O Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), subiu 1,18% em agosto – confirmando que a inflação e carestia voltaram a assombrar os brasileiros sob o governo de Jair Bolsonaro.
O índice que registra a inflação de preços desde matérias-primas agrícolas e industriais até bens e serviços finais já acumula alta de 16,88% no ano e de 32,84% em 12 meses. Em agosto de 2020, o índice subira 2,53% no mês e acumulava elevação de 11,84% em 12 meses. O IGP-10 calcula os preços ao produtor, consumidor e na construção civil entre os dias 11 do mês anterior e 10 do mês de referência.
Com peso de 60% na composição do IGP, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) subiu 1,29% em agosto, mostrando que o movimento de subida de preços atinge toda a cadeia. A principal contribuição para o aumento, identificou o índice, foi a variação de preços do grupo de Bens Finais (+1,60%), sob o impacto de alimentos in natura, cuja taxa passou de -2,21% em julho para 5,12% em agosto. O grupo de Matérias-Primas Brutas tiverem acréscimo de 0,55% em agosto, com pressões que vieram da soja (+6,19%), milho (+10%) e café em grão (+13,76%).
Entre as matérias-primas, os destaques foram as culturas mais afetadas pelo clima como milho (10,03%) e café (13,76%). “Afora os preços dos alimentos, os combustíveis e lubrificantes para a produção subiram 3,72% e também contribuíram para a aceleração da inflação ao produtor”, afirma André Braz, coordenador dos Índices de Preços da FGV.
Apesar das condições climáticas terem contribuído para os resultados do produtor e, por consequência, impactado no preço dos produtos até a mesa dos consumidores, o movimento crescente de alta na inflação (sobretudo dos alimentos) tem como raiz as escolhas político-econômicas do governo. De acordo com o economista e professor Nilson Araújo de Souza, o transtorno para a economia e para o bolso dos trabalhadores começou no ano passado.
“A razão básica é que, em lugar de formar os estoques reguladores no primeiro semestre do ano passado para “desovar” na entressafra do segundo semestre, o governo deixou a produção escapar para o exterior, reduzindo sua oferta no mercado interno”, explicou em entrevista ao HP.
O resultado se vê na mesa. O Índice de Preços ao Consumidor – que compõe 30% do IGP – subiu 0,88% em agosto, após crescer 0,70% em julho. Das outra classes de despesas do índice, a variação em Alimentação foi a mais importante: +1,13% em agosto, com contribuição de +5,17% dos preços dos legumes e hortaliças.
Também houve inflação importante em Habitação (+1,56%), devido especialmente à tarifa de eletricidade residencial (+5,74%). No índice para os consumidores, Transportes (+0,93%) e Saúde (+0,45%) foram as demais contribuições.
O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) variou 0,79% em agosto. No mês anterior a taxa subira 1,37%. Os três grupos componentes do INCC registraram as seguintes variações na passagem de julho para agosto: Materiais e Equipamentos (1,43% para 1,44%), Serviços (0,70% para 0,77%) e Mão de Obra (1,45% para 0,24%).
“Para reequilibrar o mercado de alimentos e conter a pressão sobre os preços, o governo poderia ter aprendido com a experiência desastrosa do ano passado e aproveitado a safra deste ano para formar os estoques reguladores. Mas não. Manteve a mesma política burra e irresponsável do ano passado. Pior ainda, a inflação, nascida no mercado de alimentos, já contaminou outros setores e se espalhou para o resto da economia. A forma inicial de contaminação ocorreu através de um perverso “indexador”, o Índice Geral de Preços (IGP-M), que reflete mais diretamente a variação dos preços das commodities e sua transformação de dólar em real, e serve de referência para a correção de aluguéis, mas termina repercutindo também nas tarifas e preços de bens e serviços públicos e outros bens e serviços cartelizados”, complementa o professor Nilson Araújo.