pedir desculpas pelas “acusações sem base e retaliações”.
Por sua vez o chanceler russo Sergei Lavrov havia advertido na véspera que a situação internacional atual era pior do que durante a Guerra Fria, “porque então havia algumas regras”. “Eu creio que nossos parceiros ocidentais, primariamente o Reino Unido, os EUA e alguns países que os seguem cegamente, jogaram fora toda a decência, estão apelando para mentiras escancaradas, desinformação grosseira”.
Na reunião extraordinária da Opaq em Haia, por 15 votos contra 6, e 17 abstenções, não passou o pedido russo de acesso à investigação. O representante russo, Alexander Shulgin, afirmou que a proposta russa parte do “senso comum” e lembrou as “mentiras de Tony Blair” sobre o Iraque como motivo para desconfiança de uma “investigação” à qual só Londres tem acesso. “Eles [os técnicos da Opaq] nos dizem que podem nos informar dos resultados dessa investigação … apenas com a boa vontade da Grã-Bretanha. Mas, sabendo como nossos chamados parceiros se comportaram, não vamos contar com a boa vontade deles.” A Rússia já advertiu que não irá aceitar resultados que não sejam transparentes e imparciais e convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU.