Queda de 1,7% em junho na comparação com maio. “A maior retração do setor neste ano e a segunda maior para um mês de junho desde o início da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), em 2000”, diz o IBGE
As vendas do comércio varejista caíram 1,7% em junho na comparação com o mês anterior – a maior retração do setor em 2021 e o segundo pior resultado para o mês desde que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passou a realizar a pesquisa, em 2000. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (11).
Na comparação interanual, o volume de vendas do comércio varejista cresceu 6,3% sobre junho de 2020. Embora positivo, o resultado não expressa recuperação do setor, uma vez que se compara com uma base muito deprimida – o primeiro semestre de pandemia no Brasil. Justamente por isso, o mercado esperava que o crescimento fosse maior do que de fato foi. A pesquisa da Reuters realizada nas semanas anterior à divulgação apontavam para crescimento de 9,1% em junho deste ano.
“Na comparação interanual, há um ritmo menor de crescimento em junho. Nos meses anteriores, os aumentos foram mais significativos por conta da base de comparação que estava muito baixa. É diferente de comparar, por exemplo, com março ou abril do ano anterior, meses que marcaram o início da pandemia no país”, aponta Cristiano Santos, gerente da pesquisa pelo IBGE.
Apesar do avanço da vacinação, o Brasil ainda se destaca como um dos epicentros mundiais da pandemia e sofre as consequências do negacionismo do governo Jair Bolsonaro que levou à morte mais de 560 mil brasileiros e sabotou a vacinação, postura que está sendo apurada em Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal.
O comércio varejista, para além da restrição de circulação, sofre as consequências do desemprego recorde, corte dos benefícios sociais e inflação – cenários atuais do país em crise. Além dos alimentos, os preços monitorados pelo governo dispararam, como da energia elétrica, combustíveis e do gás de cozinha, apertando ainda mais o bolso do consumidor.
Venda de alimentos em queda
Cinco das oito atividades pesquisadas pelo IBGE tiveram retração na passagem de maio para junho. O comércio de tecidos, vestuário e calçados foi o segmento que teve pior desempenho, com queda de 3,6% na passagem de maio para junho.
As vendas de hipermercados, supermercados e produtos alimentícios – grupo que tem mais peso na composição geral – recuaram 0,5%. Este setor foi o único que conseguiu se manter de pé no ano passado, já que o pagamento das parcelas do Auxílio Emergencial garantiu que as famílias desamparadas continuassem consumindo produtos de primeira necessidade. Sem renda emergencial e com o desemprego em patamares recordes, as vendas de alimentos já começam a ceder e a fome cresce entre milhões de brasileiros.
Além disso, recuaram as vendas de combustíveis e lubrificantes (-1,2%), equipamentos e material para escritório (-3,5) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,6%). O comércio de móveis e eletrodomésticos (+1,6%), artigos farmacêuticos e médicos (+0,4%) e livros e jornais (+5%) tiveram resultados positivos.
Varejo ampliado recua 2,3%
No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e de material de construção, o volume de vendas recuou 2,3% em relação a maio de 2021. Isso é resultado do recuo nas vendas de veículos (-0,2%), que compõem a maior parte do varejo ampliado.
Perdas na pandemia
Números estimados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontam que a perda do setor, no acumulado de fevereiro de 2020 até maio deste ano, chega a R$ 873,4 bilhões. Os números poderiam ser piores, diz o economista, não fosse o comércio virtual e o auxílio emergencial – que por boa parte do ano passado, segurou o sustento e o volume de vendas de supermercados e produtos alimentícios.
Os números sobre fechamento de lojas físicas ainda não estão atualizados para este ano. Os cálculos da CNC de 2020 apontam para o encerramento de 75,2 mil lojas no país no período da pandemia. “Sem o auxílio teríamos tido seguramente mais de 100 mil lojas fechadas”, concluiu Fabio Bentes, economista da CNC.