Dentre todos os estados brasileiros cuja população sofre com a pobreza, o Distrito Federal foi a unidade da federação onde o percentual de pessoas em situação de miséria mais cresceu.
A pobreza na capital federal, Brasília, sede dos Três Poderes, registrou aumento de 7,9 pontos percentuais do primeiro trimestre de 2019 até janeiro de 2021 – passando de 12,9% para 20,8% da população. A pobreza extrema cresceu 4,1 pontos percentuais no período, subindo de 3,2% para 7,3% dos habitantes.
Os dados são de pesquisa realizada pelo economista Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).
No DF, o índice de crescimento da pobreza foi bem superior ao de outros Estados, embora em outras regiões o percentual da população pobre seja maior. A nível nacional, o estudo observou aumento da pobreza em 24 das 27 unidades da federação, com o percentual da população geral nessa situação tendo crescido de 25,2% em 2019 para 29,5% em janeiro de 2021.
Os critérios da pesquisa são os mesmos do Banco Mundial, que considera pobre quem tem renda compatível com US$ 5,50 por dia – R$ 28,60 em reais. A pobreza extrema considera quem vive com US$ 1,90 por dia, ou R$ 10,45.
Resultado de uma economia em crise, o empobrecimento da população acelerou durante a pandemia de Covid-19. “Foi um grande choque no emprego e na renda das famílias, que foi mitigado, em grande parte de 2020, pelo auxílio emergencial. Mas, como não tivemos o auxílio no primeiro trimestre de 2021, com a economia ainda em recuperação, houve esse aumento da pobreza”, diz Daniel Duque.
“Na pandemia, todos os centros urbanos mais ricos, como o DF, sofreram um grande impacto no mercado de trabalho. Nesses locais, um colchão de renda, como o do Bolsa Família, tem menor importância. A renda do trabalho é mais importante para os estados mais ricos do que para os mais pobres. Dessa forma, eles acabaram absorvendo quase que a totalidade do choque econômico da pandemia”, explica o autor do estudo.
Duque observa que o DF foi uma das unidades mais afetadas pela Covid-19 no país – ao lado do Amazonas – tendo chegado a ser epicentro de casos em alguns momentos. “Isso afetou muito a geração de empregos e a economia como um todo, favorecendo esse aumento da pobreza e da pobreza extrema”, diz.
Desigualdade
Mesmo abrigando a capital e o centro político do Brasil, o DF é uma das unidades da federação mais desiguais – em segundo lugar no ranking do Índice de Gini. Historicamente, o DF atrai pessoas que enfrentam dificuldades em seus Estados e que querem tentar a vida no centro do país.
O economista Benedito Salomão, complementa que o aumento da pobreza no DF tem sido causado por uma série de fatores, mas, principalmente, pela incapacidade da economia brasileira de crescer e de gerar empregos.
“O país vem apresentando taxas de crescimento modestas há 10 anos, sem gerar postos de trabalho suficientes”, diz. “Isso foi muito agravado pela pandemia e pela falta de políticas públicas assertivas do governo federal, que deveria coordenar esse processo”, afirma.