O fato de um elemento investigado pela Lava Jato, e que só não está preso porque tem foro privilegiado, como Moreira Franco, assumir o Ministério das Minas e Energia, está gerando dúvidas até na base aliada de Temer sobre sua capacidade de conduzir a privatização da Eletrobrás. Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi o primeiro a resmungar. “Ele [Moreira] tem pouco trânsito na casa e a articulação pela aprovação de um projeto de lei sobre a desestatização está ruim”, afirmou o privatista.
“Acho que a articulação do ministro Moreira aqui não é boa, e a comissão já vai muito mal. Única coisa que eu disse é que, se a base não se organizar, vai ficar muito difícil votar. Mas vou pautar, porque sou a favor”, declarou sobre a privatização da Eletrobrás.
O nome de Moreira aparece como tendo recebido propina ao lado de Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, nos depoimentos de José de Carvalho Filho, Cláudio Melo Filho, Marcelo Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho e Paulo Henyan Yue Cesena.
O clima poderia piorar ainda mais no caso de uma eventual nova denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Temer, já que Moreira Franco é visto como cúmplice direto nos crimes de Temer.
De acordo com o inquérito, o Ministério Público afirma que “há fortes elementos que indicam a prática de crimes graves, consistentes na solicitação de recursos ilícitos por Moreira Franco em nome do Partido do Movimento Democrático Brasileiro”. Citando especificamente Moreira Franco em seu depoimento, Paulo Cesena diz que o então ministro da Aviação Civil participou de uma reunião com a Odebrecht na qual foi discutida a manutenção de cláusulas que aumentariam a chance da empresa vencer uma segunda rodada de concessões aeroportuárias. Isso seria feito em troca de propina.
Além disso, Benedicto Barbosa da Silva relata um repasse de R$ 4 milhões, solicitado por Moreira Franco ao grupo empresarial, e pago a Eliseu Padilha, a pretexto da campanha eleitoral de 2014. Documentos apresentados pelos colaboradores apontam pagamento a uma pessoa com apelido “Primo”, em localidades que correspondem ao escritório de Eliseu Padilha, de acordo com o inquérito.
Os privatistas do governo e do chamado mercado – ou seja, dos monopólios estrangeiros ávidos por abocanhar a Eletrobrás – sabem que deputado nenhum vai querer se aproximar de Moreira e de sua trupe com medo de perder votos.
“Com a aproximação das eleições tem ficado cada vez mais notável a falta de interesse de algumas lideranças em apoiar algumas propostas que são prioridade do governo. Então, se avançar para o Plenário, tem que ver qual vai ser o humor da Casa para essa proposta. Não é muito positivo”, disse Rodrigo Maia.