A venda de medicamentos que compõe o chamado “kit Covid” fez o lucro das farmacêuticas que comercializam os remédios dar um salto este ano – apesar da eficácia do tratamento não ter comprovação científica.
A Folha de São Paulo divulgou levantamento com base em documentos sigilosos e abertos enviados à CPI da Covid por sete empresas farmacêuticas, demonstrando que o lucro das mesmas, apenas com os medicamentos do kit, foi de R$ 482 milhões de janeiro a maio de 2021. Em 2019, antes da pandemia, a comercialização dos remédios foi de pouco mais de R$ 180 milhões – o que significa que a propaganda do kit pelo governo federal rendeu a elas um lucro sete vezes maior.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) investiga as ações e omissões do governo federal no enfrentamento ao coronavírus, incluindo a apuração do fato de o “kit Covid” ter se tornado principal bandeira de Jair Bolsonaro, negligenciando as medidas de restrição de circulação e imunização em massa.
A existência de um gabinete paralelo de aconselhamento ao presidente fora do Ministério da Saúde foi uma das descobertas da comissão. Esse comitê incluía médicos, atuais e ex-assessores, empresários e congressistas que inflamavam a defesa de Bolsonaro a medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da doença, inclusive precoce. Agora, os senadores membros da CPI se debruçam sobre a investigação de relações entre as farmacêuticas com o governo e membros do gabinete paralelo.
As farmacêuticas que tiveram que apresentar informações incluem a EMS, Farmoquímica, Momenta Farmacêutica, Abbott, Sandoz, Cristália e Supera Farma. Outras empresas, como a Apsen, Vitamedic e Brainfarma, não enviaram dados fechados de seu faturamento para a comissão, então o valor total pode ter ultrapassado R$ 1 bilhão.
A título de comparação, das empresas que enviaram dados à CPI, a EMS viu seu faturamento com os medicamentos do tratamento precoce de Bolsonaro subir 709% em relação ao ano anterior. A empresa se manifestou em nota dizendo que não há estudos que comprovam a eficácia da hidroxicloroquina, por exemplo, mas foi uma das que se beneficiaram da liberação da importação do IFA (insumo farmacêutico ativo) para produção do medicamento, a pedidos do presidente.