CPI enviou mentiras de Bolsonaro contra vacinas para inquérito do STF sobre as fake news, pediu a quebra de seu sigilo telemático e o cancelamento dos perfis do falsário
A falsificação de Bolsonaro contra as vacinas, no momento em que elas estão abatendo a pandemia de Covid-19 no Brasil, é um ato de sabotagem aberta à vida das pessoas, à saúde pública e à ciência. Inventar uma aberração como essa, sem nenhuma base, de que as vacinas contra o coronavírus são causadoras de Aids, é coisa de um criminoso, sôfrego pela expansão da doença e a morte das pessoas.
E é exatamente o que Bolsonaro vem fazendo desde o início da pandemia.
CRIME DE EPIDEMIA AGRAVADA COM MORTE
A CPI da Covid está concluindo suas investigações nesta terça-feira (26) com indiciamento de Jair Bolsonaro em 9 crimes. São eles: epidemia agravado pelo resultado de morte; infração de medida sanitária preventiva; charlatanismo; incitação ao crime; falsificação de documento particular; emprego irregular de verbas públicas; prevaricação; crimes contra a humanidade e violação de direito social. Além do capitão cloroquina, foram indiciadas mais outras 77 pessoas.
As afirmações irresponsáveis de Bolsonaro em sua última live vão aumentar a convicção de que ele é um criminoso e elevar a contundência do relatório da CPI contra ele. Simplesmente porque ele ultrapassou todos os limites aceitáveis à convivência humana, à civilização – em suma, desonerou em cima do país toda a sua indigência antissocial e facinorosa.
A CPI decidiu enviar a fala da live contra a vacinação ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e aprovou também a quebra de sigilo telemático de Bolsonaro, além da suspensão de seus perfis nas redes sociais por associação falaciosa de vacinas com Aids.
Em sua cruzada mórbida a favor do vírus, Bolsonaro defendeu desde o início que a população se infectasse o mais amplamente possível, na chamada “imunidade de rebanho”. Combateu as vacinas desde o seu nascedouro. Se dependesse só dele não haveria vacinas e nem máscaras. Agora, que as vacinas mostraram sua eficácia e estão reduzindo drasticamente as internações e mortes por Covid-19, Bolsonaro, num ato criminoso evidente, as ataca como ineficazes e causadoras de doenças – e logo de Aids.
Para sustentar sua campanha por mais mortes, Bolsonaro se baseou num documento falso, divulgado num site paranoico de extrema direita (beforeitnews.com), atribuindo mentiras, falsificações, a relatórios de autoridades britânicas – mera fake news contra as vacinas. O falsário foi desmentido pelo próprio Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido, órgão oficial de combate à pandemia naquele país.
Quando Bolsonaro expeliu essa fake news sobre as vacinas, a falsificação já era conhecida, inclusive na mídia. Ele, portanto, sabia que estava descarregando uma fake news.
Não era (e não é) qualquer fake news. Nesse caso, dizer que as vacinas contra a Covid-19 causam Aids, é a fake news das fake news.
Nem Bolsonaro é algum ignoto debiloide. Ocupa, infelizmente, o cargo de presidente da República do Brasil.
Portanto, duplamente criminoso, na medida em que essa fake news só tem um objetivo: fazer com que pessoas não se vacinem, e, portanto, fiquem doentes ou morram de Covid-19.
Isto, no momento mesmo em que estamos começando a conter a pandemia, graças, exatamente, à vacinação.
MENTIU TAMBÉM SOBRE A CAUSA DAS MORTES
Neste mesmo dia, não satisfeito, Bolsonaro mentiu também sobre a causa das mortes por Covid no Reino Unido. Disse que 70% dos que morreram lá, já estavam completamente vacinados. Quis, com isso, convencer as pessoas que as vacinas não adiantam nada. “Como eu sempre disse”, afirmou Bolsonaro aos seus seguidores. Seu atraso intencional em comprar as vacinas no Brasil e sua campanha contra as medidas sanitárias foram responsáveis, segundo especialistas, pela morte evitável, no mínimo, de 400 mil brasileiros que perderam a vida para a Covid-19.
A falsificação grotesca dos fatos feita por Bolsonaro foi contestada pelo próprio governo do Reino Unido. As pessoas completamente vacinadas – que receberam as duas doses – representaram menos de 1% das mortes por Covid no Reino Unido nos seis primeiros meses do ano, segundo dados do ONS, órgão de estatísticas do Reino Unido. Aqui, no Brasil, também os dados são parecidos e têm essa tendência. Mais de 90% dos mortos, atualmente, são de não vacinados.
A irresponsabilidade – a criminalidade – da declaração de Bolsonaro contra a vacinação é tão estúpida e obscurantista que nem seus aliados se dispuseram a defendê-lo. O deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, por exemplo, ao ser questionado por jornalistas, na segunda-feira (25), não se comprometeu. “Se não tiver nenhuma base científica para isso, ele [Bolsonaro] vai pagar pela declaração”, respondeu o parlamentar, sabendo que Bolsonaro não se baseou em ciência alguma para sustentar o que disse na live.
As próprias plataformas digitais, Facebook, Instagram e Youtube, decidiram banir a live de Bolsonaro das redes sociais por conter “mentiras anticientíficas”. O Youtube derrubou toda a programação de Bolsonaro na plataforma por uma semana. “Removemos um vídeo do canal de Jair Bolsonaro por violar as nossas diretrizes de desinformação médica sobre a COVID-19”, disse a direção do canal. O Facebook e o Instagram também se pronunciaram. “Nossas políticas não permitem alegações de que as vacinas de Covid-19 matam ou podem causar danos graves às pessoas”, disseram as redes.
ENTIDADES REPUDIARAM DECLARAÇÕES
A falsificação de Bolsonaro sobre a relação entre a vacina e a Aids foi considerada gravíssima em todo o mundo. Entidades repudiaram a afirmação de Bolsonaro, repetição de uma falsificação de milícias digitais.
A Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), entidade que congrega os principais imunologistas brasileiros e filiada à International Union of Immunological Societies (IUIS), protestou contra a fala irresponsável e esclareceu que nenhuma vacina desenvolvida contra a COVID-19 pode causar AIDS – e que também nenhuma vacina tem o potencial de transmitir o vírus do HIV.
Em nota, o Comitê de HIV/aids da SBI disse que “não se conhece nenhuma relação entre qualquer vacina contra a COVID-19 e o desenvolvimento de síndrome da imunodeficiência adquirida”. Esclareceu ainda que pessoas que vivem com HIV/aids devem ser completamente vacinadas contra a Covid-19. “Destacamos inclusive a liberação da dose de reforço (terceira dose) para todos que receberam a segunda dose há mais de 28 dias”, diz o texto, endossado pela Associação Médica Brasileira (AMB). “Repudiamos toda e qualquer notícia falsa que circule e faça menção a esta associação inexistente”, completa.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, já havia pedido punição para a mentira do ocupante do Alvorada e solicitou a exclusão de seus perfis nas redes. “Temos um delinquente contumaz na Presidência da República!”, disse Randolfe, informando que seria pedida a inclusão no relatório da fala mentirosa e absurda de Bolsonaro associando a vacina contra a Covid-19 à Aids.
“O presidente é uma instituição, a Presidência é uma instituição. A Presidência não é cargo de boteco em que você fala o que quer, tomando cerveja e comendo churrasquinho. Presidente da República que se reporta ao povo brasileiro baseado em um estudo que não tem cabimento nenhum e fala uma coisa dessas quando estamos implorando para a população se vacinar?”, acrescentou o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI.