Os investigados por ameaças à democracia e ao Supremo Tribunal Federal (STF), Sérgio Reis, Eduardo Araújo e Turíbio Torres, entre outros, estiveram no Palácio do Planalto com Jair Bolsonaro e seus ministros.
Eles foram alvo de operações de busca e apreensão e terão que prestar depoimento por conta de ameaças violentas diretas contra o Supremo.
Sérgio Reis gravou um áudio dizendo que estava organizando uma passeata em Brasília, para 7 de setembro, e que “nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra”, referindo-se aos ministros do STF.
No dia 12 de agosto, Sérgio Reis e Eduardo Araújo se reuniram com Jair Bolsonaro, por fora da agenda oficial. Eles publicaram apenas um vídeo cantando com Bolsonaro.
No dia seguinte após o encontro com Bolsonaro, Sérgio Reis discursou na sede Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) afirmando que seu grupo pretendia parar o Brasil por 72 horas e que, se o presidente do Senado “não fizer nada” em relação ao pleito de destituir ministros do Supremo “ninguém anda no País”.
No áudio, Sérgio Reis diz que fez “uma reunião, almoçando com o presidente. Lá estava o ministro da Defesa, os generais do Exército, Marinha e Aeronáutica”. Segundo o cantor, a reunião tratou da organização do golpe do dia 7 de setembro.
O Exército negou que seus membros tenham participado de qualquer reunião com Sérgio Reis.
O caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como “Zé Trovão”, também participou do encontro. Em um vídeo, Zé Trovão disse que “o povo exige intervenção militar já, com Bolsonaro no poder”.
O empresário Turíbio Torres, que também está sendo investigado, publicou fotos com o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), com Gilson Machado, ministro do Turismo, e com Mosart Aragão, assessor especial de Bolsonaro.
Nas motociatas em Santa Catarina, Turíbio tirou uma foto com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). A legenda da publicação nas redes sociais era: “Carla Zambelli tirando nossas dúvidas sobre o movimento do dia 7 de setembro”.
Zé Trovão, nesse mesmo dia, gravou um vídeo ao lado de Carla Zambelli e disse que “depois eu vou passar por lá [Brasília], espero ver vocês, sei da pauta de vocês, Zé Trovão é um cara correto”.
Os investigados também foram até quartéis das Forças Armadas para informar sobre a manifestação golpista.
Em um vídeo publicado no Youtube, Bruno Henrique Semczeszm, que também está sendo investigado, disse que “uma equipe do movimento 7 de setembro entregou em Brasília um documento oficial informando os comandantes das três Forças Armadas sobre a realização do evento”.
OPERAÇÃO
Na sexta-feira (20), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, autorizou operações de busca e apreensão nos endereços do cantor sertanejo Sérgio Reis e o deputado bolsonarista Otoni de Paula (PSC-RJ) e os proibiu de chegarem próximos à Praça dos Três Poderes, em Brasília, por conta das ameaças à democracia.
Alexandre de Moraes afirmou que Sérgio Reis e Otoni de Paula estavam incentivando práticas inconstitucionais e tramando um movimento golpista, aproveitando-se traiçoeiramente da popular data da nossa Independência, o dia 7 de Setembro.
Declarações dos dois “revelam-se ilícitas e gravíssimas, constituindo ameaça ilegal à segurança dos ministros do STF e aos membros do Congresso Nacional”, avaliou Moraes.
A decisão do ministro também engloba o cantor Eduardo Oliveira Araújo, que era da Jovem Guarda, os empresários Turíbio Torres e Alexandre Urbano Raitz Petersen, o caminhoneiro Marco Antônio Pereira Gomes, conhecido como “Zé Trovão”, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Antonio Galvan, e outros.
Alexandre de Moraes citou em sua decisão uma live de “Zé Trovão” e um áudio de Sérgio Reis, na qual os dois defendem o fechamento do Supremo. O deputado Otoni de Paula também estava convocando seus seguidores das redes sociais para a mesma manifestação citada por Zé Trovão e Sérgio Reis.
As falas são “flagrante afronta à manutenção do Estado Democrático de Direito, em patente descompasso com o postulado da liberdade de expressão”.
“Os investigados pretendem utilizar-se abusivamente dos direitos de reunião, greve e liberdade de expressão, para atentar contra a Democracia, o Estado de Direito e suas Instituições, ignorando a exigência constitucional das reuniões serem lícitas e pacíficas; inclusive atuando com ameaça de agressões físicas”, disse Moraes em sua decisão.
Nem mesmo a Procuradoria-Geral da República (PGR), sob o comando do omisso Augusto Aras, conseguiu fingir que não viu a movimentação golpista. De acordo com a apuração da PGR, seria um “levante” com “atos violentos de protesto”. Inspirados nos moldes da invasão fracassada do Capitólio pelos vândalos de Donald Trump, nos EUA.
“O objetivo dos investigados, conforme se vê da manifestação da PGR, é ‘dar um ultimato no presidente do Senado’, ‘invadir o prédio do STF’, ‘quebrar tudo’ e retirar os magistrados dos respectivos cargos na ‘marra'”, relata o ministro Alexandre de Moraes, na decisão.
O ministro do Supremo decidiu, além das operações de busca e apreensão, que os investigados não poderão se aproximar mais de 1km da Praça dos Três Poderes e deverão ser ouvidos pela Polícia Federal.
Os depoimentos de Sérgio Reis e Otoni de Paula foram marcados para a sexta-feira (20), mas nenhum dos dois compareceu. Outras datas ainda não foram divulgadas.
CAMINHONEIROS
Sérgio Reis resolveu falar em nome dos caminhoneiros e convocar um golpe de Estado para o dia 7 de Setembro num vídeo conspirativo contra a democracia.
Diversos líderes dos caminhoneiros desautorizaram Sérgio Reis. “A gente desconhece as pessoas que estão ao lado dele”, afirmou Plinio Dias, presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Carga (CNTRC). “Sérgio Reis não representa nem os artistas, quanto mais os caminhoneiros”, destacou. Wallace Landim, o Chorão, presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), afirmou que os caminhoneiros não vão participar. “Não nos envolvemos com política, nem a favor de governo ou contra governo, nem a favor do STF ou contra o STF”, disse ele.
CANCELAMENTOS
Os cantores Guilherme Arantes, Maria Rita e Gutemberg Guarabyra, da dupla Sá e Guarabyra, cancelaram parcerias que tinham sido combinadas com Sérgio Reis por conta de seu posicionamento golpista.
Guarabyra disse que está “profundamente decepcionado com a atitude do Sérgio em ameaçar a normalidade constitucional para fazer valer seus pontos de vista, desprezando o debate leal e democrático”.
“Pregar a paralisação do país para obrigar o Senado a fechar o Supremo, vai além do rocambolesco”, comentou.
Renato Teixeira, que já gravou dois álbuns com Sérgio Reis, criticou a postura do ex-parceiro. “A democracia é um bem conquistado a duras penas. A música é uma arte democrática. Portanto, jamais usarei o meu prestígio para tentar usurpar o nosso sistema democrático”, afirmou.
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