As vendas no comércio varejista tiveram uma queda de 3,1% em agosto na comparação com julho
Apesar da reabertura da economia, as vendas do comércio varejista tombaram 3,1% em agosto na comparação com julho, informou na manhã desta quarta-feira (6) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a queda mais intensa desde dezembro de 2020 e da série histórica da pesquisa para os meses de agosto. Na comparação com agosto do ano passado – quando ainda não havia distribuição da vacina para a Covid-19 no Brasil e a pandemia estava em um de seus picos, a queda foi de 4,1%.
O que explica o comércio estar pior hoje do que no ápice da pandemia é a economia estagnada com uma inflação explosiva, desemprego e subemprego atingindo milhões de brasileiros, a renda em queda e os juros na lua. Essa receita corrói a renda e o consumo das famílias – importante motor da economia.
Diante desse quadro de estagflação, o governo Bolsonaro, através do seu ministro da Economia, Paulo Guedes, diz que a “economia vai voar em 2022”, quando todos os indicadores apontam para mais um voo de galinha. Ontem, o IBGE divulgou o resultado da produção industrial brasileira: uma queda de 0,7% em agosto – são seis meses negativos até agosto no ano.
“A inflação segue pressionando e sendo importante para o indicador. E a retração na renda compromete e retira um poder de compra e uma capacidade de consumo das famílias brasileiras”, comenta Cristiano Santos, gerente da pesquisa pelo IBGE.
Das oito atividades do varejo pesquisadas, seis tiveram queda no volume de vendas em agosto comparado a julho. Sobre agosto do ano passado, foram quatro setores no vermelho. Nesta base ano-a-ano, o destaque foi o tombo de 19,8% na venda de móveis e eletrodomésticos. Apesar de menor, a queda de -4,6% nas vendas de hipermercados, supermercados e produtos alimentícios foi a mais significativa. Isso porque o setor tem o maior peso na composição das vendas do varejo e a queda nas vendas representa redução do padrão de consumo dos brasileiros.
A inflação dos alimentos penaliza os brasileiros há meses ininterruptos. Acumulando alta de mais de 30% em 12 meses, é uma das causas para a população ter cortado ou deixado de consumir alguns produtos, como carnes, pão e leite. Uma pesquisa do Datafolha confirma que neste ano de 2021, 85% dos entrevistados tiveram que fazer cortes ou deixar de pôr produtos na mesa por conta dos altos preços.
“O cliente está gastando menos em termos reais no supermercado do que gastaria anteriormente. Em alguns produtos, pode ter efeito substituição. Deixa de comprar o arroz e o feijão de uma marca para comprar de outra, pode trocar uma carne por outra. Mas acaba tendo no seu orçamento alguma margem para comprar menos também. O que temos são três meses de queda real na receita das empresas desse setor”, comenta Santos a respeito das vendas dos mercados.
Na variação mensal, a maior influência negativa veio do recuo de 16% na venda de Outros Artigos de Uso Pessoal e Doméstico – que vem da atividade das lojas de departamento. Sobre julho, as vendas dos supermercados caíram 0,9%.
As outras quedas nas vendas ante julho vieram do comércio de equipamentos e material de escritório (-4,7%), combustíveis e lubrificantes (-2,4%), móveis e eletrodomésticos (-1,3%) e livros, jornais e papelaria (-1%).
“Hiper e supermercados, assim como combustíveis e lubrificantes, vêm sendo impactados pela escalada da inflação nos últimos meses, o que diminui o ímpeto de consumo das famílias e empresas”, explicou Santos.
Varejo ampliado: 0,0%
Considerando o varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças, além de material de construção, o recuo foi de 2,5% em agosto na comparação com o mês anterior. Sobre agosto do ano passado, a variação foi nula (0%).
“A inflação também continua sendo importante para o resultado, isso fica claro quando se compara com a receita. Também chama a atenção o mercado de trabalho. Teve queda na taxa de desocupação, mas maior ainda na renda. E isso tira capacidade de consumo”, completa Cristiano Santos.