O Ministério Público da Nicarágua acusou nesta terça-feira (24) o jornalista e ex-deputado Carlos Fernando Chamorro de “lavagem de dinheiro, bens e ativos, apropriação, gestão e retenção abusiva”, o que justificaria a sua captura. Ele é irmão de Cristiana, aspirante à presidência que se encontra em prisão domiciliar desde 2 de junho.
Então, Carlos Fernando precisou fugir para a Costa Rica no mês passado após a invasão de sua casa e o “fato iminente” de que seria preso.
Outro de seus irmãos, Pedro Joaquín Chamorro, está preso desde 25 de junho, sob o mesmo tipo de acusação: “apropriação e retenção indevida e gestão abusiva”.
O MP segue na ponta do lápis as diretrizes do regime de Daniel Ortega, que busca com a censura e a perseguição afastar todos os oponentes para viabilizar “democraticamente” a sua reeleição. Pelo comunicado, o Ministério Público disse que prossegue as investigações contra a Fundação Violeta Barrios de Chamorro, uma Organização Não-Governamental (ONG) fundada pela ex-presidente da Nicarágua (1990-1997) ao concluir seu mandato e que deixou de funcionar em fevereiro passado. Três dos quatro filhos são acusados.
Neste caso mais recente, Ortega busca asfixiar toda e qualquer fonte de sustentação do importante jornal La Prensa, de oposição, acusando a Emma Marina López e Pedro Vásquez Cortedano “por serem cooperadores necessários do delito de lavagem de dinheiro”. Emma trabalhou na fundação e Vázquez era motorista particular de Cristiana e está preso desde 15 de junho.
Ana Elisa Martínez Silva, ex-funcionária da Fundação Chamorro, é acusada por apropriação e retenção indevida, gestão abusiva e por ser cooperadora necessária do delito de lavagem de dinheiro, bens e ativos. Guillermo José Medrano, produtor de conteúdo jornalístico e a jornalista María Lourdes Arróliga são acusados por apropriação e retenção indevida.
As detenções de 34 pessoas foram qualificadas por organizações de direitos humanos como “sequestro” e seus familiares denunciam que uma vez presos jamais foi permitido sequer que falassem com nenhum deles. Jamais tiveram acesso a um advogado de defesa.
Na mira do regime encontram-se dirigentes de oposição e sete pré-candidatos presidenciais. O país irá às urnas em 7 de novembro em meio a uma crise política iniciada com a revolta social de abril de 2018, onde 328 pessoas morreram e mais de duas mil ficaram feridas nas mãos da polícia e de paramilitares orteguistas, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
A crise se agudizou com a prisão e o sequestro de líderes políticos, ex-guerrilheiros da luta contra a ditadura de Somoza, estudantes, empresários e jornalistas. Conforme a oposição, são mais de 140 “presos políticos”.
Ortega rejeita a acusação e alega que os detidos são “criminosos e terroristas” que quiseram “repetir o falido golpe de Estado de 18 de abril”.