Após ser flagrado com fortuna em dólares em paraíso fiscal, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, declarou que o BC vai continuar subindo a taxa básica de juros no Brasil (Selic) – na contramão do resto mundo. “Estamos mirando 2022”, disse Campos Neto, destacando que “a Selic vai subir quanto for necessário, não vamos mudar arcabouço”, ao se referir à meta de inflação.
Pelo caminho traçado pelo BC, a economia real vai continuar despencando e os brasileiros pagando um preço alto por esta política, com o desemprego atingindo milhões de famílias brasileiras, a queda brutal na renda, a precarização do trabalho e a carestia.
Segundo a prévia da inflação oficial do país (IPCA-15 do IBGE), no acumulado de 12 meses a inflação bateu em dois dígitos, ficando em 10,05%, puxada pelos preços dos combustíveis e energia elétrica, preços administrados pelo governo, que o aumento dos juros não derrubam. O que encarece o preço do combustível é a política de preços atrelada às cotações internacionais do petróleo e ao valor do dólar.
Num quadro de economia estagnada, o BC insiste em manter o aperto monetário, elevando os juros a pretexto de conter uma inflação que não é de demanda. A inflação é provocada, essencialmente, por uma economia que está dolarizada – fazendo com que os brasileiros comprem produtos que são produzidos em abundância no Brasil pagando o preço em dólar, que está cada vez mais caro.
Este quadro é culpa do governo Bolsonaro, que elevou indiscriminadamente os preços dos combustíveis e da conta de luz, por exemplo, e deixou o real se desvalorizar muito frente ao dólar, incentivando que os produtos brasileiros fossem exportados. Como se não bastasse, mesmo diante do déficit de produtos para consumo já que a exportação estava mais atraente, o governo pôs fim aos estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Com a crise hídrica, provocada principalmente por falta de planejamento por parte do governo, por falta de investimentos em outras fontes renováveis de energia, já que a escassez de chuvas no Brasil não é novidade, a conta é repassada para os consumidores, através das tarifas extorsivas.
Como afirma o economista Nilson Araújo de Souza, “a inflação não é de demanda”. “Como a taxa de juros vai influenciar o preço dos alimentos enquanto for cotado em nível internacional? O preço dos combustíveis, que é estabelecido pelo governo com base no preço internacional? A tarifa de energia, que também é cotada pelo governo com base numa indexação ao dólar?”, indagou o economista. “Nesse quadro, combinam-se juros altos com câmbio elevado”, declarou ele, em recente entrevista ao HP, ao combater a decisão do BC de elevar os juros .
Mesmo assim, no final do mês de setembro (22), após Bolsonaro elevar o imposto sobre operações financeiras (IOF), encarecendo ainda mais o crédito para empresas e famílias, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar em mais um ponto percentual a Selic, passando de 5,25% a.a para 6,25% ao ano. Na ata do Copom, o BC sinalizou um novo aumento de um ponto percentual na Selic no final deste mês de outubro, o que elevaria a taxa básica de juros para 7,25% ao ano.