Com a contagem regressiva para as eleições presidenciais de 7 de novembro, em que Daniel Ortega pretende se reeleger pela quarta vez consecutiva, a Polícia da Nicarágua prendeu mais um pré-candidato oposicionista, o quinto, em três semanas e o sétimo desde que as eleições se colocaram.
Noel Vidaurre – considerado conservador – está em prisão domiciliar desde o sábado (24).
Agora, a menos de quatro meses das eleições de sete de novembro, a guarda de Ortega adotou a mesma medida repressiva contra o comentarista político Jaime Arellano, igualmente crítico do governo. Ambos foram intimados a depor perante o Ministério Público e agora permanecem em suas casas “sob custódia policial”.
Na Nicarágua, as candidaturas para presidência devem ser feitas no prazo estabelecido, de 28 de julho a 2 de agosto e caso uma pessoa se encontre sob investigação de crimes ou prisão, não poderá se candidatar.
O informe policial anunciou terem sido feitas investigações contra Arellano e Vidaurre, por realizarem atos que atentam contra a independência e incitam à ingerência estrangeiros nos assuntos internos, entre outros delitos na chamada “Lei de Soberania”. Da mesma forma, segundo o comunicado oficial, são investigados por “pedir intervenções militares, organizarem-se com financiamento de potências para a execução de atos de terrorismo e desestabilização”.
As acusações são as mesmas apresentadas contra outros 26 outros adversários presos desde 27 de maio passado, entre eles os candidatos à presidência Cristiana Chamorro (também sob prisão domiciliar), Arturo Cruz, Juan Sebastián Chamorro, Félix Maradiaga, Miguel Mora e Medardo Mairena.
Também foram detidos os ex-vice-chanceleres Víctor Hugo Tinoco e José Pallais, e os ex-guerrilheiros sandinistas dissidentes Dora María Téllez e Hugo Torres, assim como quatro dirigentes opositoras, dois dirigentes universitários, um jornalista e dois empresários, entre outros.
Noel Vidaurre foi um dos candidatos presidenciais da aliança Cidadãos pela Liberdade (CxL), que assim como Cruz, Juan Sebastián Chamorro e Mairena, foram presos após testemunhar perante o Ministério Público. Outra candidata do CxL foi a advogada María Asunción Moreno, que abandonou o país após ser convocada pelo Ministério Público.
Por sua vez, após declaração no Ministério Público, Jaime Arellano disse que foi questionado por criticar um recente discurso de Ortega e que foi advertido de que poderia ser acusado sob a Lei de Ciberdelitos. Para o comentarista, isso é “parte do mecanismo de intimidação” dos opositores.
O escritor Sergio Ramírez, vencedor do Prêmio Cervantes 2017, denunciou que “a mão desajeitada da injustiça ditatorial na Nicarágua está perseguindo e fazendo reféns mulheres e homens dignos de todas as condições sociais, aterrorizando suas casas”. Ex-vice-presidente durante o primeiro governo de Ortega (1985-1990) e dissidente da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) no poder, Ramírez reiterou que se sentia “totalmente identificado” com pessoas dignas que estão sofrendo por divergir.
A Nicarágua está mergulhada numa crise iniciada com os protestos sociais de 2018, quando a violenta ação de policiais e paramilitares deixou 328 mortos, mais de mil feridos, mil e 600 detidos e fez com que mais de 100 mil pessoas migrassem ou se exilassem, conforme a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).