O artigo abaixo, do historiador Raul Carrion, presidente da Fundação Maurício Grabois do Rio Grande do Sul, traz uma importante reflexão – e especialmente aguda, por seu caráter de síntese – sobre o novo patamar atingido pela luta contra Bolsonaro e o fascismo, após as manifestações de Sete e de 12 de setembro (C.L.).
A luta revolucionária não admite estreitezas e moralismos pequeno-burgueses!
RAUL CARRION
Em 1939,depois de tentar infrutiferamente uma aliança com as “democracias” (imperialistas) ocidentais contra Hitler, Stalin assinou um tratado de “não agressão” com Hitler e com isso ganhou dois anos para se preparar para derrotar Hitler.
Alguém acha que ele tinha alguma ilusão quanto a Hitler?
Atacado por Hitler, ele aliou-se aos imperialismos inglês, estadunidense e francês para lutar contra o nazifascismo e derrotá-lo.
Alguém acha que ele tinha alguma ilusão quanto a esses imperialismos?
Graças ao seu discernimento a humanidade não caiu nas garras da escravidão nazi-fascista!
Em 1937, quando o Japão invadiu a China, Mao Tsé-Tung propôs a Chiang Kai-check – que havia assassinado milhares de comunistas – uma aliança contra os japoneses.
Em 1946, reiniciou a luta contra Chiang Kai-check e o derrotou, conquistando o poder em 1949.
Alguém acha que ele tinha alguma ilusão quanto a Chiang Kai-check?
Em 1984, após a derrota da emenda das diretas no Congresso, João Amazonas trabalhou com afinco para construir uma aliança com o presidente da ARENA (José Sarney), com o vice-presidente no governo ditatorial (Aureliano Chaves) e com outros reacionários (como Antônio Carlos Magalhães) para – no “colégio eleitoral” (valha-me Deus!) – derrotar Paulo Maluf, o candidato da continuidade da ditadura.
Alguns meses depois, o “viciado e ilegítimo colégio eleitoral” elegeu Tancredo Neves!
Quando Tancredo morreu e muitos resistiam a que o vice José Sarney assumisse, Amazonas lutou para que fosse cumprida a Constituição.
Com Sarney na Presidência, o Brasil transitou, “aos trancos e barrancos”, para a redemocratização.
Alguém acha que João Amazonas tinha ilusões quanto a José Sarney, Aureliano Chaves ou Antônio Carlos Magalhães?
Poderíamos citar dezenas de situações similares…
O que todos esses casos indicam é que a luta revolucionária não é um caminho reto, sem zig-zags, sem avanços e recuos, sem alianças as mais variadas, baseadas no combate ao inimigo principal de cada momento.
A nossa bússola nessa difícil caminhada é o marxismo-leninismo e não as concepções moralistas ou pequeno-burguesas (como o trotsquismo e suas variantes).
Quem não compreende a necessidade de aglutinar, hoje, as mais amplas forças, para deter e derrotar a ultra-direita e o fascismo no Brasil, desconhece a teoria do proletariado, que se alimenta da sistematização da sua luta histórica!
O que não significa ter qualquer ilusão quanto aos MBLs da vida ou em relação aos setores conservadores e neoliberais que hoje fazem oposição a Bolsonaro e podem ser aliados fugazes contra a escalada golpista em andamento.
O momento não admite vacilações!
13.09.21