E para piorar, a indústria do frango utiliza energia elétrica 24 horas por dia, para acelerar o processo de maturação das aves para abate e de produção de ovos. Com a alta da energia os preços vão subir mais ainda
O frango ficou 8,6% mais caro nos supermercados paulistanos apenas em agosto, segundo a Associação Paulista de Supermercados (APAS). No acumulado desde janeiro a alta é de 21,42%. Em 12 meses, de 40,44%.
Com a alta no preço do produto, que vinha substituindo as carnes, que estão com os preços explosivos nos supermercados, está também mais difícil comer frango.
Dona Cida, empregada doméstica com carteira assinada, recebe um pouco mais do que um salário mínimo. O marido é pedreiro. Ela lamenta a alta dos preços do feijão, leite, óleo e açúcar e lembra quando comprava o frango inteiro a R$ 13,00 o quilo.
Na semana passada, dona Cida pagou pelo quilo do filé de frango R$ 23,00. Há pouco tempo, o preço do mesmo quilo do filé custava R$ 15,00. Um aumento de 53%.
“Tá difícil, aumentou muito, tá tudo caro, a gente vai no supermercado e só aumentos dos preços”. “Até os ovos que a gente comprava a R$ 10,00, uma cartela de 30 ovos, nos ‘carros dos ovos’ agora o preço foi para R$ 16,00”, declarou.
Ao questioná-la sobre como então ela faz para enfrentar a situação, dona Cida declarou. “Eu acabo comprando menos mistura. Ao invés de um quilo de carne eu compro meio quilo e a gente come menos, dá pra sentir o gostinho”.
Certamente para quem não tem salário certo, tem que pagar aluguel, já deve ter deixado mesmo de comer o meio quilo.
Além da carestia no preço dos alimentos, o consumidor enfrenta o aumento na conta de luz que corrói a já minguada renda do trabalhador. Para os produtores a situação também não está diferente.
De acordo com Diego Pereira, economista da Apas, a crise energética agrava ainda mais a situação. “A indústria do frango utiliza energia elétrica 24 horas por dia, para acelerar o processo de maturação das aves para abate e de produção de ovos”, diz o economista. “Então esse incremento de preços da energia em decorrência do acionamento das usinas termelétricas está sendo repassado para toda a cadeia”.
O aumento de 50% na nova bandeira tarifária que começou a vigorar este mês, setembro, ainda não refletiu no levantamento da APAS.
Segundo Pires, os reajustes da bandeira de energia a partir de julho se somaram a um outro efeito que já vinha impactando o preço da aves e seus derivados desde o início do ano: a alta das “commodities”, particularmente do milho e da soja, ingredientes da ração usada na alimentação de pintos, frangos e galinhas.
“Soja e milho compõem cerca de 70% da ração animal”, diz o economista, acrescentando também a alta no preço dos combustíveis, que pendurados no dólar, já aumentaram mais de 50% nas refinarias este ano com aval do governo Bolsonaro. No ano, a gasolina acumula alta de 31,09%, o etanol 40,75% e o diesel 28,02%, segundo o IPCA de agosto.