Um ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e ex-funcionário da família Bolsonaro confirmou que a família praticava “rachadinha” e tinha assessores fantasmas nos gabinetes de Flávio e Carlos Bolsonaro, um esquema comandado por Jair Bolsonaro.
Marcelo Luiz Nogueira dos Santos resolveu denunciar o caso depois de ter sido enganado pela ex-esposa de Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle.
Segundo o relato de Marcelo, dado ao jornal Metrópoles, era Ana Cristina, então esposa de Jair Bolsonaro, quem centralizava a retirada de parte dos salários dos assessores nos gabinetes de Flávio e Carlos Bolsonaro.
Depois da separação de Ana Cristina e Jair Bolsonaro, quem assumiu a tarefa no gabinete de Flávio foi Fabrício Queiroz.
A reportagem afirma que “Jair, Flávio e Carlos teriam, segundo ele, conhecimento de tudo”.
No caso de Marcelo dos Santos, que diz que efetivamente trabalhava no gabinete de Flávio (ou seja, não era um assessor fantasma), 80% do salário, que era de R$ 7,3 mil, era devolvido para a família Bolsonaro em espécie. Com assessores fantasmas, o valor retirado era ainda maior.
Tendo trabalhado no gabinete de Flávio Bolsonaro entre 2003 e 2007, somente do salário de Marcelo Luiz Nogueira foram retirados cerca de R$ 340 mil.
“Das pessoas que não trabalhavam, que eram só laranjas, ela ficava com praticamente tudo, só dava uma mixaria para usar o nome e a conta da pessoa. Eu ainda ganhava mais ou menos, porque trabalhava. Para o pessoal de Resende, ela só dava um “cala-boca” para usar o nome e a conta, porque eles não trabalhavam. Eu trabalhava, então ganhava um pouco a mais. Não era igual para todo mundo. Cada caso era diferente. Mas vamos colocar nessa faixa, de uns 80%”, afirmou Marcelo no depoimento ao jornal.
“Ela comia o dinheiro todo”.
ANA COMPROU MANSÃO COM DINHEIRO DA RACHADINHA
Marcelo afirmou que a mansão em que Ana Cristina e Jair Renan Bolsonaro foram morar em Brasília, avaliada em R$ 3,2 milhões de reais, na verdade foi comprada com dinheiro das rachadinhas e em nome de laranjas.
“Ela tem coisas no nome de laranjas”, disse o ex-funcionário.
“Como na casa atual, de Brasília, que também foi comprada no nome de laranjas”.
“Ela mesma me contou. Participei de tudo, de toda a transação. Ela me contava. Contava para mim e para o Renan. Sei de tudo”, denunciou.
A ex-esposa de Jair Bolsonaro usou o nome de laranjas, que estão recebendo o valor do aluguel. “Foi laranja nessa situação. Eles fizeram um contrato de gaveta de compra e venda e registraram como aluguel. Entendeu? Eles têm o contrato de Brasília, de compra e venda, para quando ela acabar de quitar a casa passar para o nome dela, porque queria evitar escândalo”.
Marcelo contou ainda que Ana Cristina deu um valor de entrada no imóvel, mas não sabe informar de quanto.
TRABALHO ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO
Entre 2007 e 2009, depois que saiu do gabinete de Carlos Bolsonaro, Marcelo dos Santos trabalhou cuidando do filho de Ana Cristina com Jair Bolsonaro, Jair Renan, que tinha 9 anos. Em 2009, Ana Cristina foi morar na Noruega.
A partir de 2014, quando Ana Cristina já estava de volta no Brasil, Marcelo voltou a trabalhar para ela, fazendo serviços domésticos em Resende, no Rio de Janeiro, e, nos últimos meses, na mansão em Brasília.
O combinado feito entre Marcelo e a ex-esposa de Jair Bolsonaro era que o salário para ele cuidar da mansão em Brasília seria de R$ 3 mil, mas Ana Cristina não cumpriu o acordo, pagando apenas R$ 1,3 mil.
“Quando passou o primeiro mês, que fui pedir meu pagamento, ela veio com R$ 1,3 mil. Porque em Resende, ela me pagava R$ 1,3 mil. Falei: ‘Você não combinou isso comigo’. Ela me disse: ‘Marcelo, não posso te dar agora, porque não tenho dinheiro. Tem que esperar’”.
Falei: ‘Esperar? Você comprou casa, está reformando casa e eu que tenho de esperar? Está de sacanagem com a minha cara. Você me tirou do Rio, me desfiz das minhas coisas, da minha casa, montei toda a minha casa, acabei dando tudo, para você fazer isso comigo?’ Ela: ‘Você vai ficar morando na minha casa’. Eu disse que não era obrigado a morar na casa dela”.
“Falei para ela: ‘Cristina, não sou obrigado a morar na sua casa. Trabalho para ter meu canto e em Brasília tudo é caro. Você pensa que vou ficar na sua casa e ser seu escravo? A escravidão já acabou. Você é racista. Isso é racismo. Você me tirou lá do Rio só porque em Brasília eu não tenho ninguém e não conheço nada? Acha que vou aceitar o que quer fazer comigo? Está muito enganada, minha filha’. E juntei todas as minhas coisas e meti o pé”, contou.
Marcelo dos Santos relatou que saiu da casa em junho de 2021, colocando suas coisas na caminhonete do pedreiro que prestava serviços na mansão, sem sequer saber para onde ir. Ele ficou um mês em um apartamento de Jair Bolsonaro, por ação de Jair Renan.
O empregado buscou o Ministério Público do Trabalho no Distrito Federal (MPT-DF) e denunciou Ana Cristina Siqueira Valle por violações trabalhistas. O MPT-DF confirmou a existência da denúncia e disse que abriu uma investigação sobre o caso.
CRISTINA TRAIU BOLSONARO COM SEGURANÇA
O ex-assessor disse que Ana Cristina Siqueira Valle foi tirada do comando das operações das rachadinhas nos gabinetes de Carlos e Flávio depois que Jair Bolsonaro descobriu que ela o estava traindo.
Marcelo Luiz disse que ele mesmo saiu do gabinete de Carlos, em 2007, “justamente quando deu problema com a traição”.
Segundo Marcelo, Jair Bolsonaro descobriu que estava sendo traído por Ana Cristina com um bombeiro militar, chamado Luiz Cláudio Teixeira, que era segurança da família no Rio de Janeiro.
Ana Cristina chegou a comprar um flat para ter encontros com Luiz Cláudio.