Um dos elos nas atividades suspeitas no gabinete de Carlos Bolsonaro é Ana Cristina Siqueira Valle, segunda ex-mulher de Jair Bolsonaro.
Ela foi chefe de gabinete do vereador entre 2001 e 2008, ano de sua separação.
Uma empresa aberta por Ana Cristina em 2007, a Valle Ana Consultoria, registrou na conta bancária um total de 1.185 saques que somaram R$ 1,15 milhão em espécie, que podem ser fruto do esquema de “rachadinha” atribuído ao clã Bolsonaro.
Segundo matéria publicada no jornal “O Globo” na quinta-feira (23), a movimentação foi identificada em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em mãos do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), que investiga a prática de rachadinha no gabinete do vereador na Câmara Municipal da capital fluminense.
Os saques em espécie correspondem à metade do valor retirado da empresa entre 2008 e 2014. O maior volume ocorreu em 2008, no primeiro ano de funcionamento da empresa de Ana Cristina, quando R$ 274 mil deixaram a conta em 215 saques. No ano seguinte, foram 168 saques totalizando R$ 194,2 mil. Até 2011, haveria mais 350 saques, em um total de cerca de R$ 352 mil retirados da conta da empresa em dinheiro vivo, de acordo com o relatório do Coaf.
Para o MP-RJ, as “movimentações financeiras atípicas” de Ana Cristina são indícios de que empresas vinculadas a ela “possam ter sido utilizadas para ocultação de desvio de recursos públicos” oriundos do esquema criminoso da “rachadinha”, prática de confisco dos salários de funcionários (fantasmas ou não) de gabinete legislativo.
Além da própria Ana Cristina, pelo menos dez ex-assessores do gabinete que tiveram seus sigilos quebrados por decisão judicial são ligados a ela.
O Ministério Público também aponta indícios de que Ana Cristina controlaria nomeações de parentes como funcionários nos gabinetes de Carlos Bolsonaro, na Câmara Municipal, e de Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Uma dessas ex-funcionárias, Maria José de Siqueira, sua tia, fez um repasse de R$ 30 mil de sua conta-salário para a ex-mulher do presidente enquanto estava nomeada no gabinete de Flávio.