A defesa da privatização da Eletrobrás pelo presidente da estatal, Wilson Ferreira Junior, terça-feira (17), na audiência pública promovida pela comissão especial da Câmara dos Deputados – que analisa o projeto lei que autoriza a “desestatização” da empresa – foi rechaçada pela maioria dos deputados presentes.
Em sua intervenção, o deputado Alessandro Molon (PDT-RJ) defendeu a Eletrobrás e desmontou a farsa do governo Temer que diz que o objetivo é “capitalizar” a companhia.
“Não é capitalização. É privatização!”, afirmou o deputado. “Vamos falar a verdade. Vamos parar de falar eufemismos porque o nome verdadeiro não é aceito pela população brasileira. A população brasileira, que é dona da Eletrobrás, é contra a privatização da empresa e o que se quer aqui é privatizar. Pode se dourar a pílula, se colocar embrulho bonito, mas trata-se de privatização. Não se trata da nova Eletrobrás, se trata da Eletrobrás privada, é isso que se quer”, completou.
Ao dirigir-se ao presidente da Eletrobrás, presente na audiência, Molon enfatizou: “o senhor, presidente Wilson, chegou na empresa há dois anos. A empresa existe há 56 anos. O senhor não vai vender, não vai fazer com ela o que o senhor fez com a CPFL [Companhia Paulista de Força e Luz]. Aqui tem Congresso Nacional, aqui tem Câmara dos Deputados e tem Senado. Nós não permitiremos que isso aconteça, porque nós queremos ter o direito de desenhar uma estratégia de desenvolvimento nacional do Brasil”, disse o deputado, se referindo à privatização da companhia de São Paulo.
E continuou. “O senhor citou exemplos do exterior, mas não disse os países que têm a suas plantas basicamente em cima de hidroeletricidade, nenhum deles tem essas usinas sob controle privado. Pode pegar os 10 maiores exemplos, mas o senhor não disse. Por que o Brasil vai ser o único país do mundo que vai entregar o controle de uma planta que é basicamente hidroelétrica para uma empresa privada? Isso não existe, nem nos países que o senhor citou”.
“O senhor fez uma apresentação que basicamente diz o seguinte: a foto da empresa é linda, ou seja, trata-se de uma grande empresa, mais aí veio a MP 579 e desorganizou as contas da empresa, logo, a solução é vendê-la? O senhor percebe que esse raciocínio não fecha? O problema não está na empresa. Tem alguma regulação errada no setor? Vamos discuti-la, não vender a empresa. Essa não é uma saída”, enfatizou o deputado.
“Aliás, eu fico me perguntando: como é que alguém assume a presidência de uma empresa e depois de dois anos vem diante do povo brasileiro dizer: “olha, a empresa é ótima, mas a única solução é vendê-la”. O que isso está dizendo da sua capacidade, da sua competência como gestor? O senhor está dizendo, no fundo, que o senhor não consegue geri-la”.
“Então é melhor o senhor dizer: ‘eu não quero ser mais presidente da empresa, porque entendo que não consigo dar conta dela’, mas não, vai vender um patrimônio de 56 anos. Não é razoável que se faça isso, muito menos num governo que corre contra o tempo para entregar mais do que se pode antes que ele termine e que seu chefe vá para a cadeia. A pressa é essa. É vender o patrimônio do povo brasileiro antes que os membros do governo sejam presos, porque serão presos. Sairão do governo e irão para a cadeia”.
“Mas eles têm pressa em acabar com o patrimônio nacional e, talvez, auferir os maiores lucros ilicitamente com a venda do patrimônio nacional. Não digo isso a respeito do senhor, não tenho dados para isso, mas posso dizer a respeito do seu chefe, que foi quem o colocou na presidência da Eletrobrás, isso é o que eles querem”, afirmou o deputado Molon.