Aumento de salário mínimo não causa desemprego, como afirma o ministro de Bolsonaro
O economista canadense David Card recebeu o Prêmio Nobel de Economia ao demonstrar que o aumento do salário mínimo não gera desemprego, além de ser uma das políticas mais eficientes para impulsionar o crescimento de um país. A premiada teoria de Card contraria o que prega Paulo Guedes, ministro da Economia de Bolsonaro. O Chicago Boy se esquiva da sua desastrosa política econômica que já jogou milhões de brasileiros para a fila do desemprego colocando a culpa no reajuste dos salários, dizendo que o aumento do salário mínimo vai gerar uma crise no mercado de trabalho.
“Quando perguntam se tenho uma política salarial, eu falo assim: O que você quer? Que eu anuncie o salário mínimo para três, quatro anos à frente, dizendo que vai aumentar bastante em termos reais? Se eu fizer isso hoje, eu posso estar estimulando desemprego em massa”, declarou Guedes em 2019, durante entrevista. O pretexto para esfolar os trabalhadores foi rechaçado pelo ganhador do Nobel.
Noutro momento, em plena pandemia, Guedes disse que o salário mínimo não teria reajuste real porque tal política levaria milhões ao desemprego. “A pandemia causa um efeito devastador no emprego. Então hoje, se concedermos um aumento real no mínimo, talvez milhões de pessoas sejam demitidas. Estamos no meio de uma crise de emprego terrível, todo mundo desempregado. Se dermos este aumento, estaremos condenando as pessoas ao desemprego”, disse o dono de uma fortuna de R$ 51 milhões escondida nas Ilhas Virgens Britânicas e que propôs um “vale” de R$ 200 para os 40 milhões de trabalhadores informais no auge da pandemia.
Ao contrário do que diz Guedes, foi justamente sua política econômica de arrocho que levou o Brasil a uma situação sem precedentes: são 14,1 milhões de desempregados, 25,2 milhões de pessoas se virando por conta própria e 36,6 milhões de trabalhadores na informalidade, em meio a uma inflação explosiva provocada pelos preços administrados pelo governo que corroem cada vez mais a renda dos brasileiros.
Aproximadamente 9,5 milhões de pessoas passaram a viver em lares sem renda do trabalho no Brasil do início da pandemia até agora. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que a proporção de famílias sem renda oriunda de atividades profissionais atingiu 28,5% no segundo trimestre de 2021, o que significa que em quase três a cada dez lares, ninguém tem emprego.
São 46 milhões de pessoas que acabam dependentes de políticas de transferência de renda e, na falta de assistência, engrossam os índices de pobreza e pobreza extrema
A matemática básica usada para a teoria do economista canadense é de que quem trabalha também consome. Em uma de suas principais obras, “Myth and Measurement: The New Economics of the Minimun Wage [em português, “Mito e medição: a nova economia do salário mínimo”], Card faz uma investigação detalhada dos efeitos do reajuste do salário mínimo sobre o desemprego e a pobreza. Para isso, se baseou nos trabalhadores menos qualificados de redes de fast-food nos Estados Unidos.
“Os estudos de Card sobre questões centrais para a sociedade e as contribuições metodológicas de Angrist e Imbens mostraram que experimentos naturais são uma rica fonte de conhecimento”, disse Peter Fredriksson, presidente do Comitê do Prêmio de Ciências Econômicas da Academia Sueca.
Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens também foram premiados na segunda-feira (11) com o prêmio Nobel de Economia 2021.