
“A ordem de lutar está dada, os revolucionários às ruas”, com essas palavras o presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel, dirigiu-se ao povo cubano neste domingo (11) em rede nacional de TV e rádio.
A conclamação de Canel foi atendida com multidões em Havana e em demais localidades do país.

INTERVENÇÃO NORTE-AMERICANA
Diaz-Canel destacou que as manifestações têm a mão do intervencionismo norte-americano na Ilha. “Um clássico dos protestos ‘espontâneos’ contra governos que não respondem aos interesses imperiais”, afirmou.
Tanto assim que, apesar do dano causado pelo persistente e insano bloqueio dos EUA a Cuba, nas manifestações de “protesto” estavam presentes bandeiras norte-americanas como ocorreu no ato em San Antonio de los Baños.
Canel foi corroborado em suas denúncias pelo ministro de Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodrigues: “É vandalismo, não é um estalo social”.
“Não houve uma explosão social, mas distúrbios e desordem causados por uma operação comunicacional que vem sendo preparada faz tempo à qual são destinados recursos multimilionários e plataformas tecnológicas com fundos do governo dos Estados Unidos”.
Em seu pronunciamento, que publicamos a seguir, o presidente reconhece as dificuldades pelas quais o povo passa, agravadas pela pandemia e queda em uma das principais fontes de ingresso de divisas, o turismo, mas ressalta o dano causado pelo bloqueio e enfatiza que se há realmente qualquer preocupação “humanitária” com relação à vida do povo cubano, a primeira coisa que deveria Washington fazer é a suspensão do bloqueio que causa dificuldades econômicas, em especial no terreno da produção, ao país.
Aliás o bloqueio a Cuba acaba de ser rejeitado na ONU por 184 votos a 2.
Vejamos o pronunciamento de Miguel Diaz-Canel, traduzido a partir da versão publicada pelo portal Cubadebate:
“A ordem de lutar está dada, os revolucionários às ruas
Temos sido honestos, temos sido transparentes, temos sido claros e a cada momento temos explicado ao nosso povo as complexidades dos momentos atuais. Lembro-lhes que há mais de um ano e meio, quando se iniciava o segundo semestre de 2019, tivemos que explicar que íamos para uma conjuntura difícil. Isso foi tomado como parte do humor popular e temos permanecido como parte dessa conjuntura a partir de todos os sinais que o governo dos Estados Unidos dava, liderado pela administração Trump, em relação a Cuba.
Começaram a recrudescer uma série de medidas restritivas, um endurecimento do bloqueio, de perseguição financeira contra o setor energético com o objetivo de sufocar nossa economia e que isso provocasse a desejada eclosão social massiva, que semeasse as possibilidades para, com toda a campanha ideológica que tem sido feita, poder apelar à intervenção humanitária que termina em intervenções e ingerências militares, e que afetam os direitos, a soberania e a independência de todos os povos.
Essa situação continuou, depois vieram as 243 medidas que todos conhecemos e finalmente decidiu-se incluir Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo, uma lista espúria, ilegítima e unilateral que o governo dos Estados Unidos adotou por se considerarem os imperadores do mundo.
Muitos países se submetem rápido a essas decisões, mas é preciso reconhecer que outros não permitem que isso lhes seja imposto. Todas essas restrições levaram a que lhe cortassem imediatamente várias fontes de receita em divisas ao país, como o turismo, as viagens de cubano-americanos ao nosso país e as remessas de dinheiro. Urdiu-se um plano para desacreditar as brigadas médicas cubanas e as colaborações solidárias que presta Cuba, que por essa colaboração recebia uma parte importante de divisas.
Toda essa situação provocou uma situação de desabastecimento no país, principalmente de alimentos, medicamentos, matérias-primas e insumos para podermos desenvolver nossos processos econômicos e produtivos que ao mesmo tempo contribuam para as exportações. Dois elementos importantes são eliminados: a capacidade de exportar e a capacidade de investir recursos. E desde os processos produtivos desenvolver bens e serviços para nossa população.
Também temos limitações em combustível e peças de reposição e tudo isso tem causado um nível de insatisfação, juntamente com os problemas acumulados que não conseguimos resolver e que vieram do período especial, juntamente com uma feroz campanha mediática de descrédito como parte da guerra não convencional que tenta fraturar a unidade entre o partido-estado e o povo; que tenta colocar o governo como insuficiente e incapaz de proporcionar bem-estar ao povo cubano e que pretende defender desde uma posição do governo dos Estados Unidos que com eles é possível aspirar ao progresso de um país como o nosso.
