Parlamentares de diversos partidos criticaram duramente as ameaças de Bolsonaro ao Supremo. Interlocutores de Rodrigo Pacheco disseram que ele não vai dar andamento aos pedidos do mandatário
Parlamentares de diversos partidos reagiram neste sábado (14) à intenção de Jair Bolsonaro de pedir ao Senado a abertura de processo contra os ministros Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro citou os artigos 5 e 52 da Constituição defendendo que os magistrados “extrapolaram os limites”. Barroso também é ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), integrante da CPI da Covid-19, ironizou o pedido anunciado por Bolsonaro. “O presidente vai mesmo pedir ao Senado o impeachment de ministros do STF? Quem pede pra bater no ‘Chico’, que mora no Inciso II, artigo 52, da CF, se esquece de que o ‘Francisco’ habita o Inciso I, do mesmo endereço”, afirmou a senadora em suas redes sociais.
O ex-deputado Roberto Freire, presidente nacional do Cidadania, afirmou que “Bolsonaro é a crise”. “Em mais um delírio totalitário – típico de tirantes de Repúblicas de Bananas- Bolsonaro pensa falar pelo povo, esquecendo que tem apenas 25% de aprovação (e caindo). O que a maioria da população quer é seu impeachment. Ele é a inflação, desemprego, corrupção e necrofilia. Ele é a crise”, afirmou o parlamentar.
De acordo com Bolsonaro, os pedidos de impeachment serão levados ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), na próxima semana. A decisão de Bolsonaro, contra Luiz Roberto Barroso, vem após ele ter sido derrotado no Congresso Nacional em seu plano de tumultuar as eleições do ano que vem, e contra Alexandre de Moraes após este autorizar a prisão do ex-deputado, já condenado por corrupção, e seu aliado Roberto Jefferson, no inquérito das milícias digitais.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) classificou a medida como mais uma cortina de fumaça lançada por Bolsonaro. “Ministros do STF podem e devem ser investigados por fatos concretos, mas o tal pedido de impeachment que Bolsonaro pretende apresentar contra Barroso e Moraes é só mais uma cortina de fumaça para tentar esconder o mar de crimes comuns e de responsabilidade que o próprio presidente da República cometeu”, destacou.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, e líder da oposição no Senado, cobrou que o presidente trabalhasse no sentido de combater as desigualdades sociais e minimizar a crise econômica. “Ao invés de arroubos autoritários, que serão repelidos pela democracia, vá pegar no serviço! Estamos com 14 milhões de desempregados, 19 milhões de famintos, preço absurdo da gasolina, da comida”, escreveu o parlamentar.
O senador Otto Alencar (PSD-BA) afirmou que “o pedido de impeachment de Bolsonaro contra os ministros Barroso e Moraes tem cunho político. O presidente acha que rende votos, imita Daniel Silveira e Roberto Jefferson”. “É plágio”, disse ele. “O país sofrendo com a fome, a crise sanitária, o desemprego e ele focado em criar conflito entre as instituições. Lamentável!”, acrescentou a senadora Leila Barros (PSB-DF). “Assim atuam os populistas. Depois de eleitos, atacam as instituições democráticas e tentam destruir a democracia representativa e o Estado democrático”, denunciou o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que “cada vez mais acuado por conta de uma série de denúncias contra o seu governo, Bolsonaro tenta mais uma vez intimidar a Justiça. A olhos vistos, o presidente avança no seu discurso autoritário. É preciso dar um basta de uma vez por todas nessa milícia golpista.”
O deputado Fábio Trad (PSD-MS) também criticou a atitude de Bolsonaro. “Ele investe politicamente contra dois Ministros do STF pelo fato de discordar de suas decisões. Em vez de recorrer ao Judiciário para rever as decisões, prefere o atalho autoritário do impeachment dos julgadores. Só aceita decisão quando com ela concorda. Revela com isso a sua vocação autoritária sempre hostil a democracia. Bolsonaro quer um STF para chamar de seu. Isso é Intolerável!”, afirmou.
“Depois do desfile fracassado dos tanques na esplanada, agora Bolsonaro quer o impeachment dos ministros do STF. A criatividade para cortina de fumaças não tem limites. E, mais uma vez, quem extrapola os limites constitucionais é o presidente”, observou a deputada Tabata Amaral (PDT-SP).
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) ainda não se pronunciou publicamente mas, segundo o colunista Gerson Camarotti, da TV Globo, ele não deverá dar seguimento ao pedido. De forma reservada, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), sinalizou que não dará prosseguimento a pedidos de impeachment. Nas palavras de um interlocutor de Pacheco, não há qualquer casualidade e nenhum fato objetivo na argumentação apresentada por Bolsonaro em mensagem postada nas redes sociais neste sábado (14).