A direção da Petrobrás negou, em nota, o anúncio feito por Bolsonaro sobre a criação de um programa de subsídio para o gás de cozinha que seria custeado pela companhia. “Não há definição quanto à implementação e o montante de participação em eventuais programas. Qualquer decisão estará sujeita à governança de aprovação e em conformidade com as políticas internas da companhia”, diz a estatal.
Bolsonaro afirmou na sexta-feira (30), através de entrevista ao SBT, que a Petrobrás teria uma “reserva de aproximadamente R$ 3 bilhões” para custear a distribuição de botijões de gás aos mais necessitados. “Seria um vale-gás, seria o equivalente – no que está sendo estudado até agora – a um bujão de gás a cada dois meses”, prometeu.
A popularidade de Bolsonaro, especialmente nas camadas mais pobres da população, está minguando enquanto sua rejeição aumenta. Sob a sua política, o Brasil atingiu níveis recordes de desemprego, ao mesmo tempo em que a inflação crescente pressiona a renda da população.
No período de seu mandato, o preço do gás de cozinha cresceu 66%, fazendo com que muitas famílias, em pleno 2021, estejam voltando a cozinhar com lenha e carvão.
Mirando sua popularidade, a promessa de Bolsonaro é mais uma demagogia. O aumento do gás – assim como dos combustíveis – tem como pano de fundo a premissa de estipular preços com referência nos preços internacionais, política da qual Bolsonaro, Paulo Guedes e a atual direção da Petrobrás não abrem mão. Além disso, a disparada do preço do botijão de 13 kg acompanha a decisão da Petrobrás, chancelada pelo presidente, de interromper o subsídio no envase.
Na semana passada, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), um botijão de gás de 13kg custava, em média, R$ 92,79. Em alguns locais, contudo, o preço encontrado chegou a R$ 130.
Segundo a nota da Petrobrás, divulgada no dia seguinte às declarações de Bolsonaro sobre o vale gás, a direção da companhia indica que os três bilhões prometidos por Bolsonaro para o “vale-gás” só podiam se referir aos dividendos que a empresa distribuiu à União, acionista controlador. Este ano, foram distribuídos R$ 10,3 bilhões em dividendos, sendo R$ 3 bilhões para o governo federal, sendo o restante entregue aos outros acionistas, maioria estrangeiros.
A estatal, comandada agora pelo general Joaquim Silva e Luna, escolhido de Bolsonaro a pretexto de enfrentar a alta no preço dos combustíveis, diante da ameaça de mais uma greve dos caminhoneiros, reiterou também que continuará praticando a política de paridade com preços internacionais e, assim, não promoverá mudança nenhuma – nem com relação aos combustíveis, nem com relação ao gás.
Na entrevista, Bolsonaro voltou a culpar os governadores pela cobrança do ICMS (imposto estadual) sobre o preço de comercialização do gás e, também, os revendedores que seriam responsáveis pelo sobrepreço e ao custo do frete.
Os governadores já demonstraram que não houve nenhum aumento no ICMS que justifique ou acompanhe as constantes altas dos combustíveis nas refinarias. Por meio de nota, afirmaram que os preços dos combustíveis não têm qualquer relação com a política tributária dos Estados, “são fruto da alteração da política de gerência de preços por parte da Petrobras, que prevê reajustes baseados na paridade do mercado internacional, repassando ao preço dos combustíveis toda a instabilidade do cenário externo do setor e dos mercados financeiros internacionais”.
Segundo os revendedores de combustíveis, “desde novembro de 2020, a Petrobrás passou a realizar vários reajustes seguidos, foram no total 12 elevações de preços nas refinarias, que somaram 65% de aumento”.