Essas são receitas hipócritas bem conhecidas, discursos de dois pesos e duas medidas que conhecemos muito bem ao longo da história dos Estados Unidos em relação a Cuba. Como intervieram em nosso país, como se apropriaram de nossa ilha em 1902, como mantiveram uma dominação de nossa ilha na etapa de pseudo-república e como foram esses interesses golpeados pela Revolução cubana em seu triunfo?
O exemplo da Revolução Cubana os incomodou muito durante 60 anos e isso tem constantemente aumentado. Têm aplicado um bloqueio injusto, criminoso e cruel, agora intensificado em condições de pandemia e aí reside a perversidade manifesta, a maldade de todas essas intenções. Bloqueio e ações restritivas que nunca realizaram contra nenhum outro país, nem contra aqueles que consideram seus principais inimigos.
Portanto, tem sido uma política de crueldade contra uma pequena ilha que só aspira a defender sua independência, sua soberania e a construir sua sociedade com autodeterminação, segundo os princípios que mais de 86% da população têm apoiado no exercício amplo e democrático que sustentamos há alguns anos para aprovar a atual Constituição da República de Cuba.
Em meio a essas condições, surge a pandemia, uma pandemia que afetou não apenas Cuba, mas o mundo inteiro, inclusive os Estados Unidos. Afetou países ricos e é preciso dizer que diante dessa pandemia nem os Estados Unidos nem esses países ricos tiveram toda a capacidade de enfrentar seus efeitos no início, e em muitos desses países de primeiro mundo, com muito mais riquezas, colapsaram os sistemas de saúde, as salas de terapia intensiva. Os pobres foram prejudicados porque não existem políticas públicas dirigidas ao povo para a sua salvação, e têm indicadores em relação ao enfrentamento da pandemia que, em muitos casos, apresentam resultados piores que os de Cuba.
Assim fomos avançando, fomos controlando surtos e variantes, com uma tremenda capacidade de sacrifício de nosso povo, de nossos cientistas, de nosso pessoal de saúde e quase todo o país se envolveu nisso. Foram criadas cinco vacinas candidatas, das quais uma já foi reconhecida como vacina e é a primeira na América Latina. Cuba já está vacinando sua população. É um processo que leva tempo. As vacinas devem ser produzidas, mas no momento temos uma das maiores taxas de vacinação do mundo e em poucas semanas já ultrapassamos 20% da vacinação da população, um processo que continua.
Nos últimos meses, começaram a circular cepas mais agressivas e com maior transmissão da doença. Em meio a essa situação é que começa a aparecer um grupo de complicações. Em primeiro lugar, os casos ocorrem com uma velocidade e acúmulo que ultrapassa as capacidades para atender esses casos nas instituições do Estado que temos sido capazes de criar. Por outro lado, tivemos que ir abrindo capacidades em outros centros e abrindo mais centros, aos quais também temos que dar prioridade energética mesmo em meio aos problemas de energia acumulados que nos causaram apagões. A quantidade de circuitos que temos que proteger para que pacientes com Covid-19 sejam tratados faz com que sejam mais os circuitos que ficam com a possibilidade de causar apagões incômodos, mas necessários, porque temos que restaurar nossas capacidades de geração de eletricidade. Isso tem acontecido nos últimos dias e tem provocado irritação, incompreensão, preocupações e afetações à população.
Por ter mais pacientes, há mais consumo de remédios, e também nossas reservas de remédios estão acabando, as possibilidades de adquiri-los são muito difíceis. Em meio a tudo isso, continuamos com vontade, pensando em tudo, trabalhando para todos. Agora temos que passar à experiência da internação domiciliar devido à falta de capacidade em um grupo de províncias, e tivemos que convocar as famílias para que tenham uma participação mais direta e responsável; e a gente não se cansa de admirar em meio a essa situação a capacidade de resistência criativa que nosso povo tem. E como com esses valores, se os acompanharmos de responsabilidade e unidade, no menor tempo possível, com vacinação, cumprindo as medidas higiênico-sanitárias necessárias, o isolamento social e distanciamento físico, sairemos mais cedo ou mais tarde desse pico pandêmico que não é apenas um caso cubano.
Cuba conseguiu adiar este pico pandêmico no tempo com tudo o que fizemos, e também no mais curto espaço de tempo o superaremos, e assim o ratificamos nestes dias em nossas viagens pelas províncias para especificar todas as estratégias de enfrentamento para a pandemia.
De forma muito covarde, sutil, oportunista e perversa, desde as situações mais complicadas que já tivemos em províncias como Matanzas e Ciego de Ávila, aqueles que sempre aprovaram o bloqueio e que atuam como mercenários nas ruas do bloqueio ianque , começam a aparecer com doutrinas de ajuda humanitária e corredor humanitário. Todos nós sabemos de onde eles vêm para fortalecer o critério de que o governo cubano não é capaz de sair desta situação, como se eles estivessem tão interessados em resolver os problemas de saúde de nosso povo.
