Comissão considera comprovado que Marcos Tolentino é “sócio oculto” de empresa fiadora e suspeita da participação em esquema de corrupção envolvendo vacina contra a Covid-19. Ele negou atuação em depoimento no Senado
O advogado e empresário Marcos Tolentino da Silva negou, nesta terça-feira (14), em depoimento à CPI da Covid-19 no Senado, ser “sócio oculto” da FIB Bank, que apesar do nome não é banco.
Tolentino se recusou a responder a maior parte das perguntas dos senadores da CPI para não se incriminar, amparado em habeas corpus obtido no Supremo Tribunal Federal (STF). Mas como disse o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, o silêncio de Tolentino acabava incriminando-o, pois sinalizava que ele estava escondendo coisas tenebrosas envolvendo a negociação da vacina Covaxin.
A empresa foi a responsável pela garantia financeira de R$ 80,7 milhões dada à Precisa Medicamentos no contrato com o governo federal para compra da vacina indiana Covaxin.
Alvo de denúncias de corrupção, o acordo para aquisição do imunizante contra a Covid-19 acabou cancelado pelo Ministério da Saúde. Apesar da negativa do advogado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão, afirmou que a CPI tem provas de que Tolentino controla a FIB Bank como parte de “emaranhado” de empresas.
A comissão identificou o repasse de R$ 336 mil feito pela FIB Bank para empresa em nome da mãe de Tolentino.
“Várias matérias apontam que Tolentino é o verdadeiro dono da FIB Bank, sendo o ‘sócio oculto’ da empresa e, por ser amigo direto do deputado Ricardo Barros [PP-PR], teria facilitado a emissão da carta fiança a favor do contrato da Precisa Medicamentos e de outros contratos no Ministério da Saúde”, afirmou Renan Calheiros.
O advogado evitou falar da atuação de empresas ligadas a Barros, líder do governo Bolsonaro na Câmara. Apesar disso, do pouco que falou na CPI, Tolentino admitiu sua ligação com Ricardo Barros, com o FIB Bank e encontros com Jair Bolsonaro.
SUSPENSÃO DE TODOS CONTRATOS COM GOVERNO
Segundo os senadores da CPI, Tolentino está envolvido na emissão de cartas de fiança em contratos com a União que atingem o valor de cerca de R$ 600 milhões. Por isso, a comissão aprovou requerimento à PGR (Procuradoria-Geral da República) pela suspensão de todos os contratos com o governo que usem a FIB Bank como instituição garantidora.
A CPI também decidiu pedir ao TCU (Tribunal de Contas da União) auditoria nesses contratos.
RELATÓRIO E CRIMES DE BOLSONARO
Calheiros disse ao final da reunião desta terça-feira que deve apresentar o relatório final à CPI, em 23 ou 24 de setembro, com o objetivo de aprovar o documento até o dia 30.
Segundo ele, o texto vai apontar crimes de responsabilidade supostamente cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro e recomendar alterações na legislação que trata da tramitação de processos de impeachment no Congresso.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a CPI quer mudar a lei para tirar do presidente da Câmara o poder de decidir sozinho quanto à abertura de processos de impeachment.
M. V.