Nelson Marconi diz que tudo isso só piora o cenário. José Oreiro acrescenta que Paulo Guedes está apegado ao cargo e faz qualquer coisa para permanecer
Em meio ao agravamento da crise econômica, provocada pelo desgoverno atual, e à debandada de integrantes da equipe de Paulo Guedes, o Planalto se vê acuado pela insustentável disparada dos preços dos combustíveis e dos alimentos. A inflação, provocada por decisões equivocadas do governo, não para de subir enquanto a renda dos brasileiros está ladeira abaixo.
Como não tem coragem de contrariar os interesses das multinacionais que apregoam com unhas e dentes a continuidade da dolarização dos preços, tanto dos combustíveis quanto dos alimentos, Bolsonaro vem sacrificando criminosamente outros setores da sociedade, cortando investimentos públicos, tesourando verbas de ensino e pesquisa e inviabilizando serviços públicos para seguir subsidiando esses setores.
O resultado é que a escalada dos preços dolarizados de alimentos, gasolina, diesel e gás de cozinha está agravando a crise e provocando a fome e a miséria nos lares brasileiros. A indignação da população se manifesta cada vez mais intensamente nas pesquisas de opinião (veja matéria nesta edição) e os caminhoneiros, vítimas diretas desses aumentos incontrolados, já preparam até mesmo uma nova greve geral para o dia 1 de novembro.
Neste quadro de descontrole total, Jair Bolsonaro mete os pés pelas mãos, pressiona pelo calote nos precatórios e por mais cortes orçamentários. Só pensando em 2022, ele esquece do país como um todo e só se dirige às suas “bases” cada vez mais iradas com sua política. É por isso que ele desmonta programas sociais institucionalizados, como o bolsa família, para criar programas demagógicos e temporários – até a eleição – como “Auxílio Brasil”, com valor mais alto, mas sem nem mesmo a garantia de verbas para a sua sustentação.
Estas atitudes intempestivas de Bolsonaro só provocam ainda mais disparadas do dólar e, com isso, a piora da inflação, dizem economistas. “Furar o teto da forma como se anuncia e mostrar que o compromisso fiscal é zero só piorará o cenário: câmbio, juros, volatilidade e inflação poderão subir juntos. Mas como tudo nesse governo é feito de surpresa, sem planejamento, é o que temos para hoje”, disse o economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas, em seu Twitter.
O professor José Oreiro vai na mesma direção de Marconi e, em entrevista ao HP, nesta sexta-feira (22), afirma que o ministro Paulo Guedes é um carreirista que faz qualquer coisa para permanecer no cargo. “Guedes vai ficar. Ele está apegado ao cargo. As razões, só Deus sabe, e ele. O ministro está disposto a sacrificar qualquer que sejam os princípios que ele dizia que tinha para ficar como ministro da Economia”, afirmou Oreiro, ao comentar a fala do ministro nesta mesma a tarde de sexta-feira (22).