O pastor, que dirige a ONG Senah, foi liberado pelo governo para intermediar/negociar a venda de vacinas, como se fosse atravessador. No depoimento, não conseguiu provar que agiu com humanitarismo
Ao inquirir o reverendo Amilton Gomes de Paula na CPI da Covid-19, no Senado, nesta terça-feira (3), o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), disse que “ao contrário do meu colega Marcos Rogério (DEM-RO), eu não me comovo com as lágrimas, não me comovo — com as suas, não; com aquelas ali, sim [apontando para a placa que mostrava as mais de 557 mil mortes por Covid-19].”
E acrescentou: “Nada disso daqui é verdadeiro, nada! A oferta de vacinas é mentirosa, a conversa fiada de apoio humanitário é mentirosa, tudo atrás de dinheiro no pior momento da vida do Brasil”.
“Então, se em algum momento — se em algum momento —, o senhor efetivamente teve na sua conduta o princípio cristão, já passou muito da hora do arrependimento; agora é hora de punição”.
“Está mais fácil acreditar no cara que acha que é o Super-Homem”, afirmou Vieira para Amilton, duvidando das respostas do reverendo.
A referência do senador foi ao advogado Aldebaran Von Holleben, morador de Ponta Grossa (PR), presidente da UNMIR, um dos símbolos que o reverendo Amilton Gomes usa em seus documentos para impressionar. Ou para enrolar.
Em seu questionamento, o senador Jean Paul Prates (PT-RN) perguntou para Amilton sobre Aldebaran:
“O senhor acha que ele é uma pessoa mentalmente sadia, sã? O senhor o conhece? O senhor sabia que ele reivindica… [risos] Ele reivindica que ele é o Superman brasileiro?”.
Para Aldebaran, há “sincronicidade (coincidência significativa)” entre ele e o Super-Homem e até reivindica que a Warner reconheça que, no Brasil, ele é o super-heroi dos quadrinhos.
PERGUNTAS COM RESPOSTAS TITUBEANTES
“O senhor pode informar para a CPI do que é que o senhor vive?”, perguntou Vieira. “Bom, eu sou empresário, sou pastor e também palestrante e faço… Dou palestras e estudo bíblico nas igrejas”, respondeu.
Vieira: “O senhor é remunerado pelas igrejas?”. “Eu sou remunerado como pastor. Existe o pastor local, e existe o pastor itinerante. O pastor itinerante é o pastor que viaja o mundo inteiro, que prega a ‘Palavra de Deus’ nas igrejas e ali leva a mensagem, uma mensagem salvífica. Essa remuneração, eu tenho. E tenho também o pró-labore da minha empresa nos Estados Unidos”, respondeu.
“A sua empresa nos Estados Unidos cuida de quê?”, continuou a inquirição o senador. “Consultoria”, respondeu evasivo o reverendo.
“De quê?”, seguiu o senador. De “projetos”, respondeu novamente evasivo. “Em que área?”, insistiu Vieira. “São projetos de resíduos sólidos, projetos de CO2, projetos de…”
“O senhor tem um exemplo concreto de um projeto em que o senhor tenha atuado como consultor no mundo real?”, inquiriu Vieira. E esclareceu, pois o pastor não entendeu a pergunta: “O senhor tem algum exemplo de projeto, no mundo real, onde o senhor tenha atuado como consultor?”.
“Nós temos um de resíduos sólidos com tecnologia. Nós estamos trazendo esse projeto aqui para um município próximo a Brasília”, disso reverendo.
“Isso está implementado?”, seguiu a inquirição. “Sim, nós estamos implementando. Já temos assim o projeto em si da tecnologia e estamos dando…”, foi interrompido.
SEM PROJETOS CONCRETOS
Impaciente com as respostas escapistas e evasivas, o senador se irritou: “Senhor Amilton, vou repetir. Acho que, talvez, não tenha ficado claro. Eu quero saber de um caso concreto em que tenha acontecido um projeto, em que esse projeto tenha sido executado e em que o senhor tenha atuado ou em que sua empresa tenha atuado na condição de consultora.”
“Então, o senhor não tem nenhum projeto pela consultoria dos Estados Unidos e também não tem nenhum projeto pela consultoria de São Paulo?”, questionou o senador.
“O senhor consegue exemplificar um projeto?”, insistiu Vieira. “De impacto social?”, perguntou Amilton Gomes. “Sim, por favor”, assentiu.
“Nós temos, aqui em Brasília, que virou lei, o meu projeto: Projeto Lei Fest Vida. Esse é um projeto gigantesco. No aniversário de Brasília, nós o executamos. Então, ele é um projeto que trabalha nas causas emergenciais”, tentou explicar.
CONTRADIÇÃO SOBRE PREÇO DE VACINA
A inquirição feita por Vieira, até o final da participação dele com o depoente girou em torno das ofertas de vacinas intermediadas pelo religioso — US$10, US$11 e US$15.
O senador quis saber sobre a diretoria da Senah: “Essa Diretoria vive de quê?”. “Cada um tem a sua profissão e trabalham como agentes humanitários”, disse.
“Nas obras humanitárias? É uma carta humanitária. Veja, essa carta humanitária cobra US$1 a mais em uma vacina que o senhor mesmo acabou de dizer que tinha conhecimento que tinha baixado o preço, supostamente baixado o preço, e o senhor não consegue me explicar o porquê dessa manobra toda?”, fustigou Vieira.
M. V.