
Sem condições para pagar mais de R$ 100 em um botijão, as famílias mais carentes acabam comprando alguns litros de álcool em postos de combustíveis, o que permite cozinhar por alguns dias
Uma família sofreu queimaduras graves após uma explosão causada pela tentativa de cozinhar com álcool, em Anápolis, a 55 km da capital de Goiás. O material inflamável era usado, pois eles não tinham dinheiro para comprar um botijão de gás.
Benta Maciel Correa e o marido, Israel Rosa, estavam preparando um almoço na casa do cunhado quando o material inflamável explodiu. Agora eles buscam ajuda para pagar o tratamento.
“Era aniversário do meu cunhado, não tinha botijão de gás, só faltava cozinhar o feijão. Meu marido estava com o galão de álcool na mão, quando coloquei o fogo com o papel e o galão explodiu”, explicou Benta.
O acidente aconteceu no último dia 7 de agosto e todos foram levados por vizinhos ao Hospital de Queimaduras de Anápolis, onde ficaram internados por 20 dias. Benta explica que o fogo se espalhou rapidamente e acabou atingido também a sobrinha de 10 anos que estava perto dos dois, além de parte da casa.
“Só lembro que o fogo pegou primeiro no meu cabelo. Minha sobrinha, que passava perto da gente, também se queimou. Eu e meu esposo ficamos na UTI”, ressaltou.

Também no estado de Goiás, Wiviane Lima de Oliveira, de 23 anos, sofreu queimaduras após a casa pegar fogo por ela cozinhar com álcool devido à falta de dinheiro para comprar um botijão de gás, em Abadia de Goiás, Região Metropolitana da capital.
“Eu estava sem gás e já tinha cozinhado outras vezes assim, o fogo voltou na minha mão e explodiu, joguei o galão no chão e pegou fogo na casa toda”, explica Wiviane.
O acidente aconteceu na quarta-feira da semana passada (25) e Wiviane está internada no Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), em Goiânia. Ela já passou por duas cirurgias.
Com os repetidos aumentos no preço do botijão de gás realizados pelo governo Bolsonaro, a situação torna-se cada vez mais comum. Sem condições para pagar mais de R$ 100 em um botijão, as famílias mais carentes acabam comprando alguns litros de álcool em postos de combustíveis, o que permite cozinhar por alguns dias.
O risco, no entanto, é imenso e tem levado cada vez mais pessoas para os hospitais de queimaduras por todo o país.
Em Minas Gerais, por exemplo, a alta ocupação de leitos para queimados faz com que pacientes precisem esperar por vagas e encarar trajetos que podem passar de 800 km para chegar a um dos poucos destinos de referência no Estado.
A alta demanda se reflete na lotação no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, em Belo Horizonte. Durante o mês de agosto, das 33 vagas, apenas uma estava disponível na enfermaria pediátrica. “Aqui fica lotado e nem sempre os pacientes transferidos chegam tratados de forma adequada, o que aumenta a chance de infecção no setor. Sem falar da angústia: a gente sabe que o paciente precisa ir para um CTI, um bloco cirúrgico, e não tem como absorver ele aqui”, relatou a coordenadora da Unidade de Tratamento de Queimados do João XXIII, Kelly Danielle de Araújo.
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