Aprovado pela Câmara dos Deputados no início do mês, o projeto de Jair Bolsonaro para entregar o comando dos Correios para o setor privado é rechaçado por vários senadores antes mesmo de entrar na pauta de votação no Senado.
O senador Eduardo Braga (MDB/AM) manifestou suas ressalvas contra a privatização de uma estatal tão estratégica como a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT).
“Como ficarão os empregos dos carteiros e como é que vamos entregar cartas em São Gabriel da Cachoeira e Atalaia do Norte, no Amazonas, por exemplo? Os países de dimensão continental não privatizam seus serviços postais. Muitas são as perguntas ainda sem respostas”, escreveu no Instagram.
Braga entende que a privatização pode prejudicar o Estado, principalmente os municípios mais distantes de Manaus.
O senador Omar Aziz (PSD/AM) também declarou que votará contra a privatização dos Correios. Segundo o parlamentar, após privatizada, a empresa visará apenas o lucro e, na sua avaliação, como os custos para fazer os investimentos necessários em um Estado como o Amazonas, devido aos desafios logísticos, são maiores que a previsão de lucro, a entrega da estatal causará sérios prejuízos aos amazonenses.
“Eu voto contra. Não há acordo que você possa incluir na lei e que servirá mais tarde para manter esse tipo de logística. Hoje, eu não digo nem cartas, mas sim transporte de volumes que os Correios fazem e chega em uma região como a nossa, com o custo benefício que nunca será o mesmo de uma empresa particular. Os custos para fazer os investimentos necessários são maiores que o lucro que terão e eles só visam o lucro”, declarou o senador.
“Além disso, é preciso pensar também nos trabalhadores que atuam na área há anos e que não há nada que garanta o cumprimento dos direitos deles”, completou.
A senadora Zenaide Maia (Pros/RN) também usou a tribuna para denunciar a venda de “mais um patrimônio nacional” pelo presidente da República.
“Os Correios brasileiros, patrimônio do povo. A Câmara aprovou a venda. Mesmo essa empresa dando um lucro de R$ 1,5 bilhão. Não dá para acreditar, vendendo o nosso patrimônio. Eu acho interessante, a gente aprovou Refis de grandes e médios empresários. Vende-se o patrimônio do povo, que o povo construiu, uma instituição centenária”, disse a senadora.
Zenaide também cobrou do governo explicação sobre o destino dos recursos que são arrecadados pela União com as privatizações.
“Para onde está indo esse dinheiro? Eu faço um apelo aqui para que a gente não venda o patrimônio do povo brasileiro. Nenhum empresário que tem empresa que dá lucro vende. Agora, acha direito o presidente da República vender aquilo que o povo construiu? Eu estou aqui indignada, porque eu não sei qual vai ser a próxima vítima”, acrescentou.
Outro parlamentar que foi à tribuna para criticar a política de privatização do governo, foi o senador Jean Paul Prates (PT/RN). “Vender o patrimônio do povo brasileiro, sem se incomodar com as consequências futuras, tem sido uma prática desse governo e que, infelizmente, tem passado por esse Congresso sem o exame mais aprofundado das questões”, disse.
O projeto aprovado pela Câmara autoriza a exploração de todos os serviços postais pelo setor privado. No Senado, também está em tramitação um projeto de iniciativa popular que pede que os Correios sejam retirados do programa de desestatização do governo federal.