Sem o auxílio emergencial, o aperto na renda das famílias e a inflação nas alturas tiveram grande impacto no volume de vendas dos supermercados do país.
O GPA (Grupo Pão de Açúcar), dono do Extra e do Pão de Açúcar, afirma que as vendas brutas de sua rede (a segunda maior do país) despencaram 12,1% entre abril e junho deste ano, na comparação com o ano anterior. As vendas do grupo Carrefour encolheram 7,3% no mesmo período.
“Nos últimos seis meses, a inflação se manteve alta e o desemprego bateu em taxas históricas. Nas famílias de classe C, as compras de alimentos atingiram 60%, 70% do ‘share of pocket’ [gasto mensal da família]”, afirma Jorge Faiçal, presidente do GPA. “Ainda houve troca de mercadorias para as mais baratas neste ano e troca de canais, para o atacarejo. Há um abandono de produtos que foram conquistas no passado como iogurte e os sucos de caixinha, e está todo mundo voltando com promoção”, disse em entrevista ao Valor Econômico.
Por conta do auxílio emergencial minguado neste segundo ano de pandemia – sem que a economia tenha se recuperado – e do efeito estatístico comparativo com o ano passado, o setor esperava que as vendas caíssem em 2021, mas a intensidade do tombo assustou.
“Há de fato uma redução de consumo. Calculamos uma retração de 10% nas vendas dos supermercados de janeiro a junho em São Paulo, sendo que 8% vem do ‘efeito covid’, da base de comparação, e 2% de efeitos macroeconômicos que puxam isso mais para baixo”, avalia Rodrigo Mariano, economista da Associação Paulista de Supermercados (APAS).
Ano passado, com a Covid-19 de alastrando pelo país e a necessidade de medidas de distanciamento social, o pagamento de cinco parcelas de R$ 600 do auxílio emergencial possibilitou, além da subexistência de milhares de famílias, a sustentação de algum nível de consumo. A crise e seu impacto no PIB, dizem os economistas, teria sido muito pior não fosse o benefício.
Nos três primeiros meses desse ano, não houve auxílio. Quando voltou, em abril, foi por menos da metade e com menos beneficiários.
“Há menos dinheiro circulando e sentimos isso. O auxílio emergencial veio bem menor neste ano e há a reabertura de restaurantes que também nos impacta”, acrescentou Helio Freddi Filho, gerente geral do Hirota Food, também ouvido pela reportagem do Valor.
Enquanto isso, o número de desempregados no país bate recordes. A última edição PNAD Contínua, pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mede o nível de desocupação do país, apontou que no trimestre encerrado em maio, 14,8 milhões de pessoas estavam desempregadas. Somando os desalentados e os que trabalham menos do que gostariam, são 32,9 milhões de pessoas.
A pressão vem da falta de renda e também dos preços elevados, praticados por um setor desnacionalizado e concentrado que lucrou muito na pandemia, com a disparada no preço dos alimentos, como a carne, o óleo de soja e o arroz, assim como produtos de limpeza e higiene.
A cesta Abrasmercado, da Associação Brasileira de Supermercados, que não é a cesta básica, mas uma cesta composta por 35 produtos mais vendidos nos supermercados (alimentos, incluindo cerveja e refrigerante, higiene, beleza e limpeza doméstica) chegou a R$ 653,42 em maio. Um valor muito distante do minguado atual auxílio emergencial que varia de R$ 150 a R$ 375.
Segundo dados da Abras, em 2020, entre as quatro maiores redes de supermercados no Brasil, apenas uma é 100% nacional (Grupo Muffato), enquanto as outras são controladas por franceses (Carrefour, Grupo Pão de Açúcar e o Grupo Big – ex-Walmart Brasil).