A senadora Simone Tebet (MDB-MS) afirmou que “já existe materialidade de crimes relacionados à negociação para a compra da Covaxin”.
“Temos fortes indícios e muitos elementos probatórios da prática de crimes. Isso mesmo: no plural, incluindo a corrupção passiva e ativa. Temos documentos, troca de mensagens, quebras de sigilos”, acrescentou em entrevista para o jornal Estado de Minas.
“Na volta do recesso, a CPI terá de colocar nome, sobrenome e CPF dos responsáveis. Quem foram os corruptores, os cooptados, os atravessadores, os servidores, os agentes políticos”, acrescentou a senadora, que participa ativamente das sessões e das investigações da Comissão, como líder da bancada feminina no Senado.
Para a senadora, Jair Bolsonaro não conseguiu provar que não prevaricou em relação ao escândalo de corrupção na compra da vacina Covaxin.
“Ainda não chegou à CPI [da Pandemia] documento que comprove não ter havido prevaricação por parte do governo federal”, disse Simone.
Jair Bolsonaro recebeu a denúncia de corrupção na compra dos imunizantes indianos, em uma reunião que teve com o servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, e seu irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), mas abafou o caso e não acionou a Polícia Federal.
“O presidente diz que, ao ser informado pelos irmãos Miranda, passou a bola adiante para o ministro da Saúde, general Pazuello. Esse, por sua vez, disse ter encaminhado a incumbência da investigação para o então secretário-executivo, coronel Elcio Franco, o mesmo que, em um único dia, se deu por satisfeito para encerrar qualquer averiguação de irregularidades. Onde está a comprovação do pedido de investigação?”, questionou a senadora.
A compra da Covaxin aconteceu com a presença de uma empresa atravessadora, a Precisa Medicamentos, que já deu um golpe de R$ 20 milhões no Ministério da Saúde, através da Global.
Segundo um documento do Ministério da Saúde, o primeiro preço apresentado pela empresa foi de US$ 10 por dose, mas no contrato o valor foi de US$ 15 por dose.
As invoices (pré-nota fiscal) enviadas para o Ministério da Saúde, para que assinasse e validasse a importação dos imunizantes, tinham graves irregularidades que apontam para a existência de um esquema corrupto.
Os documentos exigiam pagamento adiantado, duplicavam o valor do frete, previam 3,7 milhões de doses a menos na primeira entrega e diziam que os pagamentos deveriam ser feitos para uma terceira empresa, não citada no contrato, que é sediada em um paraíso fiscal. Essas invoices foram levadas até Jair Bolsonaro.
GOVERNO SE OMITIU
Além da corrupção na compra de vacinas e da negociação com atravessadores, até mesmo com participação direta de Jair Bolsonaro e do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a CPI também investiga as omissões e o negacionismo do governo Bolsonaro durante a pandemia.
Todos os exemplos positivos de combate ao coronavírus no mundo, como a China, o Vietnã, a Coreia do Sul e a Nova Zelândia, tinham realizado quarentena, testes e rastreio de contatos.
O governo Bolsonaro, por outro lado, sabotou a quarentena e apostou no “tratamento precoce” com medicamentos sem eficácia contra o coronavírus, como cloroquina e ivermectina.
Os membros da CPI acreditam que o governo Bolsonaro acreditou na tese, sem respaldo científico, da “imunidade de rebanho”, que consiste em acelerar a contaminação na população para que o vírus deixasse de circular por conta da imunidade adquirida pelas pessoas. E que se dane quem morreu.
Para Simone Tebet, “houve omissão do Governo Federal na condução errática da pandemia”.
“Da primeira fase da CPI, temos elementos que dão conta do estímulo ao uso de medicamentos sem comprovação científica, da ação para fazer a população acreditar na imunidade de rebanho, do atraso na compra de vacinas, da falta de planejamento nacional na condução das ações voltadas à pandemia, da inexistência de comunicação com a população no sentido de uma melhor proteção contra o coronavírus”, sentenciou.
TERCEIRA VIA EM 2022
O presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), disse que o partido está cogitando alguns nomes para representar o partido nas eleições presidenciais de 2022 e que o de Simone Tebet está sendo considerado.
A senadora afirmou que é “a favor da construção de uma terceira via consistente com reais chances de vitória. O Brasil não merece a repetição de uma disputa entre os extremos”.
“Em relação ao meu partido, tenho dito que meu nome está à disposição, mas não escondo a minha preferência por concorrer à reeleição ao Senado. Mas, em política, tudo muda muito rapidamente. Então, o momento é de serenidade para aguardar a hora certa para decidir”.
“Estamos diante da pior crise sanitária da história do Brasil. Graças às vacinas, o número de mortes tem caído. Estamos em meio a uma CPI que pode ter um desfecho demolidor na política nacional. Temos de resolver a gravíssima crise econômica, com índices assustadores de desemprego e de fome. Não é hora de falar de 2022”, disse.