O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), afirmou, na quarta-feira (4), em entrevista a Roberto D´Ávila, do Globo News, que a proposta de implementar o voto impresso, apresentada pelo governo Bolsonaro, será barrada na Câmara e, por isso, Jair Bolsonaro mantém “essa atitude extremista e até patética” contrária à democracia.
Na avaliação do governador, Bolsonaro ataca o sistema eleitoral brasileiro como pretexto para seus interesses golpistas.
“Bolsonaro quer ditar as normas do jogo. Ele pode propor, mas não tem legitimidade para dizer que se não acontecer uma adequação das regras do jogo aos seus intentos, não haverá jogo. Isso é inaceitável”, disse.
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Para Dino, trata-se de uma falsa questão, “porque nós tivemos, nos últimos anos, uma grande evolução tecnológica. Há um sistema de auditoria”.
“O fascismo do século XXI se nutre disso, dessas confusões permanentes”.
“É preciso parar essa marcha golpista que está em curso. É preciso entender que o Bolsonaro só não dará um golpe de Estado, uma ruptura antidemocrática, se ele for contido, porque os seus impulsos estão bem evidentes”, afirmou.
Flávio Dino afirmou que não vê uma adesão em bloco dos militares e dos policiais à pauta golpista de Jair Bolsonaro, mas não deixa de ter preocupação por conta da adesão de alguns indivíduos.
Em entrevista concedida a Roberto D’Ávila, no GloboNews, Dino disse que também é “factóide tolo” a argumentação de Bolsonaro de que seu governo não fez nada para tentar impedir o avanço do coronavírus porque o Supremo Tribunal Federal (STF) o barrou.
“O Supremo já esclareceu isso várias vezes, é um factóide tolo”.
“Em nenhum momento o Supremo impediu o presidente da República de agir, ele é que não quis agir porque achava que a pandemia era uma gripezinha. Ele queria impedir os governadores de atuarem”.
“Felizmente, o Supremo garantiu que os governadores agissem, pois se não fosse isso teríamos, talvez, o dobro de mortes no Brasil”, continuou.
Jair Bolsonaro “mostrou que o negacionismo foi levado a uma consequência que fez com que não houvesse ação organizada no plano nacional e isso fez, e faz, muita falta”.
O governador do Maranhão comentou que o governo federal não têm mantido diálogo com os governadores e prefeitos por conta do extremismo e estreiteza de Bolsonaro. Até mesmo na ditadura militar “havia algum tipo de relação institucional”, disse.
“É muito diferente hoje, porque não é apenas o Maranhão, apenas eu, mas, de um modo geral, a relação federativa é quase que inexistente. Vimos isso na pandemia, e atrapalha bastante para que você possa implementar políticas públicas”.
O diálogo a partir do governo federal é “próximo a zero”. Jair Bolsonaro “não se reúne com os governadores e, ao contrário disso, sublinha o tempo todo uma relação de até agressividade com alguns governadores. É claro que isso não está certo”.
“Um país deste tamanho, como é que vai conseguir implementar políticas públicas sem a relação do governo federal com o estadual e prefeituras? Eu nunca vi uma relação federativa tão esgarçada quanto a que temos atualmente”, acrescentou.