
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho de Jair Bolsonaro, para investigar a contratação de funcionários fantasmas e rachadinha (confisco de salários dos funcionários).
O Tribunal quebrou o sigilo de outras 26 pessoas e sete empresas que podem estar envolvidas no esquema.
O pedido de quebra de sigilo foi apresentado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). No documento, os procuradores lembram que o irmão de Carlos, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota), também indicava para seu gabinete pessoas que não trabalhavam e deviam passar grande parte de seus salários para Flávio, através de Fabrício Queiroz, ex-assessor e operador do esquema.
Também existem indícios de que Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro tinham o esquema criminoso de “rachadinha” em seus gabinetes. Os familiares até revezavam os assessores, que pulavam de um gabinete para o outro e eram, muitas vezes, ligados à família.
De acordo com o MP-RJ, “o inquérito que apura a contratação de supostos funcionários fantasmas e da prática de ‘rachadinha’ no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro tramita na 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Rio de Janeiro, que, em razão do sigilo decretado, não fornecerá outras informações”.
Na prática de rachadinha, grande parte do dinheiro circula em espécie, uma vez que os assessores fantasmas sacam parte do salário para entregar ao parlamentar.
Carlos foi eleito vereador aos 17 anos, em 2001, por conta do eleitorado de seu pai.
Em 2003, Carlos Bolsonaro usou R$ 150 mil em espécie para comprar um apartamento na Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro. A compra foi citada pelo MP-RJ no pedido de quebra de sigilo.
Uma das assessoras fantasmas era Nadir Barbosa Goes, que tem mais de 70 anos.
Ela constava como assessora de Carlos Bolsonaro até o começo de 2019, recebendo um salário de R$ 3.461. Questionada pelo jornal Folha de S.Paulo, Nadir disse que nunca trabalhou para o vereador.
Em um áudio vazado, Andrea Siqueira Valle, que é irmã da ex-esposa de Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, confirma a existência de um esquema de rachadinha no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.
Na gravação, Andrea relata que seu outro irmão, André, que foi assessor de Bolsonaro era pressionado e foi demitido porque devolvia um valor inferior ao “combinado”.
Andréa confirmou, ainda, que participou da rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). “Eu ficava com mil e pouco e ele ficava com sete mil reais”, disse.
Andréa Siqueira Valle também foi assessora de Carlos Bolsonaro.
Um ex-assessor de Carlos, Márcio Gerbatim, que já passou pelo gabinete de Flávio, sacava todo o seu salário.
Entre 2008 e 2010, ele recebeu um montante de R$ 81 mil como salário do gabinete de Carlos Bolsonaro. Nesses anos, o assessor sacou um total de R$ 90 mil de sua conta.
Márcio teve seu sigilo quebrado por conta das investigações sobre o gabinete de Flávio. Gerbatim é ex-companheiro de Márcia Aguiar, atual mulher de Fabrício Queiroz, que coordenava o esquema no gabinete de Flávio.