“São mais de 14 milhões de desempregados e a tendência é que as pessoas voltem subocupadas, ou seja, trabalhando menos horas do que gostariam e em empregos informais. Com mais gente nesses empregos que pagam menos, o rendimento médio vai cair mais. E as perspectivas de aumento da inflação só prejudicam ainda mais o quadro”, afirma pesquisador do IDados. É o menor nível desde 2017
Sob Bolsonaro, a renda média do trabalhador brasileiro com algum tipo de ocupação encolheu neste último trimestre e atingiu o valor mais baixo desde 2017. Segundo dados da consultoria IDados, com base em indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), a renda média real do trabalho ficou em R$ 2.433 no 2º trimestre de 2021, o que representa uma queda de quase 7% na comparação com o mesmo trimestre de 2020, cerca de R$ 2.613, já descontada a inflação do período.
Na avaliação do pesquisador do IDados e autor do estudo, Bruno Ottoni, a renda dos trabalhadores pode ter um achatamento ainda maior ao longo dos próximos meses, em razão dos mais de 32,2 milhões de pessoas que hoje procuram por uma vaga de trabalho no país e pela retomada de empregos que concentram as remunerações mais baixas.
“Ainda são mais de 14 milhões de desempregados e a tendência é que as pessoas voltem subocupadas, ou seja, trabalhando menos horas do que gostariam e em empregos informais. Com mais gente nesses empregos que pagam menos, o rendimento médio vai cair mais. E as perspectivas de aumento da inflação só prejudicam ainda mais o quadro”, afirma Ottoni, destacando que o setor de serviços tradicionais (restaurantes e bares, setor de lazer e atividades domésticas) possui uma das menores rendas médias, perdendo só para a agricultura.
“Quando as pessoas começarem a conseguir novamente empregos nesses serviços tradicionais, como a renda desse setor é mais baixa, isso provavelmente também vai puxar o rendimento médio para baixo”, destaca.
Para Bruno Ottoni, o aumento da renda real média observada em 2020 foi “artificial”, uma vez que a elevação do indicador é explicada pela maior redução do número de ocupados nas atividades menos remuneradas, principalmente, entre trabalhadores informais e por conta própria do setor de serviços, enquanto trabalhadores com ensino superior e com renda relativamente mais alta foram menos atingidos pelo desemprego.
No segundo trimestre de 2021, segundo o IBGE, cerca de 24,8 milhões de brasileiros se encontravam no grupo do “se vira como pode”, isto é, trabalho por contra própria. Já a soma do trabalho informal chegou a 35,6 milhões – pessoas que não têm carteira assinada (empregados do setor privado ou trabalhadores domésticos), não têm CNPJ (empregadores ou empregados por conta própria) e trabalhadores sem remuneração.
Disparada da inflação achata ainda mais os o espaços para ganhos reais
A consultoria projeta que a taxa de desemprego em 2022 pode ficar acima de 13% dependendo do agravamento da crise hídrica e da piora das expectativas para o PIB (Produto Interno Bruto), taxa de juros e inflação, que atualmente se aproxima dos 10%.
“A inflação corrói os rendimentos e, dada a situação de desaquecimento da economia, a tendência é que as negociações trabalhistas também não sejam muito favoráveis nos próximos meses. E isso tudo deve pressionar para baixo também a renda de quem tem carteira assinada”, afirma Ottoni.
Segundo números da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), 50,5% dos acordos e convenções coletivas realizadas no país entre janeiro e agosto resultaram em reajustes abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado até a data-base. Apenas 22,1% das negociações resultaram em ganhos reais e 27,3% dos reajustes empataram com o INPC.