Justiça denunciou que Jorge Glas e seu tio foram subornados com US$ 16 milhões pela construtora e decidiu embargar bens e bloquear contas bancárias
Atual vice-presidente do Equador e ex-ministro de Setores Estratégicos do governo de Rafael Correa, Jorge Glas, foi preso na noite de segunda-feira, junto com seu tio Ricardo Rivera, e levado ao cárcere 4, em Quito, sob acusação de “corrupção”. Conforme denúncias, eles teriam amealhado US$ 16 milhões em propinas da Odebrecht para garantir o seu retorno ao país. Diante dos graves indícios, na audiência da Corte de Justiça da capital, o juiz Miguel Jurado também decidiu embargar os bens e bloquear as contas bancárias de Glas.
Mais alto funcionário público sob investigação judicial do caso Odebrecht, Glas está na mira da Justiça junto ao ex-controlador geral do Equador, Carlos Pólit, de dois ministros e vários servidores graduados do governo Correa. A situação do vice-presidente vem se agravando desde o começo de agosto quando o presidente Lenin Moreno, que assumiu o governo em maio, o destituiu de suas funções administrativas devido a suspeitas de corrupção.
Conforme o procurador geral do Equador, Carlos Baca, a prisão preventiva de Glas e Rivera é essencial para garantir o prosseguimento da investigação penal dos casos de suborno realizados pela construtora, uma vez que foram encontrados “novos elementos” de uma associação ilícita que causou graves danos ao patrimônio público.
O delito de “suborno”, segundo a promotoria, estaria presente em cinco contratos firmados com a Odebrecht na área de Setores Estratégicos: o Poliduto Pascuales-Cuenca; a hidrelétrica Manduriacu; a transposição Trasvase Daule-Vinces – uma das maiores em abastecimento hídrico da América Latina; o aterro da Refinaria do Pacífico e o aqueduto A Esperança. Além disso, também foram abertas investigações por evasão fiscal, lavagem e captação ilegal de dinheiro.
O delator da Odebrecht, José Conceição Santos, assegurou que pagou uma montanha de dólares para o atual vice-presidente, por meio de seu tio. De acordo com Santos teriam sido entregues US$ 2 milhões (R$ 6,3 milhões) em 2010 pela volta da empreiteira brasileira ao Equador – dois anos após ter sido expulsa do país por falhas na construção da hidrelétrica São Francisco – e os demais US$ 14 milhões (R$ 44,2 milhões) por 1% de todos os contratos que a empresa teve no país após o seu retorno. Além disso, Santos sustenta que entregou pessoalmente ao ex-secretário jurídico da Presidência, Alexis Mera, mais de US$ 4 milhões (R$ 12,6 milhões), por meio do advogado Carlos Pareja Cordero, investigado pela rede de corrupção na Petroecuador e fugitivo da justiça.
“Jorge Glas e Ricardo Rivera são como irmãos siameses, se alimentam e respiram pelo mesmo corpo”, explicou Santos, em sua declaração ao poder judiciário no consulado equatoriano no Brasil, no dia 26 de setembro. Na oportunidade, o delator entregou seu testemunho antecipado, como parte das investigações do escândalo.
As declarações antecipadas de Alfredo Alcívar, ex-empregado de confiança de Rivera e atual testemunha protegida, do delator José Santos e de José Terán, Gustavo Massuh e Kepler Verduga, são parte das justificativas para o pedido de prisão. Carlos Baca assinala que com esse conjunto de declarações se evidencia a existência material do delito de associação entre Glas e Rivera. As informações, sublinhou, estabelecem de maneira inequívoca a relação direta e causal entre pagamentos, obras, apelidos usados e empresas beneficiárias. A prática é bastante similar à utilizada no Brasil, conforme apontado pela operação Lava Jato.
Com o cerco se fechando, desde agosto, o vice-presidente está impedido de sair do país, diante do “potencial risco de fuga”. Ao mesmo tempo, seu tio cumpria prisão domiciliar. Além dos dois e da Odebrecht, a Justiça investigará outras empresas como Telconet, Glory International, Televisión Satelital, Dramiston, Plastiquim/Cosani e Golden Engineering, todas apresentando sinais evidentes de envolvimento em crimes contra a economia.