Preços dos produtos disparam no prévia da inflação de agosto
Os preços proibitivos da carne bovina estão fazendo com que os brasileiros abandonem o consumo da proteína. Com a carestia generalizada (em agosto, a inflação do país bateu o recorde dos últimos 19 anos) que elevou o custo de vida da população nos últimos meses, comer carne ficou praticamente impossível. Indicadores recentes da inflação mostram que os preços das carnes nas prateleiras ficaram 34% mais caras nos últimos 12 meses, período que coincide com a pandemia e com o desemprego batendo recordes no país.
No índice mais recente, o IPCA-15 de agosto – que funciona como uma prévia da inflação – o preço da carne vermelha aparece com crescimento de 9,42% nos oito meses de 2021, com forte contribuição para que a variação do grupo “Alimentos e Bebidas” disparasse 5,07% no mesmo período.
O preço das aves e ovos, que vinham substituindo as carnes pelas famílias, também começam a disparar e acumulam no ano altas consideráveis, de 12,82%, de acordo com o IPCA-15. Em 12 meses, acumula aumento de 20,35%.
Sem uma politica de segurança alimentar à população, o governo Bolsonaro comemora a exportação desenfreada dos produtos que estão faltando na mesa do brasileiro e nada faz para conter os preços dolarizados na comercialização dentro do país, onerando o produtor e o consumidor.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, as razões para o aumento da carne bovina diferem dos motivos para as outras proteínas. Enquanto os produtores de gado tiveram redução na produção e maior exportação, a culpa pelo preço maior do frango, do porco e dos ovos recai sobre os insumos para a criação dos animais.
De acordo com a Embrapa, os custos de produção em geral subiram 52,30%, para o frango, e 47,53%, para os suínos, nos últimos 12 meses. Matérias-primas para a ração, o milho teve alta de preços de 68,8% em 2020, enquanto a soja ficou 79,4% mais cara no atacado. As projeções para 2021 são de aumento de 39,8%, para o milho, e de 7,2%, para a soja.
O pesquisador Thiago Bernardino de Carvalho, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que “o ovo é o destaque, porque é mais barato, só que a demanda está mais aquecida, e o custo de produção também subiu”.
As famílias estão tendo que fazer mágica para se equilibrar, mas o aumento da pobreza e da pobreza extrema têm sido a consequência mais perversa da disparada dos preços combinada com uma economia em crise generalizada, com desemprego recorde e renda comprimida.
Filas de pessoas aguardando por restos e ossos em açougues passaram a estampar as manchetes do jornal do país em 2021, ano em que, segundo o governo, o Brasil estaria em “plena recuperação”.
Dados colhidos pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) mostram que o consumo de carne caiu 5% no ano passado, ao passo que ovos e frango passaram a substituir o consumo. Diante da crise e da inflação crescente, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já estima que o brasileiro consumirá, neste ano, a menor quantidade de carne vermelha dos últimos 25 anos.
Além da carne, a pesquisa de preços realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que, o valor do arroz com feijão – a base da alimentação do brasileiro – já sofreu aumento de 60% nos últimos 12 meses.
Mas não são apenas os alimentos que estão pressionando o custo de vida das famílias. O botijão de gás disparou 29% nos últimos 12 meses até julho; a conta de energia elétrica, teve variação de 60% diante da revisão de tarifas autorizadas pelo governo. Todos produtos cujos preços poderiam ser administrados pelo governo.
E a prévia da inflação indica mais aumentos à vista. O IPCA-15 já registrou o peso do aumento das tarifas e dos combustíveis no bolso do consumidor em agosto. A energia subiu no período 5% e o botijão de gás cerca de 4%.
Enquanto isso, Bolsonaro chama de idiota quem diz que é melhor comprar feijão do que fuzil. “Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Tem um idiota: ‘Ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”, declarou no cercadinho do Palácio do Planalto, nesta sexta-feira (27).