“De um lado, sobe o juro e agora, sobe o imposto. Isso agrava o quadro de consumo, impacta negativamente os financiamentos e dificulta ainda mais qualquer recuperação”, avalia Anefac
Com a economia estagnada, desemprego recorde e explosão da inflação, o governo Bolsonaro decidiu aumentar o imposto sobre operações financeiras (IOF), prejudicando ainda mais os consumidores que enfrentam queda na renda e as empresas que amargam as consequências da pandemia. O IOF, tributo que incide sobre operações de crédito para empresas e pessoas físicas, sofrerá um aumento a partir da próxima segunda-feira (20) até 31 de dezembro deste ano.
No decreto, publicado na sexta-feira (17), as novas alíquotas diárias do IOF para pessoas físicas subirão dos atuais 3,0% para 4,08% e nas operações feitas por empresas, passarão de 1,5% anual para 2,04% anual. O governo espera arrecadar R$ 2,14 bilhões com o aumento na alíquota do IOF.
Depois dos atos antidemocráticos que foram realizados em 7 de Setembro, a rejeição a Bolsonaro cresceu ainda mais, chegou a 53%, pior índice do mandato, segundo o Datafolha, e agora o inquilino do Palácio do Planalto tenta recuperar campo com os brasileiros que ele mesmo empurrou para pobreza e extrema pobreza na pandemia, apostando na ampliação do Auxílio Brasil, antigo Bolsa Família, até o fim do ano, que seria financiado pelo aumento do imposto. Hoje são 14,6 milhões de pessoas no Bolsa Família.
Na prática, o aumento do imposto vai encarecer os empréstimos e financiamentos, cujo juros já estão altíssimos no país, diante dos recentes movimentos do Banco Central (BC) de realizar aumentos na taxa básica de juros (Selic) a pretexto de combater a inflação. Na próxima semana, o BC deve elevar novamente os juros, passando a taxa Selic de 5,25% para 6,25% ao ano.
Até a federação dos bancos se manifestou contra o aumento do imposto. Em nota, a Febraban afirmou que “o resultado é o desestímulo aos investimentos e mais custos para empresas e famílias que precisam de crédito. Esse aumento do IOF é um fator que dificulta o processo de recuperação da economia”.
O diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, alerta que é muito ruim o governo ter aumentado o imposto em um momento em que a “economia está andando de lado”.
“A inadimplência está mais alta e a queda de renda se acentua com inflação acelerada, a taxa básica de juros impacta com altas consecutivas dos juros cobrados nos empréstimos”, declarou Oliveira ao Estadão. “De um lado, sobe o juro e agora, sobe o imposto. Isso agrava o quadro de consumo, impacta negativamente os financiamentos e dificulta ainda mais qualquer recuperação”, completou.