Pesquisadores apontam “tempestade perfeita” para queda nas expectativas das empresas e famílias: inflação, aperto no crédito, crise hídrica
“A piora do quadro econômico e pandêmico, somada a crises políticas e institucionais, injetou nova onda de incerteza na primeira quinzena de setembro”, afirmam os economistas da FGV/Ibre Silvia Silvia Matos e Armando Bacelar.
Com o desemprego recorde e queda na renda, a confiança das famílias e empresários na recuperação do país permanece no chão diante do grave quadro inflacionário do país e do baixo crescimento.
O boletim de setembro da FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) prevê uma queda no Produto Interno Bruto de -0,1% no terceiro trimestre frente ao segundo trimestre, quando o PIB já teve uma queda de -0,1% em relação ao primeiro trimestre. Os pesquisadores destacam que o risco de racionamento de energia ainda não foi contabilizado, mas ressaltam o aperto no crédito. O aperto monetário promovido pelo Banco Central através do aumento acelerado nas taxas de juros e o recente aumento do imposto sobre as transações financeiras (IOF) dificultam ainda mais o crédito para empresas e famílias. “Colocam mais lenha na fogueira”, alertam os pesquisadores. Além do mais, o programa do Auxílio Emergencial de ajuda aos milhões de brasileiros na pandemia está perto do fim.
“As prévias das Sondagens do IBRE de setembro mostram queda generalizada da confiança de empresários e consumidores, tanto na avaliação da situação atual como no componente das expectativas. Outro ponto negativo das pesquisas foi o Indicador de Incerteza, com destaque para o componente relacionado à incerteza política”, afirma o documento.
Os pesquisadores ressaltam que “enquanto o impacto da pandemia retrocede, outros fatores contribuem para aumentar as preocupações com o desempenho da economia. O primeiro deles é a inflação, que segue muito elevada e tem surpreendido sistematicamente para cima”.
A avaliação do boletim aponta como cenário macroeconômico a alta dos preços internacionais de commodities (da ordem de 40%), que aliado à uma política de preços de paridade com os preços internacionais “jogou para cima o preço dos alimentos, derivados de petróleo e outros bens”. Os custos de transporte, somados à crise hídrica e energética, também “acentuam o choque de preços nas atividades industriais”.
Para os economistas, estamos em uma “tempestade perfeita, que tem gerado maior desancoragem nas expectativas para os próximos anos”. O Boletim estima que o IPCA feche este ano em 8,7% e, no próximo ano, em 4,1%.
O documento destaca que, embora com a vacinação e reabertura das atividades econômicas, “o PIB avançou minguados 0,1%, frustrando as expectativas de um crescimento mais forte para este ano. Com isso, as previsões foram revistas para baixo – o Boletim Macro está com 4,9% de crescimento do PIB, com possibilidade de viés para baixo. Mas o quadro desenhado para o ano que vem não é nada animador”.
Silvia e Armando adicionam que, a nível de comparação com a recuperação mundial, “os indicadores antecedentes da economia brasileira são menos favoráveis que os de outras grandes economia”.
É o caso dos indicadores da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que mostram que o Brasil é a única grande economia que já entrou em desaceleração, enquanto países emergentes, como China e Rússia, terão crescimento constante acima da média mundial.