Em agosto, atingiu recorde histórico: 72,9% das famílias
O endividamento cresceu initerruptamente passados oito meses de 2021, atingindo, neste mês de agosto, um recorde histórico: 72,9% das famílias. A informação saiu da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
A combinação desemprego, precariedade do trabalho e inflação é responsável pelo recorde na contração de dívidas, afirma a entidade.
“As fragilidades no mercado de trabalho formal e o avanço no setor informal, com elevado nível de desocupação, e a inflação elevada estão contribuindo para a maior contratação de dívidas pelas famílias”, diz a análise de divulgação do estudo de agosto.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego no país atingia 14,8 milhões de pessoas no trimestre encerrado em maio, última pesquisa divulgada. Enquanto isso, a subutilização (que inclui desocupados, desalentados e pessoas que trabalham menos horas do que poderiam) alcançava quase 30% da população em idade de trabalhar. Neste mesmo período, a inflação – em especial dos alimentos e custos com habitação e transporte – não deixaram de dar trégua. A prévia do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto aponta que a inflação do país já acumulou alta de 9,30%.
O percentual está 5,5 pontos percentuais acima do que foi observado em agosto do ano passado e supera em 7,8 pontos o percentual de fevereiro de 2020, anterior à pandemia. A parcela média da renda comprometida com dívidas chegou a 30,4% da renda familiar.
O cartão de crédito continuou sendo, proporcionalmente, a principal modalidade de endividamento, alcançando 83,6% dos débitos – quase 5 pontos percentuais acima de fevereiro de 2020, quando começou a pandemia. Com as rendas pressionadas, é cada vez mais comum que o cartão seja o meio de as famílias bancarem as despesas mensais e até mesmo pagar as contas básicas.
“Dentre as famílias mais pobres, o orçamento apertado tem influenciado o maior uso do cartão de crédito também para aquisição de itens de primeira necessidade, como alimentos e produtos de higiene, por exemplo”, complementa o estudo.
Do total de endividados entrevistados para composição da pesquisa, a proporção dos que afirmam que estão com dívidas e contas em atraso é de 25,6% em agosto. Outros 10,7% dizem que não terão condições de pagar as dívidas contraídas.
“Não é uma conta simples de soma e subtração. O crédito tem ajudado muita gente na recomposição da renda. Na pandemia, muitos têm recorrido à informalidade e investido em pequenas atividades para garantir seu sustento, por isso o acesso ao crédito é tão importante. Mas há uma necessidade grande de planejamento do orçamento familiar para que esse alívio não vire um problema ainda maior do que o que se tinha inicialmente, uma bola de neve”, alerta o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
A pesquisa acentua que os conceitos de endividamento e inadimplência são distintos. Números coletados pela CNC apontam que, em termos de inadimplência (quando um consumidor deixa de pagar as suas dívidas e tem o nome incluso nos serviços de proteção ao crédito), o percentual de agosto foi de 25,6% das famílias. Para a entidade, a possibilidade de que a taxa básica de juros aumente nos próximos meses é um “risco para o acirramento deste indicador à frente, num cenário de predomínio de restrições nos orçamentos das famílias, especialmente as de menor renda”.
“O crédito mais caro e as despesas elevadas restringem a capacidade de consumo das famílias. Enquanto faltarem sinais mais robustos de recuperação no mercado de trabalho formal e na renda, com alívio da inflação, as necessidades de recomposição dos rendimentos pelos mais vulneráveis seguirão elevadas. Com isso, o endividamento no País pode aumentar ainda mais”, avisa a economista Izis Ferreira, responsável pelo estudo.