A pressão do governo dos Estados Unidos para deixar a empresa chinesa Huawei de fora do leilão da rede de tecnologia 5G no Brasil continua. Para conciliar com os americanos, que, sem condições de competir com a tecnologia chinesa, alegam que a infraestrutura da Huawei não oferece segurança cibernética, o governo de Jair Bolsonaro propôs dividir as redes 5G em duas. Uma rede privativa, por onde passariam a comunicação governamental, e outra comercial, para o público em geral.
A empresa chinesa ficaria de fora da rede privativa. Não adiantou o atual grau de subserviência de Bolsonaro. Eles querem mais. Os americanos pretendem impedir que a Huawei tenha qualquer participação no mercado brasileiro, seja ele privativo ou comercial. Eles estão exigindo que ela seja completamente impedida de participar da licitação.
Em reuniões recentes com autoridades estadunidenses, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, apresentou a proposta da rede fechada para o governo federal – o que, em tese resolveria a disputa em torno da participação da Huawei na rede 5G brasileira. Desta faixa especial, apenas participariam companhias que atendem os requisitos de segurança exigidos pelos Estados Unidos, mas deixaria o caminho livre para que a chinesa oferecesse sua tecnologia em leilões comerciais.
A pressão é tão descarada que a restrição à Huawei por parte dos EUA nem sequer está sendo feita por critérios internamente estabelecidos de segurança. Segundo relatos feitos pelo próprio ministro das Comunicações e o Comandante do Comando de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército, general Correa Filho, a empresa atende a todos os requisitos de infraestrutura e segurança.
Isso confirma que as restrições impostas pelos Estados Unidos, onda na qual a gestão de Bolsonaro surfa desde seu alinhamento subserviente à Trump, é assunto ideológico e de disputa de mercado. Isso afeta, inclusive, as relações diplomáticas do país com a China, nosso principal parceiro comercial e fornecedor de insumos e vacinas contra a Covid-19.
A pressão mantida pelo governo de Joe Biden veio, inclusive, com a visita do chefe da CIA, William J. Burns a Brasília, ocorrida na semana passada em “agenda secreta”. Em reportagem da Folha de São Paulo, fontes ouvidas dizem que os americanos ameaçam, inclusive, a revisão de investimentos ou à interrupção de cooperação em áreas sensíveis, como defesa e inteligência, caso haja a participação de fornecedores não confiáveis – leia-se Huawei – nas redes de 5G de “países aliados”.
Desde do início da elaboração do edital do leilão do 5G, Bolsonaro de tudo fez para banir a Huawei do processo, inclusive aderindo no ano passado ao Clean Network (Rede Limpa) de Trump, programa dos EUA contra as empresas chinesas na instalação da tecnologia 5G. Mas a pressão do Congresso Nacional e a autorização da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para o leilão sem restrições à Huawei como fornecedora de equipamentos foram fatores que impediram que o veto se consumasse. As operadoras que atuam no Brasil alertaram que a exclusão da empresa chinesa vai encarecer os serviços e atrasar a sua implantação. A gigante chinesa fornece ao menos 50% das atuais redes de 3G e 4G do Brasil.