Se quiserem ter um verdadeiro gesto com Cuba, se quiserem se preocupar com o povo, abram o bloqueio e veremos como jogamos. Por que eles não fazem isso? Por que eles não têm coragem de abrir o bloqueio? Que base legal e moral têm que um governo estrangeiro aplique essa política a um país pequeno em meio a tais situações adversas?.
Isso não é genocídio, não é um crime contra a humanidade? Levantam-se critérios de que somos uma ditadura, uma ditadura que se preocupa em dar saúde a toda a sua população, que busca o bem-estar de todos, que em meio a essas situações é capaz de ter programas e políticas públicas para todos, que almeja vacinar a todos com uma vacina cubana, porque sabíamos que ninguém nos venderia vacinas e não tínhamos dinheiro para ir ao mercado internacional comprar vacinas. Que ditadura estranha!
Agora gritam que somos assassinos. Onde estão os assassinados em Cuba? Onde estão os desaparecidos?
Por que outros países que sofreram esses eventos de picos pandêmicos não foram atacados na imprensa e a intervenção humanitária não foi posta como solução, nem se armaram contra eles essas campanhas de descrédito que pretendem armar contra nós?
A vida, a história e os fatos mostram o que está por trás de tudo isso: que é para sufocar e acabar com a Revolução e para isso estão tentando desencorajar o nosso povo, confundir o nosso povo. Quando as pessoas estão em condições severas como as que vivemos, acontecem fatos como os que vimos hoje em San Antonio de los Baños.
Em San Antonio de los Baños, um grupo de pessoas se reuniu em um dos parques mais centrais da cidade para protestar e reclamar. Quem eram essas pessoas? Eram pessoas do povo que vivem parte das carências e dificuldades, os protestos foram feitos por gente revolucionária que pode estar confusa e que pode não ter todos os argumentos ou que estavam expressando a sua insatisfação.
Mas isto foi encabeçado por um grupo de manipuladores que se prestam aos desígnios das campanhas SOS Matanzas ou SOS Cuba, o chamado cacerolazo, que se preparam há vários dias, para que em várias cidades de Cuba houvesse manifestações e existissem distúrbios sociais. .
Isso é muito criminoso, muito cruel, principalmente neste momento em que devemos garantir que as pessoas estejam nas casas em que estão recolhidas, que elas estejam se protegendo.
Com a moral que dá a Revolução, os revolucionários de San Antonio de los Baños, as autoridades da província, um grupo de companheiros da direção do país, nos apresentamos em San Antonio de los Baños.
Essa massa de revolucionários confrontou os contra-revolucionários e falamos com os revolucionários e alguns que podem ser não revolucionários, mas que pediam explicações. Mais tarde, marchamos e percorremos a cidade para mostrar que em Cuba as ruas pertencem aos revolucionários.
Enquanto isso, sabemos que existem outras cidades do país, onde se concentraram grupos de pessoas em determinadas ruas e praças, também motivadas por esses fins tão pouco saudáveis.
Dou esta informação, também para ratificar que em Cuba as ruas são dos revolucionários, que o Estado, o Governo revolucionário, guiado pelo Partido, tem toda a vontade política para discutir e participar com o povo da resolução da situação, mas reconhecendo qual é a verdadeira causa dos nossos problemas, sem se confundir.
Aqueles que estão incentivando as manifestações não querem uma boa saúde para Cuba. Lembre-se que o seu modelo é o neoliberal, é a privatização da saúde, dos serviços médicos, da educação.
Não vamos ceder a soberania, nem a independência do povo, nem a liberdade desta nação. Somos muitos revolucionários nesta cidade que estamos dispostos a dar a vida e isso não é por slogan, é por convicção. Eles têm que passar por cima dos nossos cadáveres se quiserem enfrentar a Revolução, e nós estamos prontos para tudo e estaremos lutando nas ruas.
É por isso que convocamos todos os revolucionários do nosso país, todos os comunistas, a tomarem as ruas em qualquer um dos lugares onde essas provocações podem acontecer hoje, de agora em diante e em todos estes dias.
Como disse no discurso de encerramento do Congresso do Partido, defendemos antes de mais nada a Revolução, e com essa convicção já estamos nas ruas, não vamos permitir ninguém para manipular nossa situação, nem que ninguém possa defender um plano que não seja cubano, que não seja assistencialista para cubanos e que seja anexionista. A isso chamamos os revolucionários e comunistas deste país.”
Veja vídeo com cubanos respondendo ao chamado e entoando: “Nas ruas presidente!”: